Brasil,

Isolamento como estratégia contra a pandemia: consequências e recomendações, na perspectiva da Saúde Mental

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo
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O período de isolamento preventivo recomendado pelo Ministério da Saúde, orientado pela OMS e devido ao risco de adoecimento pelo vírus SARS-CoV-2, ainda não completou dez dias, em regiões metropolitanas como São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, é espantoso como alguns comportamentos já preconizam a enormidade do desafio de enfrentar o que ainda está por vir, sob a óptica do equilíbrio psíquico e emocional.

Como reflexo parcial dos ânimos, que agora estão acuados e em condição de reclusão em ambientes familiares; nas Redes Sociais, onde a fase de afastamento físico começou como uma espécie de feriado prologado (repleto de amizade, humor e certa “socialização digital”), aos poucos, estão aflorando as expectativas, os receios individuais e coletivos sobre a crise na saúde e na economia, e uma série de reações emocionais. Comportamentos que são identificados na recorrência crescente com que são produzidos ataques e críticas, e compartilhadas as conhecidas “fake news”, a cada dia mais violentas. Estas últimas, aliás, tão falsas quanto direcionadas para políticos, personalidades, classes sociais, ideologias, nações, culturas, espécies de animais e quase tudo o que possa ser identificado como “inimigo”, infelizmente.

Ao mudar a rotina, qualquer pessoa vivenciará um período de adaptação e em seguida, irá se familiarizar e interagir com nova realidade, conforme as oportunidades e limitações que ela oferecer. Isso ocorre, por exemplo, durante o início ou logo que as férias acabam. Entretanto, quando as pessoas são submetidas à reclusão, ou ao incentivado isolamento social, como o que vivemos agora, a adaptação as conduz à condição de restrição física e social extrafamiliar, agravada pela pressão emocional decorrente da insegurança sobre o futuro próximo. Nessa nova realidade, identificada como potencialmente desestabilizadora, e influenciada também pela predisposição individual de cada pessoa, as reações psíquicas ligadas à exposição ao estresse emocional, poderão desenvolver quadros indicativos de Ansiedade - não raro expressa em comportamentos descontrolados, repetitivos e agressivos, e à Angústia - potencialmente paralisante e indicadora de quadros mais graves de adoecimento.

O Brasil só começou a enfrentar a pandemia. E para evitar que a adversidade afete a Saúde Mental, estimulando reações indesejadas e adoecimento, as pessoas devem lançar mão de todas as oportunidades de suporte psíquico a que tenham acesso. Mesmo sem auxílio de especialistas, há seis recomendações que possivelmente ajudarão qualquer indivíduo a enfrentar o período de isolamento, com equilíbrio emocional e qualidade de vida:

(1) Mesmo isolado e sem obrigações laborais e sociais, crie rotinas diárias, estabelecendo horários relativamente precisos, independente de necessidade;

(2) Divida o dia em períodos determinados para cada atividade a ser realizada; mesmo que “não haja pressa” e que tudo pareça parado, realize cada operação no tempo estabelecido; e durma em horários regulares;

(3) Alimente-se de forma saudável, fazendo ao menos três refeições ao dia; e dedique ao menos 45 minutos para fazer alguma atividade física, como caminhar pelo apartamento, sentar-se e levantar-se, movimentar braços e pernas, alongar-se, mesmo que moderadamente e conforme as limitações do seu espaço;

(4) Evite a exposição excessiva à mídia e às redes sociais, pois para se informar sobre os acontecimentos mais relevantes, não é necessário submeter-se a mais que duas horas de notícias, e menos ainda à Internet, divididas entre os períodos da manhã e noturno. Expor-se a todo o noticiário e passar horas nas redes irá estimular negativamente a sua ansiedade;

(5) Reflita sobre notícias, informações e converse com as pessoas que moram em sua residência; interagir sobre um fato com um filho ou esposa, por alguns minutos, será mais recompensador que horas de reclamações em redes sociais; e

(6) Identifique situações ou hipóteses que estimulam os seus medos, por exemplo: crise econômica, perda de receita ou salário, doença e violência. É importantíssimo identificar e dar nomes os seus verdadeiros receios, de modo a não transferir as suas preocupações, criando e atacando “inimigos imaginários”. Conversar com as pessoas sobre esses receios, em casa ou através do telefone (aquele “aplicativo” menos usado nos smatphones), pode ser libertador e, certamente, trará excelentes resultados.

Praticar estas ações ajudará no desenvolvimento da imunidade psíquica de cada pessoa, e na consequente resiliência necessariamente desenvolvida durante o período de crise.

Prof. Dr. José Toufic Thomé é Médico pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Psiquiatra e Psicoterapeuta especialista em situações de crises e transtornos da contemporaneidade. Coordenador do Curso Psicoterapia e Intervenção Psicodinâmica em Situações de Crises - Estresse e Trauma, no Instituto Sedes Sapientiae de SP. Presidente da Unidade Brasil da Rede Ibero-Americana de Ecobioética - Cátedra UNESCO de Bioética. Presidente da Secção Psiquiatria em Crises e Desastres da Associação Mundial de Psiquiatria (WPA na sigla em inglês). Membro do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês.


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