Commodities Agrícolas: Acumulado do ano pode ser até 75% menor em 2021
Preços da soja, milho e açúcar voltam a crescer, mas acumulado do ano deve ser menor que em 2020
Em 2020, o agronegócio foi um dos poucos setores que continuaram crescendo, a despeito dos efeitos da crise em diversos segmentos da indústria. De acordo com o Relatório Macrossetorial Anual 2020, divulgado pela Costdrivers, uma plataforma de inteligência de mercado que mede indicadores e analisa projeções para tomadores de decisão dos setores de compras e suprimentos, antes mesmo da Covid-19 eclodir, os preços da soja e do milho já seguiam em aceleração devido à precificação internacional.
O alto volume de exportação, principalmente da soja e do milho, continuou favorecendo a elevação dos preços, agravada pelas restrições de oferta na América do Sul. Já o açúcar, outro componente de destaque na produção nacional, foi o menos afetado em 2020, devido à queda da cotação do petróleo. Mas, com a recuperação dos mercados e a sazonalidade do setor, os preços voltaram a crescer, apesar de ter apresentado o menor acumulado do ano ante a soja e o milho.
Para 2021, o Relatório Macrossetorial da Costdrivers prevê um acumulado de preços mais contido para este ano, com a soja alcançando um máximo de 17,88%, enquanto o milho fica em 21%. O açúcar deve apresentar um avanço de 10,18% até dezembro/2021.
Já em 2020, o acumulado de preço da soja bateu 74,19%, enquanto o do milho alcançou 56,43%. O açúcar ficou abaixo dos 40%, finalizando dezembro com um acumulado de 38,16%. Para Igor Garcia, economista da Costdrivers, o fenômeno La Niña perdeu força desde o final de 2020, mas seus efeitos ainda vêm sendo sentidos, principalmente na safra de milho, devido a chuvas escassas, o que pode contribuir para a elevação dos preços. O aquecimento das exportações também é outro fator importante de sustentação desses repasses.
"Tais expectativas, contudo, estão atreladas à atual condição tributária. Se com a reforma houver aumento de impostos sobre o setor, há riscos de o Brasil perder competitividade nas exportações, além dos preços dos alimentos subirem ainda mais, prejudicando o consumidor final.", avalia Garcia.
De acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o PIB do Agronegócio deve crescer 3,2% este ano, e a produção também deve avançar. Segundo previsão da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção de milho deve avançar 9,1% e a de soja, 10,5%. Se ano passado, o Brasil experimentou safras recordes de soja, milho e algodão, bem como cana-de-açúcar, em 2021 as colheitas também devem se manter acima da média.
"Diante desse cenário, temos uma paridade de oferta e demanda, o que deveria contribuir para a diminuição dos preços. Contudo, as exportações diminuem o estoque nacional, aumentando os preços para o mercado interno e, consequentemente, para o consumidor final, que é a ponta que mais sente essa volatilidade", destaca o economista.
Se por um lado as exportações não podem diminuir, pois são essenciais para manter a balança comercial do país positiva, por outro o corte nas tarifas de importação é uma maneira eficaz de tentar reduzir esses repasses.
A medida do governo, de zerar os tributos sobre importação da soja e do milho até o fim do primeiro trimestre deste ano, ajudou a manter os valores estáveis. Mas, com o retorno das tarifas e o fluxo de exportações, a tendência é que o consumidor continue sentindo o peso na cesta básica.
"A solução para uma redução expressiva dos preços no mercado interno passaria, necessariamente, pela redução de tributos, além da diminuição das despesas públicas. É urgente que as reformas econômicas e tributárias contemplem não apenas os produtores e as indústrias, mas também o consumidor final, que é quem paga a conta", conclui Garcia.
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