“Fala com sabedoria, ensina com amor”
*Wagner Botelho
Vivemos um tempo em que muito se fala e pouco se escuta. Interessante esse contraste com a era da informação, onde temos rápido acesso a muita coisa pela internet e redes sociais, mas ao mesmo tempo fake news ainda fazem legiões de compartilhamentos. Seria por inocência ou ignorância – no sentido de ignorar, não querer ver a realidade?
Ainda em 2015 Humberto Eco já alertava: “o drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia ao portador da verdade”. Foi duramente criticado, massacrado pela mídia, mas será que ele não tem razão? Hoje, somando o impacto da pandemia, vivemos um tempo ainda muito desafiador, que gerou e gera distanciamento, isolamento e perdas. Este deveria ser o tempo favorável para “falarmos com sabedoria e ensinarmos com amor”, conforme nos motiva a Campanha da Fraternidade, baseada no livro bíblico de Provérbios 31, 26.
Esta curta frase, de um escrito tão antigo como este, associado entre os anos 900 e 717 a.C., traz aos tempos atuais significados marcantes. O contexto do livro apresenta várias mensagens objetivas, concisas, com orientações bem práticas, normalmente apresentadas com comparações, contrastes, paralelos. São lições poderosas sobre conduta, linguagem e atitude. Brinquemos um pouco com a frase e todo o complexo que ela atinge:
Fala com sabedoria: falar primeiramente requer escuta, e não apenas ouvir, mas aproximar-se como aquele que quer entender a situação e contribuir de alguma forma, conduzindo à necessária tomada de decisão da parte de quem escutou baseando-se no discernimento. Sendo assim, o resultado não será uma fala qualquer, mas uma com sabedoria, contextualizada, objetiva, assertiva, que convida ao diálogo e faz sentido aos envolvidos, mesmo que no calor do momento não entendam a sua finalidade. Pedagogicamente, conduz todas as partes envolvidas para que sintam e reflitam sobre as fragilidades humanas, às quais todos estão sujeitos. É um posicionamento de quem quer entrar em contato com o outro.
Ensina com amor: ensinar é um ato de agir, ajudar o outro. Educar não é um ato isolado, não é condicionamento, adestramento, é encontro no qual todos são educadores e educandos. É tarefa da própria pessoa, da família, da escola, da Igreja e de toda a sociedade” (texto-base da CF 2022). E o ensinamento indicado pela frase não é qualquer um, mas aquele feito com amor! Nossa linguagem em casa, na rua, no trabalho ou dentro do ambiente escolar deve ser animada e regulada pelo amor. Um provérbio de origem africana diz: “é preciso uma aldeia inteira para se educar uma criança”. Educar é uma ação sagrada!
Nosso compromisso é mobilizar todos os atores da educação – professores, colaboradores, alunos, e famílias – para “colocar no centro de cada processo educativo a pessoa, seus valores, sua dignidade para fazer emergir sua especificidade, a sua beleza, a sua singularidade e, ao mesmo tempo, a sua capacidade de estar em relação com os outros e com a realidade que a rodeia, rejeitando os estilos de vida que favorecem a difusão da cultura do descarte”.
Para mudarmos nossa comunidade educativa temos que testemunhar com nossa vida aquilo que acreditamos. Não é só entregar uma formação, mas cuidar dos resultados no horizonte das capacidades pessoais, morais e sociais dos participantes no processo educativo. É no nosso relacionamento com alunos e famílias, bem como entre nós educadores, que nos educamos, “num intercâmbio dialógico que os pressupõe e, ao mesmo tempo, os supera”.
A escola deve ser um lugar de encontro, de educação integral da pessoa humana por meio do projeto pedagógico que articula cultura, vida e tradições familiares. Buscamos excelência acadêmica na construção de cidadãos respeitosos dos direitos humanos, que caminham em direção a sistemas verdadeiramente inclusivos que protejam nossa casa comum. “Para bem educar, é necessário antes de tudo amar” (São Marcelino Champagnat).
Isto tudo só é possível se nos unirmos e trabalharmos juntos, pois “a mera soma dos interesses individuais não é capaz de gerar um mundo melhor para toda a humanidade”, já diria o Papa Paulo VI.
Que este tempo renove a esperança em todos estes agentes da educação. Um novo mundo é possível se conseguirmos enxergar a nobre missão de educar, mesmo em tempos tão difíceis!
*Wagner Botelho é coordenador de Pastoral do Colégio Marista Glória, localizado em São Paulo (SP).
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