Alunas de escola pública desenvolvem canetões de lousa sustentáveis com extratos vegetais
Produto pode gerar economia de cerca de 98% em gastos com tinta e, ainda, reduzir o descarte dos canetões plásticos no meio ambiente
Três alunas do ensino fundamental da Escola Estadual Afonso Cáfaro, em Fernandópolis, interior de São Paulo, desenvolveram um canetão de lousa ecológico que pode revolucionar o mercado e, ainda, reduzir o descarte dos canetões comuns de plástico no meio ambiente. O produto é feito a partir dos corantes naturais de angico-vermelho, açafrão e o jenipapeiro que, além de tudo, deixam a produção ainda mais barata. A pesquisa, orientada pela professora de biologia Jucimara Uliana, capacitada pelo STEM Brasil, foi apresentada na FeCEESP (Feira de Ciências das Escolas Estaduais de São Paulo).
“Sem dúvidas, a capacitação oferecida pela ONG Educando foi de suma importância e o passo inicial para tudo isso, pois nos despertou a iniciativa de desenvolver pesquisas científicas na escola. A troca de experiência durante a capacitação foi significativa, contribuindo para a formação continuada dos professores”, comenta Jucimara.
O projeto começou em março de 2018, quando a docente constatou um problema: os canetões usados nas lousas de quadro branco e vidro são rapidamente descartados devido ao pouco volume de tinta e ao seu uso contínuo, gerando gastos excessivos para a escola e prejudicando o ambiente por ser pouco reciclável. O preço da tinta refil de um canetão convencional é de R$ 4,90, enquanto a tinta refil feita a partir de extrato de vegetais tem o custo de R$ 0,10, o que geraria uma economia de 98%, caso fosse produzida em uma escola pelos próprios alunos sob orientação de professores.
A pesquisa teve 13 etapas e durou dois anos. A primeira fase começou com a parte teórica, na qual o trio de alunas composto por Agatha Cristina Adamo de Carvalho, Julia Beatris de Oliveira e Nicole Kristiny Santos Nunes realizou uma vasta pesquisa bibliográfica. Depois, elas deram início à fase laboratorial, utilizando o método da maceração em 12 vegetais, incluindo beterraba, couve e hortelã. Esse processo tem a finalidade de retirar princípios ativos de dentro dos vegetais por meio de solventes como acetonas e álcool. Por fim, a equipe concluiu que os melhores vegetais para retirar as tintas são: o angico-vermelho (anadenanthera macrocarpa), o açafrão (curcuma longa) e o jenipapeiro (genipa americana).
Depois de todas as etapas concluídas, foi possível perceber a aplicabilidade da inovação na rotina da escola. Comparando o gasto mensal com o canetão convencional (R$ 813,05) com o do canetão sustentável (R$15,45), a economia é de R$ 797,59. Os gastos com os vegetais não foram quantificados, pois o angico preto e o jenipapo são encontrados em abundância no entorno da escola, assim como o açafrão que está disponível em propriedades rurais parceiras da escola.
“O produto é inovador e de baixo custo. Sua produção em larga escala vai contribuir com o meio ambiente, pois será feito a partir do plantio de árvores, já que para a produção do canetão são utilizados as cascas e os frutos desses vegetais. Então, é uma opção barata e sustentável”, afirma Jucimara.
Segundo a aluna Julia Beatris, a experiência de participar do projeto trouxe muito conhecimento: “A pesquisa abrange questões sociais e globais. Assim, pude aprender os nomes científicos das plantas que utilizamos, como elas são usadas normalmente, os processos da pesquisa científica, entre muitas outras coisas. Aprendi a trabalhar em equipe e tive experiências que levarei para a vida inteira”, comenta.
O objetivo agora é incentivar a produção em larga escala e espalhar essa novidade para outras escolas. “O próximo passo é preparar a ponta do canetão para sair a tinta, pois o extrato ainda está sendo filtrado e a tinta na lousa não está saindo com a coloração intensa que desejamos”, explica Jucimara.
Sobre o STEM Brasil
O STEM Brasil começou em Pernambuco, em 2009, e já capacitou 6.225 professores em 724 escolas de 17 estados brasileiros, alcançando um impacto positivo em mais de meio milhão de alunos (575 mil). O sucesso levou o programa a ser adaptado para o currículo mexicano, e o STEM México foi implantado no país no ano passado. Segundo levantamento da consultoria internacional ManpowerGroup, engenheiros e profissionais de TI são cargos em que há grande carência de mão de obra em ambos os países.
O programa oferece aos professores formação exclusiva, seguindo uma metodologia própria, que enfatiza a mão na massa para dar vida ao currículo obrigatório de ciências e matemática dos estados brasileiros. As técnicas de ensino são baseadas em atividades práticas e facilitam o aprendizado de conceitos teóricos. A formação envolve quatro áreas: física, química, biologia e matemática. Cada professor passa por 180 horas de formação distribuídas ao longo de dois anos. “O objetivo do STEM Brasil é incentivar o professor a despertar a sua paixão nos alunos”, afirma Kelly Maurice, diretora executiva da Educando.
Sobre a Educando
Inspirando Professores > Criando Líderes > Transformando Vidas
Fundada em Nova York em 2002 como World Development and Education Fund (Worldfund), a organização não-governamental passou a se chamar Educando em junho de 2018. Desde o início, trabalha em parceria com governos locais para trazer investimentos de empresas privadas para projetos educacionais na América Latina. Em 16 anos, a instituição já capacitou mais de 13,2 mil educadores no Brasil e no México, com impacto em mais de 5,5 milhões de estudantes.
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