Negócio de impacto social traz inovação, melhora aprendizagem e tira alunos das ruas

A professora Débora Elisa, de 46 anos, trabalha o dia todo como professora. Ela pagava quase R﹩ 300,00 por mês para deixar a filha Vitória, de 10 anos, com uma vizinha quando a menina voltava da escola. Débora e o marido, Laércio, ficavam preocupados com a segurança da filha. Hoje, Vitória é aluna do Alicerce Educação, em Santo André, onde aprende de uma forma diferente nas cinco horas e meia por dia em que fica na unidade. A chegada do Alicerce no ABC paulista mudou a vida de Vitória e outras dezenas de alunos.

O Alicerce Educação está entre os empreendimentos que têm a missão explícita de gerar impacto social ao mesmo tempo em que produzem resultado financeiro positivo, de forma sustentável. Segundo a Pipe.Social, plataforma que mapeia essas iniciativas, a educação ocupa o 3º lugar entre os negócios que trouxeram soluções de impacto social no Brasil. Um estudo feito em 2019 reúne 1002 empreendimentos e mostra que a educação responde por 36%, atrás apenas de tecnologias verdes e cidadania. São iniciativas que trazem soluções para todos os segmentos, da primeira infância ao ensino superior, atuando em diferentes níveis - pais, alunos, professores, gestores e governo. "Temos no país 40 milhões de jovens em situação de vulnerabilidade, e 11 milhões que não estão na faculdade e nem conseguem o primeiro emprego, sendo a falta de qualificação uma das causas desse cenário. É nesse déficit educacional brasileiro que está ancorada a missão do Alicerce", diz o CEO Paulo Batista.

Modelo de educação

O Alicerce Educação oferece reforço escolar para crianças e jovens de 6 a 17 anos, no contraturno, quando eles não estão na escola. Fundado em 2018, já tem 62 unidades no país. Os polos estão em bairros de baixa renda em São Paulo (capital, Osasco, Guarulhos, Sorocaba, Caraguatatuba), Minas Gerais (Belo Horizonte e Contagem) e no Paraná (Curitiba e São José dos Pinhais). Os alunos podem frequentar 3 ou 5 vezes por semana e o custo varia de R﹩ 149,00 a R﹩ 198,00 reais por mês. As aulas são de matemática, português, inglês, programação (com robótica) e descoberta - temas relacionados a conhecimentos como música, literatura, física, astronomia e química. Até a meditação é usada. E a resposta é surpreendente. Na faixa dos 12 aos 17 anos, os jovens aprenderam três vezes mais o que sabiam, em apenas quatro meses, ou seja, triplicaram o conhecimento que tinham em matemática e dobraram em leitura. A melhora foi de 30% em seis meses de intervenção pedagógica.

A metodologia foi desenvolvida pela equipe liderada por Mônica Weinstein, referência no país nas áreas de aprendizagem e cognição. "Procuramos eliminar as barreiras à aprendizagem, sempre com foco no desenvolvimento do aluno. Primeiro entendemos quanto ele conhece, para então elaborarmos um plano personalizado de intervenção pedagógica. São pequenos incrementos diários que, ao longo das semanas, vão melhorando não apenas a aprendizagem, mas ainda seu engajamento e sua autoestima".

Paulo Batista, idealizador do Alicerce, vem de uma carreira no mercado financeiro e como CEO de grandes companhias. Para mudar a realidade da educação e ampliar as chances no mercado de trabalho para alunos das classes C e D, buscou investidores e foi possível montar as primeiras unidades com aporte de 26 milhões de reais, inclusive de empresários engajados na educação. Para chegar à meta de 4 milhões de alunos nos próximos anos, o Alicerce também busca parcerias com empresas e pessoas físicas para apadrinhamento de alunos. Chegando a quase mil alunos matriculados, o Alicerce prova que a aposta foi acertada.