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Após ano marcado por eventos climáticos extremos, debate sobre cidades resilientes é urgente

  • Crédito de Imagens:Divulgação - Escrito ou enviado por  Joana El Khouri
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Fortes chuvas fazem parte do cotidiano do país e do mundo agora. Foto Pexels Fortes chuvas fazem parte do cotidiano do país e do mundo agora. Foto Pexels

Em Belo Horizonte, o volume de chuvas já ultrapassou a média histórica em dezembro em todas as nove regionais

O agravamento das consequências do efeito estufa e do aquecimento global já não são novidade há alguns anos. As grandes secas, as ondas de calor e as fortes chuvas são alguns exemplos de eventos climáticos extremos, resultado desses fenômenos, que assolam a população brasileira todos os anos. Em Belo Horizonte, por exemplo, as chuvas deste mês de dezembro já ultrapassaram a média histórica em todas as nove regionais, segundo a Defesa Civil. A região do Barreiro recebeu o maior volume, com 417,5 mm, o que representa 123,1% da média climatológica esperada que é de 339,1. Em segundo lugar vem a região centro-sul, com 396,4 mm (116,9) seguido pela região leste com 380,0 mm (112,1%).

Em meio à essa realidade, cidades ao redor do mundo são obrigadas a repensar e adaptar seu funcionamento. O I Seminário Transição de Governo e Gestão de Futuro, realizado recentemente pelo Instituto de Planejamento e Gestão de Cidades (IPGC), referência em soluções e planejamento inteligente para gestão urbana, debateu as novas preocupações e prioridades das cidades no momento atual de urgência climática.

Segundo Maraluce Custódio, professora do curso de direito da Escola Superior Dom Helder Câmara e palestrante do Seminário, o aquecimento global e o efeito estufa são fenômenos naturais do planeta, porém, muito devido à ação humana, eles se agravaram e passaram a apresentar perigos para o planeta. “Nós não estamos mais no ciclo natural, nós saímos dele”, afirmou a professora. Maraluce chamou atenção ainda para a importância de profissionais e especialistas da área ambiental para a gestão de cidades. “Nós precisamos de tecnologia e cientistas. Não adianta termos apenas pessoas para tomar decisões da política pública”, ressaltou.

Cidades Resilientes

A capacidade de reduzir e evitar danos e de reagir e suportar um evento climático da melhor forma possível são características de cidades resilientes. Segundo Maraluce Custódio, as cidades resilientes são aquelas que possuem condições de sofrer impactos decorrentes das mudanças climáticas sem criar situações de risco para a saúde e bem-estar da população.

Para atingir esse patamar, no entanto, é necessário um esforço coletivo de órgãos públicos, dos cidadãos e outras instituições. Leonardo Santos, presidente do IPGC, explica que o IPGC Lab é um novo segmento da Instituição que busca desenvolver cidades resilientes, inteligentes e sustentáveis e promover a integração de diversos setores nessa missão. “A cidade tem que contar com mobilização, coordenação, gerenciamento de órgãos públicos e de entidades para que elas possam estar cada vez mais preparadas e saberem o que fazer quando são atingidas por um evento climático extremo.”

Com o objetivo de combater acidentes, incidentes e desastres advindos de eventos climáticos, nascem os centros de monitoramento como o Centro de Operações Rio (COR), que, de acordo com Ana Carla Prado, assessora chefe de planejamento e resiliência do órgão, surgiu após fortes chuvas que atingiram o Rio de Janeiro e Niterói em abril de 2010. Prado também explicou a relevância da aproximação de diversas vertentes de uma cidade em prol do bem-estar da população e do funcionamento pleno de serviços essenciais. “Se a gente não tiver a população, os órgãos midiáticos e grandes empresas abertas a trabalhar com a gente, o governo só não é capaz de resolver”, comentou.

Um bom plano de ação, desenvolvido com inteligência e criatividade, segundo Leonardo Santos, é também fator essencial na resolução de problemas estruturais que são destacados em meio aos fenômenos extremos. “No primeiro momento, a cidade precisa criar um plano de ação climática. Dentro desse plano, é preciso mapear o que já acontece na cidade. Por exemplo, monitorar as áreas que ficam mais inundadas e que estão mais vulneráveis nesses eventos”, explica a coordenadora.

A própria topografia de uma cidade já é, por si só, um agravante muitas vezes. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, segundo Ana Carla Prado, por ser uma cidade costeira, com montanhas e baixadas e ainda ter sofrido ocupação irregular ao longo dos anos, apresenta desafios urbanos complexos.

Belo Horizonte também enfrenta problemas fruto de uma urbanização que não levou em consideração particularidades naturais da área em que foi construída. Por ser circundada por montanhas, a cidade recebe a água escoada após as chuvas. Em sua expansão, a estratégia de canalização de cursos d’água dificultou ainda mais essa vazão, e hoje a população mineira sofre todos os anos com alagamentos.

Ana Carla Prado ressaltou ainda que, além da integração de órgãos e instituições, como acontece no COR, e da atenção à estrutura natural de um território, é necessário monitorar e acompanhar diversos setores de um município. “A cidade é dinâmica, complexa, e tem suas particularidades. A gente não pode abrir mão de olhar para todos os lados, porque eles estão interligados”, completou.


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