O emprego começa em casa!
Especialista em neurociência aponta ensinamentos simples que valem muito no mercado de trabalho
Educar para a vida! Qual pai e mãe nunca ouviu isso? Educar é mirar o futuro. Segundo Luciano Salamacha, especialista em neurociência aplicada à gestão de negócios e RH, a educação recebida em casa é capaz de qualificar as crianças para o trabalho no futuro, preparando-as para lidar com o dia a dia no emprego. Rotinas de uma vida que vão formar o bom ou mau profissional. O escolhido ou o renegado à vaga de trabalho.
Para ilustrar, Salamacha faz uma analogia da educação com os cômodos de uma casa, apontando aos pais os possíveis ensinamentos que se obtém em cada cantinho de um lar, e que serão levados para o futuro profissional. “Não, não é nada maçante. É algo que pode ser feito naturalmente e que vai produzir na criança de hoje um bom padrão de conduta para o amanhã. E quem não quer ter filhos vencedores e felizes?”, exclama o professor.
Na cozinha: o processo de preparo de alimentos, por exemplo, a sequência necessária para se elaborar um prato, a higiene e a qualidade aprovada da comida preparada, bem como a satisfação ou não do resultado final constroem, de maneira natural, a importância de se seguir processos, atenção à qualidade do que se entrega, a necessidade de respeitar o feedback. Além disso, é possível obter a noção de que todos têm a mesma relevância em uma equipe, independe do tamanho ou percentual de participação que um indivíduo tem. Exemplo: ao confeccionar um bolo, a farinha e o açúcar têm forte participação em relação ao fermento, porém como fica o bolo sem fermento? O impacto no resultado é visível e perceptível no paladar.
Na dispensa: o orçamento da família é fortemente afetado pelas compras que realiza, pelos produtos que consome e, principalmente, pelos que não consome. O simples gesto de mostrar aos filhos os alimentos que sobram na prateleira, faze-los contar, por exemplo, quantos pacotes de macarrão têm e quantos são consumidos, os ensinará a realizar melhores compras quando forem ao supermercado. São elementos valorizados pelas empresas: a importância de se controlar estoques de maneira racional, evitar desperdícios, gerenciar orçamento e perceber que as compras devem seguir processos racionais e não serem realizadas por impulso.
Na sala: cada um quer assistir um programa diferente -pessoas disputam o melhor lugar no sofá-, então, surge a necessidade de harmonizar os diversos interesses envolvidos. Dois fortes e valorizados elementos de capacitação exigidos pelas empresas são a capacidade de negociar e de ceder em prol do espírito de equipe, desenvolvidos naturalmente quando os pais aplicam atividades ligadas à solução deste tipo de problemas. O reverso também é verdadeiro: contornar essas situações em vez de gerencia-los pode passar uma noção errada sobre como encarar e resolver problemas de relacionamento.
No quintal: geralmente é um espaço onde são jogadas as coisas completamente inúteis que, via de regra, nunca mais são utilizadas. Cria-se o hábito de acumular coisas, conviver em ambientes desorganizados etc. A correta gestão e descarte de recursos, a manutenção do ambiente limpo, organizado, evitando que materiais e equipamentos fiquem obsoletos ou ocupando espaços sem necessidade fazem parte de uma das técnicas japonesas mais utilizadas em gestão de qualidade no mundo, chamada 5S: Seiri – Utilização; Seiton – Arrumação; Seiso – limpeza; Shitsuke- disciplina; Seiketsu – Higiene.
No quarto: qual é o quarto de um adolescente que apresenta forte organização? Quantas vezes uma mãe não tem que chamar a atenção dos filhos sobre a bagunça onde vivem. As empresas precisam de pessoas que respeitem a rotina, que entendam a importância de arrumar, organizar e manter em ordem um ambiente, ainda que seja onde apenas a pessoa utiliza. É uma questão de profissionalismo e básica no mundo corporativo. Essas imposições corriqueiras refletem o cuidado com os recursos da organização. O mesmo se aplica ao fato de as crianças cumprirem horários como: acordar, se preparar para ir à escola etc.
No banheiro: quais são os pais que nunca bateram na porta do banheiro pedindo para que a criança acabasse o banho? Ou então tiveram que apartar irmãos que brigavam porque um deixou o banheiro totalmente bagunçado para o outro? A capacidade de relacionamento interpessoal está diretamente ligada ao respeito à individualidade e às diferenças. Por exemplo, se o banheiro é coletivo para a família, deixar o ambiente propício para o outro é respeito, é saber conviver em equipe, importar-se com o outro, é saber dividir e compartilhar.
Luciano Salamacha é Doutor em Administração, Mestre em Engenharia de Produção, com MBA em Gestão Empresarial e Pós-Graduação em Gestão Industrial. Além de palestrante, atua como consultor de empresas, preside e integra o Conselho de Administração de companhias nacionais e multinacionais. É professor em programas de Pós-Graduação e Mestrado em instituições de ensino no Brasil, Argentina e EUA. Docente no Instituto Olímpico Brasileiro e na FGV Management, onde foi por sete anos considerado o melhor professor de Estratégia de Empresas nos MBAs, e um dos poucos professores que foram laureados para o Quadro de Honra de Docentes.
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