A fragilidade da classe média e suas consequências para o seguro
Walter Stange aponta, durante o 6º Encontro de Resseguro, os caminhos para o Brasil voltar a crescer
Walter Stange, da ARS Advanced Risk Solutions, à direita, observa o coordenador da mesa e superintendente-executivo técnico da CNseg, Alexandre Leal, ao microfone
Para lidar com a crise financeira mundial de 2008, comparável em tamanho à de 1930, os Estados Unidos injetaram muito dinheiro na economia, inclusive na América Latina, que recebeu o equivalente a 3,7% do PIB da região. Esse investimento foi bem maior, por exemplo, que o feito pelo Plano Marchall, de recuperação do Japão após a 2ª Guerra Mundial, que foi o equivalente a 1% do PIB. Em 2008, a China já vinha crescendo a passos largos, tornando-se uma grande importadora de commodities da América Latina e, independentemente do que diziam Lula e Bachelat, sendo a maior responsável por tirar milhões da pobreza na região e inseri-las na classe média, segundo Walter Stange, da ARS Advanced Risk Solutions, em sua apresentação sobre a fragilidade da classe média e suas consequências para o seguro, no 6º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro.
Atualmente, porém, essa classe média está refluindo e o Brasil encontra-se em crise, apesar do pesado investimento no País. Mas, segundo Stange, isso não ocorre devido a uma falha da teoria do Efeito Multiplicador, de John Keynes, mas a outros problemas.
Antes, de prosseguirmos, porém, vamos entender melhor como funciona a teoria do Efeito Multiplicador:
Ex. Se um industrial decide fazer um investimento de 1 milhão na construção de uma nova fábrica, esse dinheiro vai para as famílias dos construtores e fornecedores da nova fábrica. Essas famílias, então, poupam uma parte - digamos 20% - e gastam os 800 mil restantes em bens de consumo, fazendo essa parte do capital inicial retornar à indústruia, que, mais uma vez, faz esse dinheiro retornar às famílias em salários, lucros e dividendos. Seguindo essa dinâmica, as famílias poupam 20% desse novo montante e retornam 640 mil à indústruia, que mais uma vez faz retorna às famílias, que mais uma vez, retornam à indústria os 80% correspondentes. Em algum monento, então, o total de capital poupado corresponderá ao montante incialmente investido na indústria.
A verdade é que a teoria de Keynes não previa que 10 a 15% do PIB fosse desviado em corrupção, como temos visto por aqui. Além disso, as elevadíssimas taxas de juros, particularmente ainda mais altas no crédito para a compra de bens de consumo, deixaram as famílias muito endividadas e o modelo insustentável.
E, seguindo essa lógica, o consultor da ARS Advanced Risk Solutions prevê que essa crise pela qual o Brasil atravessa atingirá brevemente o resto da América Latina, que também não tem o hábito de poupar e também anda envolvida com a corrupção.
Como exemplo, citou o caso da Alemanha pós-guerra, cuja classe média, para voltar a se desenvolver, demorou 30 anos poupando. Além disso, de acordo com o economista alemão e ex-primeiro ministro da República Federal Alemã, Ludwig Erhard, citado por Walter, foi preciso também um forte incentivo à concorrência, com combate a monopólios e oligopólios, e uma forte estrutura de proteção aos consumidores.
Mas se a poupança é tão importante, “como evitar que essa nova classe média cair na armadilha do crédito fácil?”, indagou o palestrante. “Com educação financeira”, respondeu ele mesmo, “mas não só isso”. A verdade é que, segundo ele, só educação financeira não basta. Países como EUA, Suíça, Suécia, Canadá, França, entre outros, impõem limites aos juros do crédito. Além disso, na Suíça, por exemplo, há mais de 15 seguros obrigatórios, à semelhança de muitos outros países europeus, contribuindo para a proteção de bens básicos. “O sistema de livre mercado funciona, mas precisa de regras. A crise que vivemos não é por causa da globalização, mas justamente por falta dessas regras”, afirmou. Crise que afeta diretamente a indústria seguradora, que vê os prêmios reduzirem e crescer as fraudes em um ambiente de queda de produtividade e aumento dos riscos políticos.
“E quanto à injeção de capital na economia brasileira com a liberação das contas inativas do FGTS? Isso foi positivo?” Indagou o coordenador da mesa e superintendente-executivo técnico da CNseg, Alexandre Leal. “Sim, é positivo, mas o buraco é muito mais em baixo. O equivalente a 8 a 15% do PIB”, respondeu Walter Stange, para quem só conseguiremos superar essa crise quando acabarmos com a corrupção e resolvermos o problema de endividamento da classe média.
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