Quem vai salvar o Brasil?
Empreendedorismo. Essa palavra, que é o quarto principal sonho dos brasileiros conforme o Global Entrepreneurship Monitor (GEM), maior estudo sobre o assunto no mundo, nutre esperanças, dá força à economia e responde ao título deste artigo. Essa capacidade já foi experimentada na prática por muitos e confirmada analiticamente por pesquisadores, entre eles o americano Stephen Silvinski, que descobriu: nos Estados Unidos, a cada ponto percentual de aumento no grau de empreendedorismo, há uma redução de dois pontos percentuais na pobreza dos estados. Isso numa nação que, pela condição de desenvolvimento, é menos empreendedora que países como a Índia e o Brasil, por exemplo. A Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) já identificou que entre os mais ricos, os empreendedores não são mais do que 13% da força de trabalho, em média. Nos demais, esse volume pode atingir os 50%.
Naqueles em que as economias ainda estão crescendo, abrir um negócio surge como uma saída para salvar, antes de tudo, a própria pele. Se estão empregadas e perdem o trabalho, a dificuldade de recolocação conduz as pessoas quase que naturalmente à alguma atividade cuja remuneração se dará de forma autônoma. Prestam serviços, dedicam-se ao comércio ou utilizam a expertise adquirida durante o tempo em que trabalharam para uma organização em consultorias. Evidentemente que essa é uma boa maneira de buscar o próprio sustento e ajudar minimamente a roda da economia a girar. Mas é possível empreender de forma mais sólida, eficiente e duradoura. Ao que alguém poderá perguntar: “Até no Brasil, que é o 59º dos 62 países estudados pelo GEM quando se fala em ambiente favorável aos negócios?”. Sim, até no Brasil.
Para isso, é preciso que passemos por um choque de realidade, uma transformação estrutural que vai nos permitir olhar as iniciativas empresariais de outras maneiras. Não podemos continuar demorando quase 110 dias para abrir uma empresa no país. Nos Estados Unidos, na maioria dos casos esse tempo não supera uma semana, até porque há o entendimento compartilhado até por Barack Obama de que “o empreendedorismo é o motor do crescimento”, como dito num dos últimos eventos dos quais participou na Casa Branca. Sob esta ótica, é difícil entender porque não promovemos reformas mais amplas no sistema empresarial do país, que permitam a redução da burocracia, o aumento da eficiência da máquina pública e a simplificação tributária, por exemplo.
Essa nova forma de enxergar as iniciativas de negócio é um dos primeiros passos para que deixemos de ser um país baseado no empreendedorismo de necessidade (56% dos empreendedores) para termos mais casos de empreendedorismo de oportunidade. Essa modalidade, presente em nações desenvolvidas, permite formar empresas de alto desempenho, com crescimento de 20% ao ano ou mais durante os três anos. O IBGE calcula que de todos os negócios em funcionamento, só 0,7% (33,4 mil) são assim. Apesar do percentual baixo, elas empregam 12% da mão de obra com carteira assinada do país — cerca de 5 milhões de pessoas.
O Brasil necessita tratar do empreendedorismo dentro da sala de aula, desde o pré-escolar, para elevar esses números. Fazer os jovens entenderem que para termos empregos precisamos ter empresas, cujo perfil seja inovador e não sofra com a desmotivação por não estar baseada no tradicional modelo de empreendedores do Vale do Silício — que passa a falsa sensação de que todos os negócios que deram certo saíram de uma garagem, rapidamente. Há riscos, eles têm que ser calculados e nem tudo vai acontecer de uma hora pra outra, mas o mindset correto vai ajudar a salvar o país da crise.
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