Caso Goldman Sachs: Maternidade vira punição no trabalho? Psicóloga responde
Após denúncia de ex-vice do Goldman Sachs, psicóloga explica por que o mercado ainda falha com mães
A denúncia da ex-vice-presidente do Goldman Sachs, Carolina Ragazzi, reacendeu o debate sobre os desafios que mães enfrentam ao retornar ao trabalho depois da licença-maternidade. Além da saudade do bebê e da adaptação à nova rotina, muitas mulheres relatam perda de espaço, desconfiança da equipe, falta de flexibilidade e até episódios de assédio moral.
Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo, fundadora do Instituto MaterOnline, esse processo precisa ser reconhecido como uma fase vulnerável da maternidade. “A mulher volta ao trabalho em um momento de grande carga emocional. Quando não há empatia ou estrutura, os impactos na saúde mental podem ser profundos”, afirma.
Segundo uma pesquisa da Fawcett Society, realizada em 2023, 84% das mães relataram dificuldades emocionais ao retornar ao trabalho, e 40% delas mencionaram a culpa como um sentimento recorrente. Além disso, uma pesquisa recente do Datafolha revelou que 76% dos brasileiros apoiam o aumento da licença-paternidade, e 67% acreditam que pais e mães deveriam ter o mesmo período de afastamento.
O impacto emocional da volta
Júlia Bozzetto, jornalista e mãe de um bebê de sete meses, descreve o retorno ao trabalho como um dos momentos mais desafiadores de sua vida. “Desde que voltei ao trabalho, meu 'castelo de cartas' desmoronou. Me sinto exausta, sobrecarregada e, muitas vezes, triste. Parece que aquele ambiente de trabalho não se encaixa mais em mim”. Júlia conta com a ajuda da sua rede de apoio, formada por familiares, mas a separação do bebê e o cansaço emocional ainda pesam.
Outra mãe, também jornalista, que prefere não se identificar, passou por uma situação semelhante: “No meu primeiro dia de volta ao trabalho, cada colega que perguntava sobre meu filho trazia à tona uma tristeza imensa. Eu chorava a cada menção, porque ainda estava muito conectada emocionalmente a ele. A separação foi brutal, mesmo sabendo que era a única solução no momento”.
Segundo Schiavo, essas experiências são comuns entre mães que enfrentam a difícil tarefa de equilibrar as demandas profissionais com a preocupação constante com seus filhos. “Muitas mulheres sentem que não estão sendo suficientemente presentes na vida dos filhos. Esse sentimento é uma forma de expressar o amor e a preocupação, mas é importante entender que não é um sinal de que algo está sendo feito de forma errada”.
Rede de apoio faz diferença
Uma das maneiras de tornar esse processo menos doloroso é contar com uma rede de apoio, que pode incluir familiares, amigos ou uma creche de confiança. Júlia compartilha como a ajuda de sua sogra, cunhada e marido foi importante para conciliar a maternidade e trabalho. “Sem o suporte deles, eu não sei como teria conseguido. Mesmo com a ajuda, a separação é difícil. Na primeira semana em que voltei ao trabalho, meu bebê ficou doente, e aquilo partiu meu coração”.
A psicóloga enfatiza que, além do apoio prático, o suporte emocional proporcionado por essa rede é fundamental. “Ter uma rede de apoio confiável ajuda a diminuir a ansiedade e a sobrecarga emocional. Muitas mães que não têm esse suporte enfrentam mais dificuldades, o que pode levar até a problemas como ansiedade ou depressão”.
A mãe anônima entrevistada também destaca a importância de uma creche equipada com câmeras, o que permitiu acompanhar seu bebê em tempo real. “Foi uma forma de estar perto, mesmo estando longe. Saber que ele estava sendo bem cuidado me deu paz, embora a culpa e a saudade estejam sempre presentes”.
Ambiente hostil ao retorno
A falta de flexibilidade no ambiente de trabalho é outro desafio frequentemente enfrentado pelas mães que retornam de licença-maternidade. Schiavo aponta que muitas empresas ainda não estão preparadas para lidar com as demandas dessa transição. “O retorno ao trabalho deveria ser gradual, com políticas que permitam a transição de forma mais suave para mães e bebês”. Muitas mães relatam que a ausência de políticas de flexibilidade prejudica o desempenho profissional e emocional. “Essa falta pode aumentar o estresse e a sensação de culpa das mães, prejudicando não apenas suas oportunidades de promoção, mas também o seu bem-estar emocional”, completa.
Além disso, a falta de empatia por parte de colegas e superiores torna o retorno ainda mais difícil. Segundo a Júlia, “muitas pessoas que não têm filhos não entendem o que é ser mãe e como isso muda tudo na vida da mulher. Falta empatia no ambiente de trabalho, e isso torna o processo de retorno ainda mais difícil”.
Em um cenário ideal, de acordo com Rafaela Schiavo, o ambiente corporativo deveria fornecer suporte, como horários flexíveis ou a possibilidade de trabalho remoto, para facilitar a transição de mães que acabam de retornar de licença.
Licenças que ainda não são iguais
No Brasil, há discussões em andamento sobre a ampliação da licença-paternidade, como forma de promover uma maior igualdade no cuidado com os filhos. Atualmente, pais e mães possuem períodos de afastamento diferentes, o que gera desafios tanto no ambiente familiar quanto no profissional. Segundo a psicóloga, “quando pais e mães compartilham responsabilidades desde o início, as mulheres enfrentam menos obstáculos em suas carreiras, enquanto os homens têm a oportunidade de participar mais ativamente no cuidado com seus filhos”.
Ela destaca ainda que a licença-maternidade de 120 dias oferecida por muitas empresas não é suficiente para garantir uma separação saudável entre mãe e bebê. “De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o ideal é que a amamentação exclusiva ocorra até os seis meses de vida. Por isso, a licença-maternidade de 120 dias não é suficiente para garantir esse cuidado”.
Como tornar esse retorno menos doloroso
A psicóloga aponta caminhos para que esse retorno não pese ainda mais na rotina das mães:
- Antecipe uma separação gradual: Deixe o bebê com outras pessoas por algumas horas antes do retorno ao trabalho, para que ambos se acostumem à separação.
- Construa uma rede de apoio: Ter familiares, amigos ou uma creche de confiança é fundamental para reduzir a ansiedade.
- Estabeleça prioridades e respeite seus limites: Não tente ser perfeita em todas as áreas. Respeitar seus limites é essencial.
- Busque apoio psicológico: Caso a culpa e o estresse se tornem intensos, procurar um profissional pode prevenir problemas mais sérios, como a depressão pós-parto.
- Conecte-se com seu bebê no tempo disponível: Aproveite os momentos com seu bebê de forma plena, sem distrações, para fortalecer o vínculo.
Quem é Rafaela Schiavo?
Profª-Dra. Rafaela de Almeida Schiavo é psicóloga perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline. Desde sua formação inicial, dedica-se à saúde mental materna, sendo autora de centenas de trabalhos científicos com o objetivo de reduzir as elevadas taxas de alterações emocionais maternas no Brasil.
Possui graduação em Licenciatura Plena em Psicologia e em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Além disso, concluiu seu mestrado em Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem e doutorado em Saúde Coletiva pela mesma instituição. Realizou seu pós-doutorado na UNESP/Bauru, integrando o Programa de Psicologia do Desenvolvimento e Aprendizagem. Tem experiência na área de Psicologia, com ênfase em Desenvolvimento Humano, atuando principalmente nos seguintes temas: Desenvolvimento pré-natal e na primeira infância; Psicologia Perinatal e da Parentalidade.
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