Inovação na indústria brasileira recuou em 2023, e especialista alerta: falta de investimento pode comprometer competitividade

A taxa de inovação varia de acordo com o porte da empresa. Entre aquelas com 500 funcionários ou mais, 73,6% implementaram inovações. Já nas empresas com 250 a 499 empregados, o percentual foi de 70,8%, enquanto nas que possuem entre 100 e 249 funcionários, a taxa caiu para 59,3%.

Segundo Hugo Ferreira, diretor da MPA Automação e Robótica e especialista em desenvolvimento econômico e tecnológico, aponta que o cenário econômico instável foi um dos principais responsáveis pelo recuo. "A queda está diretamente ligada ao contexto macroeconômico brasileiro em 2023, marcado por juros elevados, instabilidade fiscal e baixa previsibilidade no ambiente regulatório. Esses fatores retraem o apetite ao risco das empresas, principalmente as de médio porte, que são as mais impactadas pela redução de crédito e acesso a capital", avalia.

Outro fator que influencia o cenário é a dificuldade de acesso a recursos internos para inovação. De acordo com a pesquisa do IBGE, 42,1% das empresas inovadoras enfrentaram essa limitação. Além disso, 44,2% citaram a instabilidade econômica como principal obstáculo, enquanto 41,4% mencionaram o acirramento da concorrência. Ferreira explica que a ausência de investimentos em inovação pode comprometer a competitividade da indústria brasileira no mercado global. "A inovação é um diferencial competitivo essencial. Sem ela, nossas indústrias perdem produtividade, eficiência e capacidade de adaptação às exigências dos mercados internacionais", aponta.

A automação e a robótica aparecem como alternativas estratégicas para manter a indústria competitiva. "Elas promovem eficiência, aumentam a produtividade e reduzem falhas operacionais. Além disso, tornam o processo mais previsível e padronizado — um ganho fundamental para mercados que exigem qualidade e agilidade", ressalta o especialista.

Alternativas para driblar o cenário desafiador

Apesar das dificuldades, Ferreira destaca que há caminhos viáveis para manter a inovação ativa mesmo em períodos econômicos instáveis. "A inovação não precisa ser, necessariamente, dispendiosa. É possível inovar em processos, em modelos de negócio, na gestão de pessoas e até no relacionamento com clientes", afirma. Ele também aponta que parcerias estratégicas podem ser uma alternativa. "Programas de colaboração com startups, universidades e hubs de tecnologia são caminhos acessíveis e eficazes. Além disso, o uso de tecnologias modulares e escaláveis ajuda a adaptar a inovação à realidade financeira da empresa."

Embora existam incentivos para inovação no setor industrial, Ferreira avalia que ainda há desafios a serem superados. "Os incentivos existem, mas são pulverizados, burocráticos e, muitas vezes, desarticulados entre si. Precisamos de políticas mais integradas, com foco em resultados práticos e escalabilidade", analisa. A conexão entre empresas e universidades também é apontada como essencial para acelerar a inovação no setor. "As universidades produzem conhecimento técnico e científico que muitas vezes não chega à indústria. Quando unimos pesquisa aplicada ao desafio real do mercado, criamos soluções com alto impacto", destaca Ferreira.

Ele cita algumas iniciativas que podem ser ampliadas, como programas de residência tecnológica, projetos de P&D colaborativos e incubadoras universitárias. "Essas são estratégias já testadas e bem-sucedidas que precisam ser fortalecidas para garantir um ambiente mais favorável à inovação", finaliza.