Como as startups estão inovando com Inteligência Artificial?
A tecnologia vem sendo utilizada em diferentes frentes para resolver importantes problemas no mercado e do dia a dia das pessoas
Não é de hoje que a Inteligência Artificial (IA) ocupa o imaginário das pessoas. Em 1968, Stanley Kubrick já trazia a ideia de um computador capaz de executar sozinho atividades humanas no filme “2001: Uma Odisseia no Espaço”. E mais perto da nossa realidade atual, o longa “Her”, de 2013, mostra o personagem vivido por Joaquin Phoenix se apaixonando por uma assistente virtual, que nada mais é que uma IA. Mas, o que parecia ser uma realidade distante ocupou de vez o dia a dia e, hoje, ela é o centro, em todo o mundo, do que é chamado de Quinta Revolução Industrial.
Uma pesquisa realizada pela Brainy Insights mostra que a receita gerada por serviços de inteligência artificial generativa atingirá US$ 188 bilhões até 2032. E guiando essa revolução, além das gigantes da tecnologia, estão as startups. Se por um lado, segundo a Founders Overviews 2024, 78% das startups brasileiras utilizam IA em seus processos, elas também são responsáveis por lançar novas possibilidades. O estudo Emerging Tech Report 2024 da consultoria Distrito mapeou pelo menos 1005 startups de Inteligência Artificial na América Latina.
Não à toa, há uma celeridade na regulamentação do uso da nova tecnologia. No início do ano, foi aprovada na União Europeia a primeira lei sobre o assunto, o AI Act, e no Brasil, o Projeto de Lei (PL) 2.338/2023 corre com urgência no Senado. Lorena Lage, advogada e CEO do L&O Advogados, escritório especializado em negócios inovadores, explica que embora haja pressa na aprovação, é importante ter cautela. “A IA, como conhecemos hoje, é algo muito novo para todos nós. É preciso entender como ela funciona para que as regras de uso sejam acuradas e realmente beneficiem a sociedade. O PL quer estabelecer normas gerais para o desenvolvimento, a implementação e o uso responsável de sistemas de IA no Brasil, com o objetivo de proteger os direitos fundamentais e garantir a segurança e confiabilidade dos sistemas, do regime democrático e do desenvolvimento científico e tecnológico”, esclarece.
Enquanto isso, a criatividade tem feito com que a Inteligência Artificial seja utilizada para resolver muitos problemas. Inspirado por uma viagem transformadora à Inglaterra, o empreendedor em série Willian Valadão lançou a Dynadok, que vem acabando com a burocracia para diversas empresas. A startup já se destaca no mercado com a proposta de automatizar a validação documental por meio de Inteligência Artificial.
Ao explorar o ecossistema de tecnologia europeu, Valadão identificou uma lacuna na eficiência da análise de documentos e criou uma solução que agiliza processos, reduz custos e elimina os erros manuais, disponível para todos os setores da economia. A Dynadok, que é uma empresa nativa em IA, já é responsável pela validação documental de alguns dos maiores players dos setores de educação e construção no país. “Não só no país, mas a nível global, poucas empresas fazem automação de análise documental de maneira tão abrangente como nós. Enquanto a maioria utiliza RPA [Robotic Process Automation], nós adotamos o IDP [Intelligent Document Processing], que é uma abordagem mais sofisticada e baseada em IA”, explica o CEO da Dynadok.
Se essa versão da tecnologia reduz a papelada, outra possibilidade é seu uso na mobilidade com presença em ônibus comuns do dia a dia. A mineira Empresa 1, um centro de inovação em mobilidade que há quase 30 anos foi responsável por trazer o cartão inteligente para o Brasil, utiliza Inteligência Artificial no transporte público em 92 cidades brasileiras. A aplicação acontece em solução de biometria facial, usada para encontrar fraudes nas identificações de passes livres e outras gratuidades; e também no monitoramento CFTV, em que as câmeras nos ônibus identificam eventos específicos de não conformidade que podem afetar a segurança a bordo, como, por exemplo, motoristas com conduta inapropriada.
Gestão de pessoas mais humana
De maneira geral, há uma preocupação com a IA no que diz respeito à reprodução de discursos machistas, racistas, nazistas e contra minorias. Mas, foi desenvolvida uma solução para Recursos Humanos que vai contra tudo isso e permite o recrutamento e construção de carreiras sem vieses dos gestores e das empresas. A Universidade Corporativa Koru criou a “Koru Magic Works”, uma nova tecnologia que apresenta, de forma objetiva, quais são os pontos de desenvolvimento necessários para que colaborador e marca cresçam juntos.
O CEO da Koru, Daniel Spolaor, explica que ao eliminar o viés relacionado à formação, idade, gênero, raça, orientação sexual, religião e qualquer outra característica socioeconômica, por meio do anonimato dos candidatos, a IA garante um processo de recrutamento justo e transparente e no que diz respeito à evolução do profissional, “ela é capaz de identificar lacunas e oportunidades de desenvolvimento, enquanto outros processos de análise aglomeram os indivíduos em grupos”. Ao revisar a cultura organizacional desta forma, ela ainda combate a crise de motivação no trabalho de forma individual e personalizada.
Economia criativa com IA
Nos últimos meses, a Curta, startup de estratégias de negócios para criadores de conteúdo, passou a investir na internacionalização e exportação de influenciadores. A empresa utiliza tecnologia de clonagem de voz, por meio de Inteligência Artificial, para criar estratégias completas de divulgação de canais de seus influencers com dublagem em inglês e espanhol.
“A ideia não é inserir o vídeo em inglês, por exemplo, dentro do canal brasileiro do influenciador, mas sim criar um canal novo no idioma em questão e toda a estratégia de divulgação em outros países, para que eles possam monetizar também fora do Brasil. Isso abre novas oportunidades de trabalho e parcerias para esses profissionais, que podem alcançar um público ainda maior”, explica Lucas Continentino, sócio-fundador da Curta e responsável pela área de vendas da empresa. A expectativa é que a solução da Curta traga mudanças importantes para o cenário de entretenimento e exportação de conteúdo.
Pensando também nos criadores de conteúdo, a DUX, startup referência em Web3, desenvolveu a plataforma Decentral. Potencializando a descentralização da economia, a nova solução foi criada com o objetivo de ser um ecossistema de finanças completo para influencers. A plataforma utiliza inteligência artificial desde a projeção de crescimento e receitas, até a antecipação de recebíveis com taxas mais baixas que as oferecidas por instituições financeiras tradicionais, envolvendo também a venda de conteúdos futuros, tokenização de propriedade intelectual, entre outros.
“A Decentral representa um grande avanço para a economia criativa digital do país: olha para as finanças dos criadores de conteúdo, oferecendo mais oportunidades como novas formas de monetização, interação e engajamento com a base de fãs. E, mais que isso, contribui para a democratização de acesso de pessoas e empresas na Web3. É uma maneira de facilitar a entrada de criadores de conteúdo no mercado da blockchain e a melhoria de seus negócios por meio dele”, explica Luiz Octávio Gonçalves Neto, CEO e fundador da DUX.
IA Generativa
O “ChatGPT” e outros similares se tornaram aliados de muitos no dia a dia, seja para ajudar na criação de textos, ter ideias, reunir informações sobre determinado assunto ou dar um retoque para uma foto ser perfeita. Esse tipo de IA é chamada de generativa e, de certa forma, foi responsável pela popularização da tecnologia. Mas, a generativa pode ser utilizada para outros fins.
Um bom exemplo é que nem os condomínios estão imunes à IA. Recentemente, a uCondo, startup especializada em plataforma para gestão condominial, criou a Sindy, a primeira assistente inteligente desenvolvida especificamente para facilitar a rotina de síndicos e condôminos. A IA foi preparada para simplificar e esclarecer as dúvidas cotidianas. Além de trazer à tona leis sobre convivência, a IA também reúne e faz análise de regimento interno, para que todos possam entender melhor as regras do seu condomínio e esclarecer tudo aquilo que pode e não pode.
“A Sindy é a solução para as dúvidas urgentes ou em horários impróprios para acionar o síndico. Ela também facilita a aprendizagem dos usuários sobre as regras gerais e do próprio condomínio ao conversar com você, respondendo de acordo com sua linguagem a perguntas pontuais, com um grande diferencial: a personalização por condomínio. Seu uso é muito simples, como uma conversa via WhatsApp, para que seja acessível a qualquer pessoa com um smartphone”, destaca o CEO da uCondo, Marcus Nobre, mostrando que a Inteligência Artificial já está na palma da mão.
IA no setor imobiliário
Quem está à procura de imóveis já dever passado por alguma situação frustrante de experiência do usuário, de ao entrar em contato com uma imobiliária ou incorporadora, receber mensagens automáticas, sem nenhum tipo de personalização e que nem atendesse suas necessidades. Foi pensando em melhorar esse processo, que a Morada.AI, startup especializada em soluções de Inteligência Artificial para o setor imobiliário, desenvolveu a Mia, permitindo interações reais e dinâmicas, indo além de fluxos pré-programados, diferente de assistentes tradicionais.
“A Mia se comunica fluentemente em qualquer idioma, entende áudios e textos, e usa gírias de forma natural, fazendo com que poucos percebam que estão falando com uma IA. Isso eleva nosso atendimento e nos diferencia no mercado. Já trocamos mais de 12 milhões de mensagens, conectando incorporadoras e clientes de forma ágil e personalizada, 24 horas por dia. A Mia facilita a compra e venda de imóveis, simulando investimentos, sugerindo planos de pagamento, enviando documentos para aprovação de crédito e coletando informações. Ela agenda visitas, filtra as necessidades dos clientes e, quando há engajamento, os encaminha a corretores humanos”, comenta Ramon Azevedo, fundador e CEO da Morada.ai, que está presente em 17 estados e é usada por grandes incorporadoras como Direcional, Cyrela e Patrimar e já realizou projetos de IA para empresas como McDonald's, Itaú e C&A.
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