Carreira de influenciador: sonho de milhões, sucesso de poucos
Autor: Virgilio Marques dos Santos, sócio-fundador da FM2S Educação e Consultoria
Uma pesquisa realizada pela Morning Consult revelou que 86% de pessoas entre 13 e 38 anos nos Estados Unidos preferem se tornar influenciadores digitais ao invés de seguir carreiras tradicionais. No Brasil, o cenário não é muito diferente. O sucesso de figuras como influenciadores em plataformas como YouTube, TikTok e Instagram parece promissor: milhões de seguidores, parcerias lucrativas e a ilusão de uma vida repleta de glamour.
Entretanto, o que muitos jovens ignoram é que o sucesso nesse mercado é exceção, não regra. Para cada influenciador que conquista a fama e a fortuna, há milhões de outros que enfrentam a dura realidade de um mercado saturado, onde apenas poucos conseguem se destacar.
Essas plataformas criaram uma cultura em que qualquer pessoa, em teoria, pode se tornar famosa e rica. Uma pesquisa da Ypulse indicou que 75% dos jovens da Geração Z acreditam que é possível transformar a criação de conteúdo online em uma carreira de sucesso. Porém, essa crença não condiz com os dados reais do mercado.
De acordo com o Business Insider, apenas 3% dos influenciadores conseguem monetizar seu conteúdo a ponto de viver exclusivamente dessa atividade. Ou seja, enquanto milhões de jovens tentam a sorte criando conteúdo, a maioria não consegue se sustentar dessa forma. A competição é feroz e o mercado de influenciadores é um jogo de poucos vencedores.
A ilusão do sucesso fácil e seu efeito na saúde mental
Um dos maiores riscos que esses jovens enfrentam é a ilusão de que se tornar um influenciador é um caminho rápido para a fama e a fortuna. O algoritmo das redes sociais favorece os extremos: aqueles que rapidamente acumulam seguidores com vídeos virais ou aqueles que já entram com uma base sólida, muitas vezes por meio de outros recursos, como dinheiro, contatos ou mesmo sorte.
Essa ilusão de "sucesso fácil" pode ter consequências sérias. Jovens investem horas diárias criando conteúdo, muitas vezes em detrimento de outras atividades, como estudos ou trabalho, acreditando que estão a um passo de "viralizar". O problema? A realidade mostra que o sucesso é muito mais imprevisível e raro. Dados da HypeAuditor indicam que mais de 60% dos influenciadores no Instagram ganham menos de US$30 por mês com sua atividade.
Muitos desses jovens esquecem que, para cada influenciador milionário, há milhares que lutam para se destacar, muitas vezes sem sucesso. A ideia de que "qualquer um pode ser influenciador" esconde a dura realidade de um mercado saturado, onde a falta de uma estratégia clara e consistente pode levar ao fracasso.
Além do risco econômico, há também o impacto emocional. A busca incessante por seguidores, likes e validação pode trazer sérios prejuízos à saúde mental. Um estudo realizado pela Royal Society for Public Health mostrou que as redes sociais, apesar de promoverem a interação, também estão associadas ao aumento da ansiedade, depressão e baixa autoestima, especialmente entre os jovens.
A expectativa de alcançar o sucesso a qualquer custo, somada à comparação constante com influenciadores já estabelecidos, cria um ciclo de frustração e ansiedade. Quando o reconhecimento esperado não chega, esses jovens podem sentir que falharam em uma jornada que parecia acessível e promissora.
A realidade do mercado de trabalho e a busca pelo equilíbrio
Enquanto milhões de jovens sonham em ser a próxima grande estrela das redes sociais, o mercado de trabalho tradicional continua a oferecer oportunidades sólidas e mais previsíveis. Carreiras em Tecnologia, Engenharia, Saúde, Educação e outros setores seguem sendo essenciais para a economia global.
Estudos da McKinsey revelam que, nos próximos anos, carreiras ligadas à inteligência artificial, análise de dados e sustentabilidade serão algumas das mais promissoras, com alta demanda e boas remunerações. No entanto, muitos jovens têm ignorado essas oportunidades em favor de uma "carreira de influenciador", muitas vezes sem se preparar para a dura realidade desse mercado.
Uma pesquisa da Harvard Business Review mostrou que, enquanto 70% dos jovens que se tornam influenciadores acabam desistindo em menos de um ano, profissões ligadas à Tecnologia e Saúde apresentam alta taxa de estabilidade e crescimento.
Como, afinal, encontrar um equilíbrio para a carreira?
A criação de conteúdo online não precisa ser vista como algo isolado ou única opção, mas como uma habilidade complementar. Jovens podem usar suas plataformas para construir uma presença digital, enquanto desenvolvem outras competências e carreiras. Influenciadores de sucesso como Nathalia Arcuri, por exemplo, usaram suas formações acadêmicas e experiência de mercado para criar conteúdo de valor, diferenciando-se no meio digital.
A chave para o sucesso sustentável é diversificar as apostas. O mercado de trabalho valoriza cada vez mais profissionais híbridos — aqueles que conseguem combinar conhecimentos técnicos com habilidades de comunicação e criação de conteúdo. É possível explorar o mundo digital sem abandonar a construção de uma carreira sólida em setores mais tradicionais, mas é preciso esforço e busca contínua de conhecimento, mantendo o pensamento a longo prazo.
Virgilio Marques dos Santos é um dos fundadores da FM2S, gestor de carreiras, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. TEDx Speaker, foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.
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