COP 28: membro do IPCC traz balanço dos principais debates levantados nos primeiros dias de cúpula
Dr. Carlos Sanquetta, especialista em mudanças climáticas e crédito de carbono fala sobre principais desafios da conferência
O evento que acontece em Dubai, nos Emirados Árabes, está previsto para ter uma duração de aproximadamente duas semanas, se encerrando no dia 12 de dezembro. A COP 28 desempenha um papel de destaque nas iniciativas globais de combate às mudanças climáticas, uma vez que se tornam cada vez mais comuns eventos climáticos extremos, tanto no Brasil, quanto em todo o mundo. Como resultado, representantes diplomáticos de 200 nações e vários líderes governamentais participam da conferência. Para Carlos Sanquetta, membro do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), vinculado à ONU, e também delegado pelo Brasil na COP 28, uma das maiores surpresas do evento até o momento foi o anúncio de um recurso de US$ 400 milhões - equivalente a R$ 1,97 bilhão - para os países que já enfrentam os impactos mais significativos das mudanças climáticas. Recursos adicionais de US$ 500 milhões também estão em fase de proposição, o que aumentará o aporte financeiro para a adaptação climática.
"O chamado 'fundo de perdas e danos', foi criado para ajudar as nações que já sofreram com as mudanças climáticas de alguma maneira, como inundações, alagamentos, perdas econômicas ou sociais", explica o especialista em mudanças climáticas. Ele também destaca a participação do estado do Mato Grosso do Sul, que demonstrou bastante foco em solucionar a emissão de gases e trouxe soluções interessantes. O governo do estado apresentou durante a COP 28 uma inovação em formato de banco de dados. O sistema Carbon Control é uma plataforma que será empregada para coletar dados sobre as emissões de GEE provenientes de diversos setores, e uma resposta à uma resolução publicada pela Semadesc anteriormente, que passava a exigir a apresentação do inventário de gases de efeito estufa para os empreendimentos que necessitam de licenciamento ambiental.
Para Sanquetta, o estado do Mato Grosso do Sul em particular, apresenta grande interesse em apresentar soluções por ser um local com histórico de uso e ocupação do solo e o tamanho do seu rebanho bovino. "O Mato Grosso do Sul é um estado que tem bastante emissão do setor rural, do setor agrário, com a produção agropecuária e também pelo próprio histórico de conversão da vegetação original por usos agropecuários, além das queimadas na região do Pantanal. Desta maneira, é um estado que precisa apresentar soluções tecnológicas e inteligentes para as emissões de carbono", explica.
Outro ponto importante da COP 28, segundo Sanquetta, foi a participação de John Kerry, ex-vice-presidente americano. "Kerry é bastante participativo nesse processo e agora também é o assessor especial para a questão climática nos Estados Unidos. Ele deu uma declaração muito importante para o mercado de crédito de carbono durante a COP, dizendo que esse mercado se tornará o maior em todo o mundo, mostrando a força que os créditos de carbono têm para alavancar a economia, a tecnologia e o desenvolvimento de alternativas sustentáveis, fazendo parte de uma solução climática global", relatou o professor.
Sanquetta mantém uma intensa agenda com negociadores e membros das delegações do Brasil e de outros países para que os mecanismos do mercado de carbono possam ser regulamentados por meio do Acordo de Paris e também no nosso país.
Sobre Carlos Sanquetta (@drsanquetta)
Carlos Sanquetta é pesquisador e professor universitário com 38 anos de experiência profissional, especialista em Mudanças Climáticas e Mercado de Carbono. É Ph.D. em Ecologia e Manejo de Recursos Florestais (Japão) e em Manejo Florestal e Mudanças Climáticas (Portugal). Sanquetta também desenvolve um importante trabalho no cenário internacional como integrante do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês). Além disso, é representante do Brasil na International Organization for Standardization (ISO) e autor de mais de 30 livros e mais de 50 artigos científicos. Hoje, além de professor titular da Universidade Federal do Paraná (UFPR), cargo que exerce há 29 anos, Sanquetta também atua como educador digital sobre o mercado de créditos de carbono e já soma cerca de 1.500 mil profissionais capacitados para atuar nesse âmbito. Além da experiência acadêmica, o paranaense também atua de forma prática no mercado com a elaboração de inúmeros inventários de emissões de gases de efeito estufa e projetos de créditos de carbono.
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