Estou com um problema de saúde bucal, posso doar sangue?
Especialistas orientam sobre os cuidados odontológicos antes da doação sanguínea
Com os bancos de sangue quase sempre em situação de alerta, a campanha Junho Vermelho surge para reforçar na sociedade a importância da doação, oferecendo à população aquilo que ela mais precisa: informação.
Seja por medo ou desconhecimento, muitas pessoas aptas à doação não chegam sequer a procurar um hemocentro e, com isso, a luta dos serviços de Saúde se torna ainda mais difícil. Pensando nisso, o Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) trouxe o assunto para mais perto da Odontologia, esclarecendo, com especialistas, que é possível fazer esse gesto de amor ao próximo seguindo as orientações corretas.
“Uma doação representa a esperança de pessoas em condições delicadas de saúde, como vítimas de acidentes ou de grandes queimaduras, pacientes com câncer, em cirurgia ou com hemorragias, além de hemofílicos e anêmicos, por exemplo. Como profissionais da Saúde, temos papel fundamental em incentivar nossos familiares e pacientes a doarem sangue”, defende o cirurgião-dentista Keller De Martini, integrante da Câmara Técnica de Odontologia Hospitalar do CROSP.
Já se sabe, por exemplo, que com uma única bolsa de sangue é possível salvar até quatro vidas, mas é preciso estar atento às indicações antes de doar. No caso dos pacientes odontológicos, não há uma definição geral entre as instituições públicas brasileiras de hemoterapia para procedimentos dentários. Ainda assim, a sugestão é observar as condições de saúde bucal para garantir uma situação segura ao doador e aos beneficiários do material biológico coletado.
Isso acontece porque a cavidade bucal é composta por um ambiente naturalmente microbiano. “A boca e a gengiva possuem extensa vascularização na mucosa e, durante procedimentos odontológicos moderados ou complexos, há a possibilidade de bacteremia transitória (quando a bactéria sai de um lugar, como a boca, e vai parar na corrente sanguínea). Em tese, essas bactérias orais não causam problemas, mas elas podem ir para dentro da bolsa da coleta de sangue e levar a uma contaminação”, detalha De Martini.
Para Sidney das Neves, cirurgião-dentista e membro da Câmara Técnica de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do CROSP, “estar com a saúde bucal em dia sempre é condição sempre desejada, principalmente porque diversas alterações sistêmicas podem começar a partir de um foco infeccioso intraoral, afinal a saúde começa sempre pela boca. Mas, como nem todos têm a chance de realizar exames antes da doação, normalmente, os hemocentros definem alguns prazos restritivos para aqueles que passaram por procedimentos com potencial de contaminação”.
O tempo de resguardo costuma ser proporcional ao tipo de tratamento dentário realizado, como sugerem os especialistas:
Profilaxia, tratamento endodôntico, preparo de coroa dental: 24 horas;
Extrações e tratamento de canal sem sangramento posterior: sete dias ou mais, conforme período de uso de medicação;
Cirurgia odontológica com anestesia geral: quatro semanas;
Colocação de piercing na boca: 12 meses;
Cárie e ajuste de aparelho ortodôntico: de 24 a 72 horas, sendo o tempo mais longo no caso de sangramento;
Implantes: 30 dias, desde que o paciente permaneça assintomático.
“Se o doador perceber algum problema bucal, deve procurar um cirurgião- dentista antes para a avaliação e eliminação de qualquer foco que possa impedi-lo de doar sangue”, reforça De Martini. Então, doar sangue quando se tem problemas de saúde bucal é possível sim, desde que a questão oral seja avaliada e cuidada antes da doação.
Do sangue coletado para a Odontologia
Além dos pontos de atenção levantados pelos cirurgiões-dentistas, que podem ser resolvidos com a atuação de um profissional de Saúde Bucal, a Odontologia também se beneficia do produto final das doações sanguíneas. A exemplo disso está o enxerto ósseo com plasma rico em plaquetas ou plasma rico em fibrina que “ajuda a acelerar a cicatrização de cirurgias odontológicas e promove a formação de novo tecido ósseo, principalmente nos implantes dentários”, completa De Martini.
Sobre o CRO-SP
O Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP) é uma autarquia federal dotada de personalidade jurídica e de direito público com a finalidade de fiscalizar e supervisionar a ética profissional em todo o Estado de São Paulo, cabendo-lhe zelar pelo perfeito desempenho ético da Odontologia e pelo prestígio e bom conceito da profissão e dos que a exercem legalmente. Hoje, o CROSP conta com mais de 145 mil profissionais inscritos. Além dos cirurgiões-dentistas, o CROSP detém competência também para fiscalizar o exercício profissional e a conduta ética dos Técnicos em Prótese Dentária, Técnicos em Saúde Bucal, Auxiliares em Saúde Bucal e Auxiliares em Prótese Dentária.
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