COVID-19: como as emoções têm afetado os pacientes reumatológicos
Especialistas trazem uma perspectiva sobre os efeitos da pandemia em pessoas portadoras de doenças reumáticas
A Dra. Camille Figueiredo, pesquisadora e médica reumatologista na Cobra Reumatologia, e o Dr. Daniel Cruz, psiquiatra, falam sobre como estão as emoções e novos hábitos das pessoas com a pandemia da COVID-19 e elencam principais fatores de sofrimento, trazidos pelo isolamento, para pacientes reumatológicos.
Para Daniel, de um ponto de vista psiquiátrico, as emoções têm diversas variações, mas o significado mais comum são reações cognitivas e físicas a algo externo ou interno. Podendo beneficiar ou prejudicar tanto a saúde mental, quanto a física. Diante disso, o especialista ressalta as emoções que atuam como gatilhos nos dias de hoje.
Estamos engessados, confinados em casa. Lidamos com as mesmas emoções sucessivamente. Se lembrarmos do desenho animado Divertidamente, provavelmente, estamos lá na cor vermelha (a raiva), ou no azul (o medo) o tempo inteiro. Sendo assim, todo esse contexto de pandemia nos deixou monocromáticos. – Dr. Daniel Cruz
Muito além do contexto psicológico, também há o panorama clínico de pacientes que convivem diariamente com doenças reumatológicas e podem ser seriamente agravados. Dra. Camille ressalta que estudos apontam que os portadores de doenças reumatológicas apresentam mais queixas que outras pessoas e ainda ressalta que reclamações como dificuldade para dormir, cansaço, fadiga constante, rigidez muscular, sono não reparador e emoções negativas foram ainda maiores durante o isolamento, intensificando queixas de dores que são bastante comuns nesses pacientes.
Nas pesquisas em geral e nas minhas próprias experiências clínicas, podemos identificar que no começo da pandemia, muitos pacientes, de 20% a 30%, pararam com a medicação, pois estavam com medo da doença até então desconhecida. Quando essa interrupção cessou e as medicações voltaram a ser tomadas, todos esses sintomas diminuíram significativamente. - Camille Figueiredo
Para os dois especialistas, um dos maiores motivos para a problemática é que a angústia do isolamento social, e pior o confinamento, trouxe tantas preocupações que os sintomas atingem o físico e vice-versa. Os motivos de adoecimento são os mais diversos: preocupações financeiras, o medo da morte iminente, má qualidade do sono, a mudança de comportamento (máscara, álcool em gel, entre outros), adiamento dos sonhos, quantidade enorme de informações, imprevisão do fim deste momento e, também, a possibilidade de não se despedir de um ente querido.
Como isso está se refletindo nos pacientes? As pessoas estão mudando de hábitos começando a suprir as frustrações com alimentos, bebidas alcoólicas, cigarros e atividades que geram sedentarismo. No ponto de vista da doutora Camille este é um estado constante de alerta para os profissionais da saúde, que precisam adotar uma postura de acolhimento deste paciente, uma vez que essas mudanças podem prejudicar ainda mais seu quadro clínico.
O excesso de peso pode contribuir com as dores, o álcool aumenta os índices de ácido úrico que se transformam em cristais, se alojam nas articulações, causando inflamações. Todos esses fatores pioram o processo inflamatório, bem como o tabagismo.
Tanto para a doutora Camille, quanto para o doutor Daniel, o importante é fazer com que esses pacientes enfrentem a pandemia sem que as saúdes física e mental sejam abaladas, principalmente quando ouvem sobre esses comportamentos destrutivos: “é tudo que tenho”.
A solução para os especialistas é tentar suprir as necessidades com outros hobbies. Além disso, é necessária, mais do que nunca, a individualização dos casos e entrar em um processo de redução do que, provavelmente, virou um vício. Os profissionais devem incentivar o uso contínuo dos medicamentos para que o tratamento não seja interrompido.
Ainda, as atividades físicas, mesmo que limitadas dentro de casa, podem ajudar neste processo da volta ao antigo normal, para que as pessoas não caiam em ciladas que possam prejudicar o tratamento e agravar o quadro reumático. Uma equipe de especialistas pode fazer um excelente trabalho para alcançar a reeducação desses pacientes.
Sobre a doutora: Formada pela Universidade do Estado do Pará (1998), Camille Pinto Figueiredo é responsável pelo braço acadêmico da Cobra Reumatologia. Com residência e doutorado realizados no Hospital das Clínicas (FMUSP) e pós-doutorado pela Friedrich-Alexander-University Erlangen-Nuremberg (Alemanha), Camille é médica e pesquisadora, dedicando-se, sobretudo, aos estudos sobre metabolismo ósseo e HR-pQCT. Em virtude de suas pesquisas, Camille foi congratulada com quatro prêmios, dentre eles, atribuídos pela Sociedade Brasileira de Densitometria Óssea, juntamente com outros pesquisadores: “Prêmio Antônio Carlos Araújo de Souza em Densitometria Clínica” (2008) e “III Prêmio de Incentivo à Pesquisa em Osteoporose e Osteometabolismo” (2011).
Sobre o doutor: Médico formado pela Universidade Estadual do Pará. Psiquiatra pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Membro da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) Especialista em Dependência Química pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Educador sexual pelo Centro Universitário Salesiano de São Paulo (UNISAL) Mestre em Psiquiatria pela Universidade de Londres (King's College).
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