Casos da Covid-19 já mostram desaceleração em alguns lugares do mundo
José Pena*
Na semana passada, o presidente Trump não apenas reconheceu que sua ambição de retorno à normalidade logo após a Páscoa era impraticável, como sinalizou que as medidas mais severas de isolamento social devem se prolongar até pelo menos o final deste mês de abril. Em meio à pandemia da Covid-19, os EUA, e virtualmente qualquer outro lugar do mundo, se defrontam com o dilema de tentar controlar o ritmo de avanço das infecções, que naquele país, já somavam mais de 335 mil ao final do domingo (5), ao custo de um enorme impacto econômico. Neste caso, ele pode ser medido, por exemplo, pela explosão dos pedidos de auxílio desemprego, que nas duas últimas semanas apenas, alcançaram quase 10 milhões.
Como se espera que o pico no número de novos casos diários ocorra exatamente nestes próximos dez dias, talvez os EUA possam cogitar um retorno gradual de sua atividade a partir de maio. E esse é um talvez recoberto de grande incerteza, como demonstram Itália e Espanha, que já deixaram seus respectivos picos diários para trás há mais de uma semana e ainda parecem distantes, mesmo assim, de relaxarem suas quarentenas bastante restritivas.
No Brasil, embora o número absoluto de casos ainda seja uma fração dos registrados nos EUA, em termos relativos nosso dilema não é menor. De um lado, porque a despeito das evidências de subnotificação do número real de infecções, os casos diários confirmados já estão na casa do milhar e podem mostrar aceleração nos próximos dias. De outro, porque os primeiros indicadores quanto ao impacto econômico da pandemia e de suas medidas de controle, embora ainda localizados, já se mostram bastante significativos.
Tome-se como exemplo o indicador Cielo de vendas nominais do varejo. À medida em que as medidas de distanciamento social se tornavam mais restritivas e eram aplicadas em um número maior de estados, os dados do comércio mostravam uma deterioração simultânea e bastante expressiva, conforme mostra o gráfico abaixo.
Os destaques na agenda econômica desta semana no Brasil são a esperada aprovação pelo Senado da chamada PEC do Orçamento de Guerra (já votada pela Câmara Federal), que libera o Executivo das amarras da Regra de Ouro e da Lei de Responsabilidade Fiscal para poder ampliar as medidas de mitigação da crise econômica. Na 5ªa-feira, o IBGE divulga o IPCA de março, o último com variação positiva antes de dois meses (abr-mai) em que provavelmente serão registradas variações negativas (deflação). No exterior, as atenções estarão voltadas para uma reunião entre os principais produtores de petróleo, que buscam um acordo para reduzir a oferta do produto em meio ao colapso da demanda e que trouxe os preços de US$ 60/barril ao final de 2019 para os atuais US$ 25.
*José Pena é economista-chefe da Porto Seguro Investimentos.
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