Aquecimento do mercado imobiliário fortalece procura por alternativas de baixo custo
Com imóveis que chegam a custar a metade do valor de mercado, cooperativas habitacionais ganham espaço para quem busca a casa própria
Ainda que os percalços sociais e econômicos deflagrem uma situação habitacional conflituosa, a cultura da casa própria é algo bastante característico no Brasil, e cresce o número de famílias que priorizam a compra do seu imóvel. Mesmo em um momento inseguro, onde o País vive a crise da pandemia da Covid-19, alguns fatores contribuem para esta busca e realização. Os principais são a baixa da taxa de juros de financiamento, a necessidade de sair da instabilidade do aluguel e o potencial de valorização do imóvel.
Segundo levantamento da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) mostra crescimento do setor imobiliário desde o mês de julho, quando o País teve 58% a mais de venda de novos imóveis com relação ao mesmo mês no ano passado. A tendência é de que o aquecimento deve se manter em 2021, já que nos próximos 12 meses cerca de 95% dos empresários do setor planejam fazer novos lançamentos ou investimentos.
Em São Paulo, julho, agosto e setembro foram os meses em que houve maior comercialização de unidades residenciais novas. Agosto teve a maior movimentação, com 6.350 imóveis vendidos. Julho registrou 4.341 e setembro 5.417, mostrando a curva de tendência de evolução e o setor comemora a retomada das vendas após um momento delicado e duradouro, antes mesmo da pandemia. Com 973 autorizações para novos empreendimentos verticais nos últimos 12 meses até setembro, a cidade recebe a maior quantidade de unidades habitacionais desde o ano 2000 e, o interior do Estado, segue a mesma tendência. Com um acumulado que já supera as vendas do ano passado, construtoras estimam um crescimento de até 40% este ano.
Neste cenário paulista, a CICOM, cooperativa habitacional com foco em um público de baixa renda, mas com expectativas de imóveis que vão além dos populares, pondera que o aquecimento do mercado imobiliário pode liderar a retomada da economia brasileira e, neste impulsionamento do setor, os interessados estão em busca de alternativas que supram suas necessidades, mas se encaixem em seu orçamento. “Os impactos gerados pela pandemia pesam na hora de escolher os imóveis. Baixo custo e qualidade de vida são premissas para quem quer investir ou sair do aluguel”, diz Carlos Massini, diretor executivo da CICOM.
Segundo ele, com o novo formato de trabalho fortalecido pela pandemia, o home office, os trabalhadores já não têm mais a necessidade de habitar em grandes centros, onde alugueis e metros quadrados costumam ser bem mais caros com relação às áreas mais periféricas. Outra mudança trazida pela modalidade é a maior permanência em casa, com a família toda, tendo que compartilhar espaços e ter áreas destinadas ao trabalho, exigindo uma adequação permanente para aqueles que adotaram o regime de tele trabalho definitivamente. Inicia-se um movimento de migração que também influencia o mercado, já que empreendimentos antes menos procurados, agora, ganham notoriedade. “Com a internet hoje, morar mais distante do trabalho não impede que as atividades sejam bem realizadas”, justifica Massini. “A gente já sente um aumento na procura por loteamentos e moradias mais afastadas, que antes eram procuradas mais para descanso ou por aposentados. Agora, pessoas de diferentes faixas etárias, que precisam somente do notebook para trabalhar, buscam lugares mais tranquilos, seguros e bem mais acessíveis”, completa.
Recente pesquisa realizada pela Datastore Mercadometria e Pesquisa de Mercado, mostra que 11 milhões de famílias têm intenção de adquirir um imóvel nos próximos 24 meses. “Ficávamos pensando como seria o retorno do setor pós-pandemia, mas não esperávamos um aquecimento tão significativo”, declara com entusiasmo o diretor da cooperativas que acredita que a crise trouxe também oportunidades para quem tem o sonho de comprar a casa própria. Com aqueda das taxas de financiamento, as prestações cabem melhor no bolso de mais famílias. Atualmente, os juros do crédito imobiliário giram na média de 6% ao ano, mas apesar de mais baixo, ainda é elevado se comparar a opções a preço de custo, como no movimento cooperativista, que conta com reduções que chegam a 40% do preço de mercado e oferece diversas facilidades de pagamento.
O estímulo ao setor imobiliário é visto por Massini como a resposta a uma demanda que há décadas vem se acumulando: o déficit habitacional. Para ele, o País deve tomar esse período como exemplo e manter o acesso à moradia como prioridade. “Nunca tínhamos vivenciado experiência similar a essa da pandemia. Hoje, apesar das incertezas e do desemprego, as pessoas estão com boas perspectivas para se planejar e pagar as prestações.” Ele ainda ressalta que “a necessidade precisa ser dignificada, mas pagar menos para ter algo que possui naturalmente um potencial de valorização é motivador e contribui para a decisão de comprar”.
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