Vale a pena resgatar investimentos com rentabilidade negativa?
Artigo por Vivien Aucar, Especialista em Investimentos e Educação Financeira da Unicred SC/PR
Você certamente já ouviu falar emcircuit breaker, não é mesmo? Nada mais é do que a interrupção temporária das negociações em Bolsa, uma paralisação forçada que dá às pessoas a chance respirar, pensar, entender o que está acontecendo, avaliar o impacto e tomar decisões não impulsivas.
Faça este mesmo exercício antes de tomar qualquer atitude relacionada a movimentações em seus investimentos em momentos de instabilidade. É hora de ter muita calma, paciência e não tomar decisões influenciadas pelo nervosismo do mercado.
A única razão de se resgatar investimentos realizando prejuízo é a necessidade de liquidez imediata quando não se tem outra fonte de reservas. E você sabe que este seria o pior dos cenários.
Se você possui outras fontes, mas mesmo assim está propenso a resgatar aplicações com desempenho negativo – ou já fez isso – possivelmente descobriu que não tem tolerância a perdas e assumiu riscos maiores do que deveria.
Não importa o motivo que o trouxe até aqui, o fato é que um resgate fora de hora pode gerar uma marca, um trauma em relação a renda variável, como aconteceu com muitos investidores em 2008.
Para te ajudar a tomar uma decisão consciente, vamos organizar os pensamentos e os sentimentos de tal forma que você possa decidir, por conta própria, o que fazer.
Pra começar, é preciso calcular o tamanho real da perda a ser absorvida. Suponha que o total de seus investimentos seja de R$ 100 mil e que R$ 40 mil (40%) estejam em aplicações com rentabilidade negativa. Entenda que essa desvalorização não alcança todo o seu dinheiro, mas apenas parte dele.
Vamos supor que a desvalorização seja de 10% sobre o total e o valor de mercado da carteira no momento é de aproximadamente R$ 90 mil.
Dimensione o valor da sua dor, da angústia, do estresse que essa perda provoca. Você pagaria R$ 10 mil para se livrar desse sofrimento e voltar a dormir tranquilo? A decisão de cada um de nós depende do tamanho da dor que sentimos perante a percepção de perda. Não tem certo ou errado, mas a decisão mais adequada para recuperar o equilíbrio e o bem-estar. Avalie se isto faz sentido pra você e reflita sobre o aprendizado dessa experiência.
Agora, se você realmente necessita de liquidez mas está sofrendo com o sentimento de “deixar dinheiro na mesa”, analise o custo de uma tomada de crédito. Com o atual nível de juros, esta pode ser uma alternativa viável e com custo inferior a perda a ser absorvida. Verifique em sua instituição financeira as modalidades disponíveis para você. Muitas oferecem linhas de crédito voltadas ao investidor (nas quais o recurso aplicado fica como garantia). Isso traz segurança para a operação e permite a cobrança de uma taxa de juros mais atrativa.
Por fim, saiba que sustentar a posição nesse momento pode ser muito didático. Antes de tomar decisões precipitadas, lembre-se dos objetivos que o levaram a fazer cada aplicação. Se você, em algum momento, realizou um planejamento financeiro pensando em seus objetivos de curto, médio e longo prazo, não há motivo para jogar tudo fora na primeira onda de instabilidade.
Se você resgatar seus investimentos em meio à crise, poderá perder a retomada do mercado e comprometer seus objetivos. Avalie a possibilidade de aguardar um momento mais adequado para realizar um rebalanceamento de seu portfólio. Assim você poderá seguir o caminho certo rumo a seus objetivos.
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