O impacto do COVID-19 na alta do dólar e na variação do valor do barril de petróleo
Escrito por Marco Gonçalves
Os recentes acontecimentos relacionados à pandemia do COVID-19, Coronavírus, têm impactado diretamente na grande oscilação com relação ao valor do barril de petróleo e, como consequência, na economia mundial. Um dos pontos críticos que alimentou a crise econômica atual foi a superprodução de petróleo pela OPEC. Os países da Arábia Saudita e Rússia, especialmente, estão injetando uma demanda exacerbada de suprimentos de petróleo e, com isso, barateando muito o valor do barril de petróleo exportado. No próximo mês, por exemplo, a Arábia Saudita deve comercializar o barril de petróleo para a China por apenas US$ 6, US$ 7 para os EUA e US$ 8 para a Europa.
Para se ter uma ideia, o custo de exploração do pré-sal, apesar de relativamente baixo, de acordo com dados divulgados em março de 2020, passou de em média US$ 13 em 2015 para US$ 6 no final de 2019, contra US$ 2.8 da Saudi Aramco, que conta ainda com uma capacidade de produção de 10 milhões de barris por dia, podendo subir para 20 milhões de barris. Atualmente, o Brasil produz, por dia, com a ajuda do pré-sal, em média 2 milhões de barris, ou seja, aproximadamente 10 vezes a menos do que a Saudi Aramco.
Este é um cenário que impacta diretamente na diminuição do preço do petróleo globalmente. A produção brasileira até o momento tem conseguido lidar bem com a instabilidade, considerando o custo de produção x valor do barril de petróleo. No entanto, a tendência é que o cenário piore bastante, antes de apresentar alguma melhora.
Entendendo a variação do valor do barril de petróleo
O custo do barril de petróleo envolve hoje em torno de três variáveis: suprimento, demanda e a geopolítica (pandemia de COVID-19).
Como suprimento, entenda-se a disponibilidade de petróleo produzido. Como os países da OPEC estão produzindo petróleo desenfreadamente, os EUA estão acompanhando este ritmo de produção e o Brasil está também tentando aumentar a sua capacidade; tudo isso somado resulta em que a oferta esteja excessivamente farta, em todo o mundo.
O segundo fator é a demanda, ou seja, o quanto os países e as pessoas estão precisando do petróleo e seus derivados para aquecimento, eletricidade, transporte, entre outras necessidades. Quanto maior o crescimento econômico, maior a demanda de petróleo. E o uso do petróleo ainda é muito significativo em todo o mundo, já que as energias renováveis ainda são caras e não possuem capacidade suficiente para atender todas as demandas mundiais.
A questão geopolítica, que envolve a pandemia do COVID-19, é o terceiro ponto que influência diretamente o valor do barril de petróleo. Qualquer conflito no Oriente Médio ou problema nos EUA pode afetar o preço, diminuindo ou aumentando, dependendo do caso. A pandemia tem impactado diretamente na oscilação do preço, pois há uma crise no transporte, as fronteiras estão sendo fechadas e as empresas estão orientando seus colaboradores a trabalharem remotamente, além dos trabalhadores que já contraíram o vírus estarem afastados. A criticidade da situação tem, portanto, impactado diretamente no valor do barril de petróleo.
Impactos da oscilação no valor do barril de petróleo na economia
Para a economia brasileira, em curto prazo, o cenário não é animador. O valor em bolsa da Petrobras caiu cerca de 60%, desvalorizando muito as ações da estatal. Como consequência, os investidores ficam receosos e acabam desfazendo-se de suas cotas, o que deixa tudo ainda mais complicado e a economia mais frágil.
É imperativo que o país se prepare para um período difícil. Nos próximos meses, assim como aconteceu na China, a situação deve piorar, para então, estabilizar-se. A tendência é que o número total de pessoas infectadas aumente drasticamente até que sejam encontradas alternativas de combate à doença. Apesar da China estar se recuperando, ainda existem países críticos como a Itália que estão em uma situação devastadora. Esperamos que no Brasil não cheguemos a este ponto.
É inevitável que a economia sinta e reflita negativamente este momento, tanto em termos de produto interno bruto, quanto no crescimento das empresas. Como existem muitos projetos em andamento, é fundamental para a Petrobras, por exemplo, que o pré-sal continue sendo explorado, para não afetar a produção. Independente das altas e baixas da economia, o petróleo é necessário.
Importância do petróleo no Brasil
É preciso ter em mente que o Brasil é o país líder da América do Sul. Enquanto vemos, por exemplo, a Venezuela passando por muitas crises e também lidando com o COVID 19 e a Argentina com uma série de problemas políticos e econômicos, o Brasil deve ser o responsável por guiar a região, já que é o líder em potencial de produção e 8º maior produtor no mundo.
Estamos certos de que se trata de uma fase ruim e as grandes empresas terão de seguir firmes para conseguir sobreviver a este período complicado. Se a Petrobras sofre, a economia brasileira também sofre. Entretanto, ao mesmo tempo, a tendência é de que com a alta do dólar, possa se obter maior lucro com a exportação do petróleo, até porque receber em dólar seria positivo para a balança comercial da empresa. Precisamos confiar na recuperação da economia brasileira e na confiança dos investidores. Mesmo que leve tempo, quem investir agora vai aproveitar essas ações em baixa que devem aumentar a médio e longo prazo.
Apesar da atual infraestrutura brasileira, espera-se que as autoridades tomem as atitudes cabíveis para diminuir a propagação do vírus em um tempo menor do que a China. Desta forma, será possível que nossa economia retome aos poucos. O preço do petróleo não deve voltar a índices muito grandes e o valor do barril de petróleo deve manter-se em uma média de US$ 25 nos primeiros meses, mas trafegar entre US$ 40 e US$ 50 a médio/longo prazo, o que seria positivo, já que com este valor o país consegue manter os negócios. Porém, alerta vermelho caso o preço seja inferior a US$ 16 (ponto de equilíbrio atual da produção para pagar os custos, segundo informações atualizadas com os índices divulgados em 2020), pois não compensará para o Brasil exportar esse petróleo. Abaixo de US$ 16 será o caos e refletirá diretamente na economia brasileira. Esperamos que o governo adote medidas de apoio às empresas brasileiras para que consigam passar por esse cenário tão desfavorável e sair com um mínimo de saúde financeira.
Marco Gonçalves é Gerente de Contas Estratégicas de Óleo & Gás, Petroquímicas e Químicas da Fluke do Brasil, companhia líder mundial em ferramentas de teste eletrônico compactas e profissionais.
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