Para acelerar a retomada após a pandemia, governo precisa ajustar as peças e Banco Central encher o tanque
Por Ernani Reis, analista da Capital Research
Com os bancos centrais ao redor do mundo cortando juros a torto e a direito, muito tem se discutido aqui no Brasil - e até se cobrado do Banco Central - um corte mais agressivo da taxa básica de juros, que atualmente já se encontra no menor patamar histórico: 3,75% ao ano. Porém, antes de falarmos de juros, vamos olhar mais de perto os últimos dados divulgados da inflação. Isso porque, enquanto os juros representam o nível do tanque de combustível, a inflação é o que mostra o desempenho do motor. E o nosso motor está perdendo muita potência agora.
O IBGE divulgou nesta quinta-feira (9) a inflação acumulada dos últimos 12 meses, medida até o mês de março. O resultado registrado de 3,30% é levemente inferior aos 3,38% projetados e já está distante do centro da meta de 4% para este ano. O dado não chega a ser uma novidade frente ao cenário esperado de recessão, mas reforça a leitura de piora nos próximos meses, já prevista pelo Banco Central, que aponta para inflação de 2,72% ao final de 2020.
É curioso notar que, para nós brasileiros, a retração da inflação é normalmente vista como algo positivo. Porém, neste momento, a principal responsável por termos uma inflação tão fraca é a forte redução do consumo e não a queda dos preços, como acontece normalmente.
Para tentar conter a queda da inflação, a contrapartida que o Banco Central pode oferecer é a redução nos juros. De acordo com o último Boletim Focus divulgado pelo BC, a Taxa Selic está projetada para 3,25% ao final deste ano, o que indica a expectativa de um novo corte de mais 0,50 ponto percentual. Isso significa que, no entendimento do mercado, o BC precisa ser mais agressivo para permitir uma retomada mais rápida após a passagem da pandemia de coronavírus. E a expectativa é para saber se isso pode acontecer já na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) prevista para o mês de maio.
A discussão sobre o corte da Selic, porém, fica entre o consenso do mercado e a resistência do BC, que não vê o efeito dos cortes anteriores reduzirem a ociosidade econômica, o que, no meu ponto de vista, é esperado, uma vez que a crise neste momento é sobre demanda e não sobre preço.
Temos um nível de incertezas para o primeiro semestre muito elevado. Investir, neste momento, precisa ser uma oportunidade imperdível que justifique tomar o risco. E um corte acima dos 0,50 ponto percentual pode ser o sinal que o mercado está esperando para sentir que o Banco Central entrou de fato no jogo.
Infelizmente, não existe uma solução simples. Enquanto o governo federal fornece os mecânicos (medidas econômicas) para manter o motor funcionando, é preciso que o Banco Central precisa encher o tanque e deixar tudo pronto para acelerarmos o máximo que pudermos após a pandemia.
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