A economia também está na UTI
Por Ernani Reis, analista da Capital Research
Em meio ao avanço da pandemia de coronavírus, os governos tentam mensurar o real impacto econômico da crise e partem em busca de novas projeções para 2020. Os números até o momento, não são nada animadores, mas ainda pouco precisos. No final da última semana, o governo brasileiro divulgou a projeção revisada para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) deste ano: 0,02%. O número representa uma queda significativa ante os 2,1% anunciados há pouco mais de 10 dias, o que reflete uma rápida mudança de cenário frente ao estágio inicial da pandemia em solo brasileiro.
Mas, o dado oficial do governo não deixa de ser um tanto otimista. Nos EUA, por exemplo, o agravamento da crise já fez o presidente norte-americano, Donald Trump, reconhecer a possibilidade de recessão na maior economia do mundo. O quadro é tão grave que a Câmara dos Deputados, dominada pela oposição do Partido Democrata, discutiu e aprovou um pacote de medidas na casa dos US$2 trilhões, em pleno ano eleitoral, para amenizar o impacto do coronavírus na economia norte-americana.
Ao mesmo tempo, em escala global, a agência de classificação de risco Fitch Ratings aponta para o crescimento do PIB global de 1,3%, ante aos 2,5% previstos no final de 2019. A se confirmar, falaremos do menor crescimento econômico global dos últimos dez anos, com fortes sinais de recessão a caminho. De modo geral, o que surpreende o mercado desta vez é a velocidade da deterioração econômica sem precedentes. De repente, no ano em que se falava em bolsa na casa dos 130 mil pontos e crescimento na casa dos 2%, ainda estamos em março e já assistimos a bolsa na casa dos 60 mil pontos e uma perspectiva otimista de crescimento zero.
Enquanto isso, o Banco Central do Brasil anuncia medidas econômicas para tentar minimizar esses impactos. No entanto, as elas ainda levarão um tempo para surtir efeito na realidade das pessoas e dos negócios. Até lá, a maior ameaça está no desemprego e no fechamento de empresas dos mais diversos setores, estando entre os mais frágeis a aviação, o turismo e o varejo.
Além disso, o cenário se agrava ainda mais com a perspectiva de uma menor arrecadação com os royalties do petróleo (também em crise) e o aumento dos gastos acima do orçamento do ano. Desse modo, na atual conjuntura, um PIB zero a zero já seria uma grande vitória. Isso porque, por mais otimista que possamos ser, uma recessão já é considerada certa caso não tenhamos uma grande reviravolta com a pandemia nos próximos 15 dias. Entre as projeções divulgadas pelo mercado até o momento, o Itaú Unibanco estimou uma retração de 0,7% em 2020. Já o Goldman Sachs indicou uma retração de 3,1%, enquanto a FGV apontou para um encolhimento de 4,4% da economia brasileira, considerando o cenário da crise de 2008.
Fato é que a própria variedade de projeções mostra que ainda existem muitas variáveis em jogo e o fator "tempo" sobre a pandemia é determinante para a elaboração de projeções mais assertivas, o que já sabemos é que o que virá será muito ruim e que, a esta altura, apenas a descoberta de uma vacina contra o coronavírus poderia tirar o mercado da UTI.
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