A sustentabilidade transformacional na cadeia agrícola brasileira
Por: Evandro Martins*
Em maio deste ano, o IBM Institute for Business Value divulgou os resultados do relatório “Own Your Impact: Practical Pathways to Transformational Sustainability” (Seja dono do seu impacto: caminhos práticos para a sustentabilidade transformacional), um estudo direcionado para CEOs. A partir de três mil entrevistas com executivos em 40 países, a pesquisa enfatizou a questão da Sustentabilidade Transformacional, que ocorre quando a prática se torna parte integrante da estratégia de negócios de uma organização.
O conceito deste termo abrange as tecnologias digitais de maneira estratégica e operacional para “gerar resultados sustentáveis, enquanto expande as oportunidades econômicas” em um processo contínuo. Este, pode ser aplicado a todas as empresas nas mais diversas atividades, e no agronegócio, claro, não podia ser diferente! No caso da FertiSystem, por exemplo, a busca por sustentabilidade também está relacionada à aplicação de fertilizante a taxa variável na linha de semeadura.
Dentro do processo contínuo de plantabilidade queremos estender essa ideia também para outras organizações do setor, para que sirva como um catalisador. Nessa transformação das máquinas, precisamos pensar também em novos modelos de negócios. Para isso, é fundamental trabalharmos em conjunto para que os produtores, as empresas fabricantes de plantadoras, as comunidades científicas e tecnológicas se tornem também ambientes de discussão. Assim, para que essa mensagem chegue à academia e às entidades de pesquisa.
O nosso maior desafio é a comunicação, fazer com que essa ideia da importância da sustentabilidade transformacional chegue aos quatro cantos. Estou assumindo a presidência do Parque Tecnológico do Agro – Tecnoagro, e estamos em contato com as associações, empresas, cooperativas, órgãos públicos, estaduais, municipais, é uma forma de trabalhar e alavancar essa questão de poder dar uma acelerada nessa solução e colocar no mercado. Nós acreditamos muito que esse modelo sustentável possa se tornar utilidade pública no país. A resistência dos produtores ainda é muito grande, e muitos deles não estão olhando para o solo, e dessa maneira até causando uma degradação muito grande.
O agricultor tem dificuldade em saber ou conhecer seus números. Imagina plantar dez safras e nove delas render prejuízos? São casos reais. O nosso parque tecnológico tem a preocupação de trabalhar dentro da porteira, ali que as coisas realmente acontecem, e é onde precisamos fazer a sustentabilidade transformacional. Antes da porteira está tudo bem. Uma semente, por exemplo, hoje é praticamente um chip tecnológico onde as empresas já conseguem colocar dois fatores essenciais: produtividade e a defesa da planta.
Falando em potencial produtivo, com as tecnologias que temos hoje é possível atingir 180 sacas de soja, por exemplo por hectare, é viável e a genética já estabelece isso. Porém, se pegarmos estas 180 sacas, onde estão as perdas potenciais? Cerca de 78/sc são perdidas por déficit hídrico, e isso já cai para 102/sc. No manejo, que é a parte de plantio e plantabilidade, perde-se a média 53/sc, por erros e problemas de regulagem, porque as plantadeiras são arcaicas, fora alguns outros fatores correlacionados. Assim chegamos a 49/sc que não pagam a conta. Coisas simples podem mudar isso.
Por exemplo, em um trabalho realizado em parceria com a Embrapa, utilizando o plantio em contorno, conseguimos reter cinco vezes mais água do que plantio morro abaixo. São mudanças básicas, mas que geram muitos resultados. Quem é o maior armazenador de água do mundo? O solo, se tem dificuldade de irrigação, o solo infiltra. Hoje, um dos problemas é que o pessoal utiliza muito os subsoladores e escarificadores, isso destrói a microbiologia do solo que já foi criada.
O solo tem memória, ele sabe exatamente o que ele está recebendo, o que pode devolver. Nós costumamos fazer exame nessas áreas, a partir da matéria orgânica, e com isso a Embrapa conseguiu depois de 20 anos de estudo, detectar três enzimas que realmente podem dizer se o solo está vivo ou não. São coisas dentro do modelo de sustentabilidade transformacional que nós queremos trabalhar e comunicar. Sempre ancorados na Embrapa.
Somado a tudo isso, pensando de forma mais macro, o uso eficiente da água aliada à conservação do solo, estão relacionados à segurança alimentar. Por exemplo, alguns países da Ásia já enfrentam a fome, países europeus não tem fome, mas têm problema com o custo do alimento, ou seja, o acesso financeiro e ele está muito complicado. Esses dois exemplos já são motivos suficientes que comprovam a nossa responsabilidade de produzir mais, na mesma área, sem derrubar árvores, por isso a nossa visão interna é ser mais macro.
É preciso ir além
Nessa visão de sustentabilidade transformacional procuramos ir além focando também nos ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável). Para quem não está familiarizado, a sigla foi criada em 2015, quando a ONU propôs aos seus países membros uma nova agenda de desenvolvimento sustentável para os 15 anos seguintes, composta por 17 metas, um esforço conjunto de países, empresas, instituições e sociedade civil. Os objetivos buscam assegurar os direitos humanos, acabar com a pobreza, lutar contra a desigualdade e a injustiça, alcançar a igualdade de gênero e o empoderamento de mulheres e meninas, agir contra as mudanças climáticas, bem como enfrentar outros dos maiores desafios de nossos tempos.
Percebemos que todos estes 17 objetivos de desenvolvimento sustentável têm conexão com a agricultura. Por isso associamos eles na sustentabilidade transformacional na relação integrada entre solo, semente, fertilizante, planta e alimento, ou seja, essa visão mais ampla que é onde nós atuamos e os impactos que vão ocasionar.
Presidente da FertiSystem e presidente diretor executivo do Parque Tecnológico do agro – Tecnoagro*
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