Setor de fertilizantes busca reduzir a dependência por insumos externos
Com uma produção de alimentos para mais de 1,4 bilhão de pessoas e consumo anual de 40 milhões de toneladas de insumos para a produção de fertilizantes – nitrogênio, potássio e fosfatos (NPK) – o Brasil tem pouco tempo para reverter ou pelo menos reduzir a dependência de 80% do mercado externo para esses minerais, fundamentais para a produção agrícola nacional. Segundo o pesquisador da Embrapa, Eder Martins, um dos participantes do painel “Minerais estratégicos e agrominerais” do Simexmin 2021, após um pico de produção em 2060, esses produtos tendem a reduzir a oferta, nos anos seguintes.
Ele ressalta que a migração para os Bio Insumos, produtos a base de minerais encontrados no país, é a saída caseira para esse colapso anunciado, tendo em vista que a demanda por fertilizantes cresce 6% no país a cada ano, para acompanhar os aumentos sucessivos de produtividade. O Programa Nacional de Bio Insumos, lançado em 2020 pelo governo federal, já está presente em 15 milhões de hectares de propriedades rurais e o nível de recompra é superior a 80%. “Podemos começar da mineração que já existe, como as plantas produtoras de brita. São 9,5 mil pedreiras ativas e 9 mil com potencial para produtos agrícolas”, afirma.
Ainda conforme Martins, a estimativa é de que, entre 5 e 10 anos, a demanda duplique para remineralizadores produzidos com minerais encontrados no país e que podem contribuir para o manejo da fertilidade do solo, atendendo à exigência das diferentes culturas. Os minerais silicáticos, por exemplo, têm curva mais próxima das necessidades da plantação e, ao longo dos anos, respondem positivamente em nutrientes e melhoria do solo, conforme resultado de pesquisas já realizadas.
Estratégicos
As oportunidades para a mineração não se encerram por aí. Segundo o chefe de Departamento de Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Marcelo Almeida, os chamados metais de uso tecnológico – lítio, cobalto, cobre, níquel, grafita, terras raras, urânio e outros – também têm registrado demanda crescente nos últimos anos, por serem considerados estratégicos e portadores de futuro, já que atendem as necessidades de mercados em constante desenvolvimento, como ressaltou o chefe do Departamento de Recurso Minerais da CPRM, Marcelo Almeida.
Apenas para o lítio, mineral usado na confecção de baterias, houve um crescimento de 46% nas reservas e de 98% na produção no país, desde 2016. Quanto ao cobre, há 13 áreas distritos em análise para esse metal. Já a grafita, que tem um programa nacional próprio, são 887 pontos cadastrados em 31 províncias de interesse. “A evolução tecnológica e as transições de energias vão puxar a demanda por minérios estratégicos e críticos. Ampliar descobertas de novos depósitos e de novos elementos e fazer pesquisas em descarte de mineração são algumas das iniciativas que demandam política pública alinhada aos interesses do Brasil, bem como o acesso a uma base de dados de consulta atualizada e integrada com dados econômicos e multifontes”, avalia.
Entre os metais tecnológicos, a grafita brasileira é outro destaque. Pesquisas com esse material têm sido promissoras, visto que o material encontrado no país tem um formato do tipo flake, que corresponde a apenas 25% das reservas mundiais. Segundo a pesquisadora em Geociências do CPRM, Débora Matos, que trabalha em parceria com o professor e pesquisador Antônio Carlos Pedrosa Soares, esse pode ser um diferencial competitivo para o produto nacional, inclusive no mercado externo.
“É um material que tem sido estudado há muito tempo e ganhou destaque em 2004. O grafeno tem alta propriedade de retenção de energia, tudo o que a indústria quer”, adianta. Atualmente há duas plantas nacionais explorando o produto. Uma delas é o Projeto MGGrafeno, iniciativa conjunta entre UFMG e CDTN, com financiamento da Codemge. Há também o CTNano, centro de tecnologia em nanutubos de carbono e grafeno, na UFMG.
Case
A produção de sulfato de potássio, insumo para a produção de fertilizantes, a partir do aproveitamento da glauconita é um dos exemplos de como a pesquisa mineral pode solucionar internamente as demandas do agronegócio. O diretor presidente da Kallium Mineração, Ricardo Dequech, relata que iniciou a implantação da planta em Dores do Indaiá, há três anos, após sete para desenvolvimento e os resultados são promissores. “Minas Gerais tem uma reserva de 1,5 bilhão de toneladas e esse material nunca foi aproveitado em função da falta de tecnologia para abertura química, um processo químico que garante 70% de aproveitamento do potássio da glauconita”, explica.
Outro destaque da planta é a sustentabilidade ambiental, visto que todos os subprodutos da operação são reaproveitados e a lavra não causa qualquer impacto. “Não há resíduo sólido e nem gás, que é reaproveitado na planta de ácido sulfúrico. Não temos afluente em água ou contaminação na região. Com um ajuste fino do processo, é possível aproveitar até as cinzas da queima de eucalipto, que podem ser transformadas em produto para compostagem ou aplicação na agricultura”, prevê.
Os mediadores do painel foram a pesquisadora em Geociências (SGB/CPRM), Magda Bergnamm e o engenheiro químico Renato Costa.
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