Ciência leva o Tocantins ao terceiro lugar na produção nacional de arroz
Atualmente com sementes em cerca de 90% da área de arroz plantada no Tocantins, terceiro maior produtor nacional, a Embrapa vem colaborando para o incremento dessa importante cadeia produtiva de valor no estado. O desenvolvimento, em conjunto com instituições parceiras, de cultivares específicas para a região pode ser apontado como uma das principais contribuições efetivas. Se antes o produtor tinha como opções de plantio praticamente apenas cultivares vindas do Sul do Brasil, onde estão os outros dois maiores produtores do país (na ordem, Rio Grande do Sul e Santa Catarina), nas últimas safras as opções de sementes próprias para o estado aumentaram.
Daniel Fragoso era, até janeiro deste ano, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão (GO) e liderava os trabalhos com arroz no Tocantins. Ele fazia parte do núcleo de pesquisa em sistemas agrícolas da Embrapa Pesca e Aquicultura (TO), que envolve pesquisadores de outras Unidades da Empresa que trabalham fisicamente no Matopiba. A sigla refere-se às áreas de Cerrado de quatro estados (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), região conhecida como a última grande fronteira agrícola brasileira e que hoje já é responsável por cerca de 10% dos grãos produzidos no país.
De acordo com Fragoso, que atualmente é chefe-adjunto de Transferência de Tecnologia da Embrapa Pesca e Aquicultura, “o Programa de Melhoramento de Arroz (MelhorArroz) da Embrapa busca inovações para a sustentabilidade produtiva e excelência da qualidade do arroz brasileiro por meio do desenvolvimento de novas cultivares. Trata-se de um programa contínuo fomentado pela Empresa, que atualmente conta com apoio financeiro também da iniciativa privada por meio de contrato de cooperação técnico-financeira com empresas produtoras de sementes”. São três empresas privadas parceiras, que anualmente estão aportando R$ 240.000,00 cada durante cinco anos: Uniggel Sementes, Sementes Simão e Brazeiro Sementes. Ao final desse prazo, existe a possibilidade de renovação do contrato por igual período.
Outra parceira no estado é a Universidade Estadual do Tocantins (Unitins), que além do ensino atua na pesquisa voltada para o meio rural, sendo a Organização Estadual de Pesquisa Agropecuária (Oepa) tocantinense. Embrapa e Unitins estão trabalhando na geração de uma variedade de arroz genuinamente tocantinense, a BRS TO, que deverá estar disponível para os produtores nas próximas safras.
A Embrapa oferece para o Tocantins opções de variedades de arroz tanto para o cultivo irrigado – BRS Catiana, BRS Pampeira, BRS A702 CL e BRS A704 –, como para cultivo em terras altas – BRS A501 CL e BRS A502. “No planejamento, é programado o lançamento de uma nova cultivar de arroz a cada dois anos para atender à demanda dos produtores de arroz tocantinenses”, explica o pesquisador Hoje, a BRS Pampeira está em mais da metade da área de arroz no estado.
O produtor José Luís Venâncio plantou 977 hectares de BRS Pampeira nesta safra 2020/2021. Ele tem boa expectativa quanto ao desempenho da cultivar, mas lembra que isso depende das condições climáticas pelas quais a lavoura passar. “Com relação à cultivar da Embrapa, é uma das melhores que tem no mercado, tem teto produtivo alto, é resistente às principais doenças e tem uma excelente qualidade de grãos. Ponto negativo é que é susceptível a acamamento”, relata.
Ciência no campo: produtividade e sustentabilidade
As práticas de manejo na lavoura de arroz, a escolha da variedade certa e o foco na sustentabilidade da produção devem ser preocupações constantes para o produtor. A adoção de tecnologias é prioridade para se elevar a produtividade, já que dessa maneira reúnem-se as principais técnicas recomendadas pela pesquisa, a começar pela época de semeadura e pela irrigação.
Outro ponto importante é a reorganização das áreas quanto ao sistema de drenagem, irrigação e domínio sobre o fluxo das águas para potencializar usos, diversificar cultivos e reduzir estresses das plantas. É necessário que os produtores invistam em conservação e armazenamento para reduzir a dependência de águas superficiais de rios e riachos e também para evitar o carreamento e a contaminação das fontes por agrotóxicos.
Nas últimas safras, com o predomínio de cultivares com genética da Embrapa na região tropical, tem sido possível reduzir em até 50% o número de aplicações preventivas com fungicidas, contribuindo diretamente para maior sustentabilidade da produção, com redução tanto de custos como de resíduos químicos nos grãos. A resistência genética às principais doenças da cultura do arroz, principalmente a brusone, também é fruto de pesquisa.
Para José Manoel Colombari Filho, pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão na área de genética e melhoramento de arroz, a produção irrigada na região tropical é muito desafiante devido à severidade e à incidências de doenças, principalmente a brusone: “É no Tocantins onde ocorre a maior diversidade desse fungo, que afeta a produção do arroz e faz aumentar a dependência do uso de agrotóxicos para o controle”. Ainda de acordo com o pesquisador, nas últimas safras, as cultivares de genética Embrapa ocupam mais de 90% das áreas plantadas do estado, o que tem permitido reduzir a quantidade de aplicações de fungicidas na cultura do arroz.
Pesquisa, extensão e setor privado unem esforços em prol da segurança alimentar
Uma das preocupações para a cadeia do arroz no Tocantins é a segurança alimentar, o que significa a necessidade de melhoria na sustentabilidade das lavouras, minimizando riscos de impactos ambientais negativos no ambiente, bem como o cuidado com os recursos naturais e a proteção do solo, o uso de produtos biológicos e a conservação da qualidade da água. No campo, não basta fazer algumas coisas certas para se alcançar os melhores resultados, é necessário que se adote um conjunto de práticas agronômicas de manejo integrado que são recomendadas.
Uma observação importante para o fortalecimento dos produtores de arroz é que sigam as recomendações técnicas para a cultura, pois atualmente e cada vez mais no futuro, as informações podem ser facilmente obtidas junto à assistência técnica especializada, assim como as que chegam por via virtual, desde que sejam fontes confiáveis. Dentre essas fontes de conhecimento e articulação, é preciso contar com o apoio contínuo da transferência de tecnologias, tornando as informações agronômicas mais acessíveis, bem como utilizando sistemas e formas mais eficientes para a melhoria do processo produtivo.
A transferência de tecnologia precisa acontecer adequadamente junto aos agricultores para atender às suas demandas. Essa participação dos diferentes atores em identificar os limitantes a serem trabalhados corretamente, tanto pela pesquisa como pela extensão, juntamente com os produtores, é fundamental para que todo o processo produtivo possa alcançar as melhorias necessárias. Reunindo esses segmentos produtivos com as ações do setor público, da iniciativa privada e da pesquisa, o caminho que fortalecerá, ainda mais, os produtores de arroz irrigado do Tocantins estará traçado.
Os números do arroz no Brasil
De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em boletim divulgado em março, a safra de arroz irrigado em 2020/2021 no país deve ser 2,2% menor que a anterior. Isso deverá acontecer mesmo com o projetado aumento de 2,3% na área plantada. A causa da queda na produção é que a produtividade média no Brasil deverá ser 4,3% menor em 2020/2021 na comparação com a safra anterior.
No Tocantins, deverão ser registrados ligeiros aumentos nos três indicadores: 0,3% na área plantada com arroz irrigado; 0,6% na produção; e 0,3% na produtividade. Em números absolutos, a previsão da Conab feita no mês passado indica uma produção de 636,2 mil toneladas numa área de 111,2 mil hectares, chegando-se a uma produtividade média de 5.721 kg/ha em 2020/2021. Esses números são periodicamente atualizados pela companhia, podendo, portanto, ser alterados.
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