Instituto de Pesca desenvolve método mais barato de criação de lambari para isca viva
Cultivo do peixe reduz impacto ambiental e é oportunidade de renda para pequeno produtor
Pesquisa desenvolvida pelo Instituto de Pesca (IP-APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), utiliza materiais alternativos de baixo custo para construção de tanques de recirculação voltados à criação de lambari da Mata Atlântica. O peixe, da espécie Deuterodon iguape, é usado como isca-viva na pesca esportiva do robalo e seu cultivo reduz a captura predatória de outros organismos do ambiente para o mesmo fim, em especial o camarão-branco (Litopenaeus schmitti).
“Na pescaria do robalo, que é um dos peixes mais valorizados pela pesca recreativa, é muito utilizado o camarão vivo e, em virtude da sobrepesca e do desrespeito ao ciclo de vida do animal, a captura dessa espécie nos estuários é considerada atualmente uma atividade predatória”, afirma Marcelo Barbosa Henriques, pesquisador do IP. Há um bom tempo, Henriques e sua equipe vêm buscando introduzir o lambari como alternativa de isca-viva ao crustáceo para a pesca esportiva no litoral sul paulista, justamente por se tratar de uma espécie que pode ser cultivada. Para isso, num trabalho inicial foi feita a comparação da eficiência de pesca do camarão e do lambari. “Nesse primeiro projeto, chegamos à conclusão de que o lambari, cultivado nos chamados tanques de recirculação, é mais barato que o camarão e também uma isca mais eficiente para pesca de robalo em rios, por se mostrar mais atrativo nesse tipo de ambiente”, relata. Essa pesquisa foi publicada em um dos mais importantes periódicos internacionais que tratam do assunto, Fisheries Management and Ecology.
Além de dar um fôlego maior à população de camarões no ambiente, o cultivo de lambari passou a ser defendido pelo especialista como uma possibilidade de renda interessante para produtores da região. Uma vantagem desse sistema, explica o pesquisador do IP, é que, para isca-viva, o criador vende o peixe por unidade, não por quilo, o que favorece o estabelecimento na atividade dos pequenos aquicultores, principalmente no sistema alternativo de baixo custo desenvolvido. “Se o produtor for vender lambari por quilo, teria que trabalhar com viveiros grandes, escavados, onde são colocados centenas de milhares de lambaris. Vendendo por unidade, o pequeno produtor pode trabalhar com tanques de recirculação de 8 a 10 mil litros, com cerca de 4 mil peixes por tanque”, pormenoriza.
Inovação a custo baixo
Conforme conta o pesquisador, tradicionalmente a piscicultura brasileira é feita no sistema semi-intensivo de viveiro escavado, onde se cava um viveiro na terra com entrada e saída de água para renovação ininterrupta. “Em virtude do aumento da preocupação com a escassez hídrica, no entanto, a aquicultura mundial está mudando em direção a sistemas de recirculação, onde há troca zero de água”, pontua o especialista. Segundo afirma, esse sistema também evita a entrada de patógenos e substâncias químicas, como defensivos, que podem estar presentes na água captada em rios, por exemplo. “Nesse caso, por não haver renovação, é necessário um controle maior dos parâmetros de água, e também um excelente filtro biológico para processar os micro-organismos presentes e evitar que a água se torne tóxica para os peixes”, pondera Henriques.
Com o objetivo de tornar a atividade viável para produtores e comunidades de baixa renda, Henriques e sua equipe aperfeiçoaram métodos de criação de peixes já existentes. “No nosso sistema, especificamente, adaptamos uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa, originalmente para cultivo de tilápia, e aplicamos ao lambari”, diz o especialista. O pesquisador do IP elaborou um comparativo entre o sistema convencional de recirculação (com tanques e equipamentos de escala industrial) e seu sistema alternativo, de baixo custo, construído com materiais como papelão, lona plástica, madeira, bombinhas de aquário, redes de pesca usadas, baldes e tambores de plástico. “Nosso intuito era mostrar que, numa densidade não muito elevada, a atividade é vantajosa para gerar renda para o pequeno produtor, que precisa ter um domínio total do processo para não haver mortalidade”, detalha. Comparando crescimento, ganho de peso e taxa de sobrevivência dos lambaris, os dois sistemas (tradicional e alternativo) tiveram resultados similares. “No nosso sistema, tivemos uma taxa de sobrevivência de 97%”, celebra o pesquisador. “Concluímos que o alternativo é uma opção viável e barata, sendo adequado para comunidades pesqueiras e pequenos produtores de baixa renda”, complementa.
Além dos benefícios ambientais, o projeto proposto por Henriques vem trazendo retorno econômico para a região. “Apostando neste tipo de cultivo do lambari, movimentamos toda uma cadeia produtiva (produtores, pequenos fornecedores de insumos, marinas, compradores das iscas etc), fortalecendo a economia local”, defende.
O pesquisador menciona que o sistema vem sendo testado em algumas cidades do litoral sul de São Paulo, com boa aceitação por parte do pequeno produtor. “Um dos aquicultores, de Itanhaém, conseguiu ampliar o número de tanques e passou até mesmo a diversificar a produção, cultivando verduras com a água do sistema dos peixes (técnica denominada aquaponia)”, anima-se Henriques. “O produtor, inclusive, sugeriu melhorias, como a colocação de coberturas sobre os tanques, para minimizar a incidência direta dos raios solares, o que pode ocasionar mortandade dos peixes em regiões muito quentes”, finaliza.
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