Educação periférica é chave para a transformação social
Desfalque educacional se tornou bomba-relógio que precisa ser combatida no país
Incansavelmente –e digo de forma apropriada– sigo tentando mudar a realidade de centenas de crianças no Brasil. Desde a década de 70, época da ditadura militar, trabalho firmemente no combate contra a pobreza, a favor de políticas públicas e educação social.
Como pedagoga, fui mandada embora de todas as escolas que trabalhei, pois considerava o modelo tradicional uma "caixinha". Eu gosto de uma boa briga e sempre pensei diferente do sistema.
Até certo momento, quando me via na obrigação de sair deste círculo, decidi abrir uma casa de educação. Abriguei crianças do Chile, da Argentina, do Líbano e exilados do Brasil dentro da minha casa, ao lado do meu marido. Por que estou dizendo tudo isso?
Um estudo divulgado pelo programa Todos pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), publicado no mês de fevereiro, mostrou que 41% das crianças entre 6 e 7 anos não sabem ler e escrever. Esse é o maior índice de analfabetismo registrado no país desde 2012.
Outro fato chocante é a última avaliação nacional realizada pelo Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) antes do isolamento social da Covid-19: 95% dos estudantes terminam a escola pública no país sem o conhecimento esperado de matemática.
O resultado da pesquisa é ainda mais grave, pois muitos desses alunos passaram em seguida por um ano de escolas fechadas e ensino remoto insuficiente. Só 5% deles conseguiam, por exemplo, no 3º ano do ensino médio, resolver problemas usando probabilidade ou o Teorema de Pitágoras.
A pergunta é: com esse grande desfalque educacional e social, em dois anos de pandemia, de que adianta inovarmos em algo, se a criança e o jovem não têm base?
O Brasil precisa de sustentação e nenhuma criança merece viver com uma bomba-relógio pendurada no pescoço. Para desarmá-la, é preciso ir degrau por degrau como, por exemplo, a educação periférica.
Como esse software, como costumo chamar, funciona? Visitei o bairro Jardim Ângela, na zona sul de São Paulo, e perguntei aos jovens qual estilo musical eles mais gostavam.
Surpreendentemente, em um grito unânime, o gênero vencedor foi o rap. Foi aí que pensei em trabalhar o rap voltado para educação.
Busquei parcerias com artistas, empresas e organizações que topassem embarcar nesse modelo educacional comigo e, o que antes era apenas uma proposta cultural aos "Zezinhos", se tornou a Pedagogia do Arco-Íris. Ensino de afeto, amor, carinho, respeito e ouvir.
Educação, saneamento, infraestrutura e internet são os pilares para essa transformação social. E isso serve tanto para as crianças que estão na Casa do Zezinho quanto para futuras gerações.
Temos que pautar a sociedade brasileira. A hora de fazer isso é agora. Não paramos um minuto sequer de lutar, pois é uma revolução de baixo para cima.
E vou dizer para você: na Casa do Zezinho... É agora, José!
Dagmar Rivieri (Tia Dag), fundadora da Casa do Zezinho
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