UFSCar promove atividades de integração e acolhimento para estudantes indígenas
Nesta semana, grupo terá informações sobre programas de bolsas, moradia e fará passeio pela Universidade
Ana Kelly Talexio da Silva chegou em São Carlos no último dia 15 de maio. Ela saiu da Atalaia do Norte, pequena cidade de 20 mil habitantes no interior do estado do Amazonas. Quando entrou na idade escolar, ela deixou a aldeia de Rio Novo, na região do Vale do Rio Javari e mudou para a cidade. "Eu sempre quis estudar, fazer uma faculdade", confessou a estudante indígena, que é a única da família a entrar em uma universidade. Mesmo com as dificuldades no aprendizado impostas pela pandemia, ela se esforçou e foi aprovada para cursar Ciências Sociais, na UFSCar, instituição que ela sempre ouvia falar, tanto pela qualidade do ensino, como também pela dificuldade no processo seletivo.
Ana estava entre os cerca de 60 estudantes indígenas reunidos no Auditório Bento Prado Jr., na área Norte do Campus São Carlos da UFSCar, na tarde da última segunda-feira, 23 de maio. O evento, que integra a programação de acolhimento desses estudantes, foi realizado em conjunto pelas pró-reitorias de Graduação (ProGrad) e de Assuntos Comunitários e Estudantis (ProACE), pela Secretaria Geral de Ações Afirmativas, Diversidade e Equidade (SAADE) e pelo Centro de Culturas Indígenas (CCI), todos da UFSCar.
"É um momento de satisfação para nós receber os estudantes indígenas, o que representa a diversidade que temos em nossa Universidade. Essa diversidade é uma riqueza que a torna melhor para todos e todas", afirmou Daniel Rodrigo Leiva, Pró-Reitor de Graduação, que foi quem deu as boas vindas aos estudantes. "É motivo de orgulho estar aqui celebrando este acolhimento de uma forma particularizada, em uma abordagem que reúne várias unidades trabalhando junto com eles".
Gisele Aparecida Zutin Castelani, Pró-Reitora Adjunta de Assuntos Comunitários e Estudantis, deu sequência ao evento de acolhimento destacando as atividades da ProACE, quando devem acioná-la, o que ela irá proporcionar, entre outros assuntos. "É importante que elas e eles saibam um pouco sobre os departamentos compõem a ProAce, como o de Atenção à Saúde e o de Assistência Estudantil. Outro ponto importante é a questão de bolsas de permanência estudantil." Segundo Castelani, a grande maioria dos estudantes indígenas recebe bolsa em razão da renda per capita ser baixa, ficando entre meio e um salário mínimo. "Muitos deles chegam aqui com nenhuma renda", explicou.
O planejamento de acolhimento começa bem antes do início da chegada deles. "Assim que sai a lista dos aprovados, já começamos a contatar os estudantes indígenas aprovados. Neste ano, por exemplo, assim que saiu a lista fizemos um grupo de WhatsApp e fomos conversando com eles sobre passagem, como fazer inscrições no programa de bolsas, moradia, entre outros assuntos importantes", disse Uara Pataxó, liderança estudantil indígena, aluna do curso de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Ela, que é do povo Pataxó, de Porto Seguro, no Sul da Bahia, afirmou que neste ano estão recebendo estudantes de estados como Pernambuco, Mato Grosso e Amazonas. "Em razão da pandemia, o acolhimento se estendeu também para os estudantes indígenas aprovados em 2021 e que, por causa da Covid-19, passaram o primeiro ano no formato online".
Ana Kelly, viajou cerca de 3 mil quilômetros até São Carlos e sua viagem só foi possível pelo aporte financeiro que recebeu de uma fundação do Amazonas ligada às questões indígenas. Ela agradeceu pelo acolhimento que recebeu em São Carlos e na UFSCar. Para os próximos anos, ela deseja: "Espero que dê tudo certo!"
Programação
O acolhimento aos estudantes indígenas começou no dia 18 de maio. Ainda nesta semana, eles receberão informações sobre o Programa de Capacitação Discente para o Estudo (ProEstudo), da SAADE e da Coordenadoria de Acompanhamento Acadêmico e Pedagógico para Estudantes (CAAPE). Também se reunirão com coordenadores de cursos, veteranos e farão um passeio pela Universidade.
O ingresso de estudantes Indígenas na UFSCar se constitui como uma das medidas do Programa de Ações Afirmativas, aprovado pelo Conselho Universitário, em 2007, e regulamentado pela Portaria GR nº 695/07. Desde o ano de 2008, a Universidade implantou a reserva de vagas para estudantes que comprovem pertencer a um dos povos indígenas do território brasileiro, por meio de declaração de etnia e vínculo com sua comunidade de origem. A seleção dos ingressantes é feita anualmente, por meio de processo seletivo específico.
Neste ano, estão ingressando cerca de 100 novos estudantes indígenas. Ao todo, a Universidade conta com mais de 400 estudantes de povos indígenas matriculados e tem, dentre as etnias que estão ou estiveram na Universidade, 51 povos diferentes. Ao término do primeiro período letivo de 2021, a UFSCar havia formado 50 profissionais indígenas nos quatro campi (São Carlos, Araras, Sorocaba e Lagoa do Sino) e nos mais variados cursos de graduação.
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