Etec de Fernandópolis usa drone para entrega de soro antiveneno
Selecionado para a Febrace 2022, projeto diminui o tempo de distribuição do produto em caixa capaz de manter a temperatura ideal, em torno de 2 e 8°C
A estatística é alarmante: o Brasil teve 125.161 casos de pessoas picadas por animais venenosos em 2019. Dessas, 241 morreram. Os dados foram extraídos do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde por uma equipe da Escola Técnica do Estado (Etec) Prof. Armando José Farinazzo, de Fernandópolis. Como a demora em receber o soro costuma ser fatal, os estudantes da unidade do Centro Paula Souza pensaram em uma solução que pode contribuir para diminuir as mortes.
A ideia de diminuir a distância entre remédio e paciente foi de três alunos, sob a orientação de Gustavo Tadeu, professor do Curso Técnico de Informática, e coorientação do auxiliar docente Fernando Corsini Landim. Em pouco mais de três meses, Ana Julia Casale de Andrade, Augusto Eredia Aiello Gazola (ambos do curso técnico de Farmácia) e Eloy Businaro Maschio (do curso técnico de Química) já tinham finalizado o projeto de tele-entrega autônoma de soro antiveneno com uso de drone. O trabalho foi selecionado para a 20ª Feira Brasileira de Ciência e Tecnologia (Febrace), que acontece na Capital, de 14 a 26 de março.
Se o tempo é determinante para o salvamento de tantas vidas, é preciso fazer o soro, disponibilizado em hospitais de referência, chegar à Unidade Básica de Saúde mais próxima da pessoa acidentada. Logo se concluiu que o veículo ideal seria um drone, capaz de vencer distâncias sem os obstáculos que o transporte terrestre comum encontra e por um custo abaixo de qualquer outro veículo aéreo.
Uma caixa transportadora, feita em impressora 3D, teve uma rosca desenhada no alto para o encaixe no drone – a equipe construiu um modelo F 450, relativamente simples, e produziu a rosca de acoplagem do veículo com o mesmo material e pelo mesmo processo, conseguindo um encaixe perfeito.
Em busca do resfriamento ideal
Drone e caixa transportadora resolvidos, restava uma questão crucial: como manter a temperatura segura de armazenagem do soro – entre 2 e 8°C – até que ele chegasse ao destino.
Descartadas hipóteses como nitrogênio líquido (com potencial explosivo) e gelo seco (mais caro, com poucos fornecedores, dificuldade de armazenamento e o inconveniente de sublimar à temperatura ambiente), encontrou-se uma solução. E ela estava em qualquer farmácia, a um custo baixo: o gelo em gel. Duas bolsas desse produto, acondicionadas em uma caixa de isopor, mantêm o soro na temperatura ideal durante 32 minutos. “Depois disso, ela começa a cair, mas de modo gradual”, explica Gustavo.
Como o drone tem autonomia de até 20 minutos, o resfriamento que o isopor e o gelo em gel oferecem é suficiente – e o monitoramento, constante. Na caixa transportadora, um circuito de Arduino (placa de prototipagem eletrônica para automação, de código aberto), integrado por um censor de temperatura e umidade, o Dht22, verifica a temperatura interna e indica, com uma luz verde e outra vermelha, se o soro está íntegro para o uso.
A equipe já estuda uma maneira de acrescentar uma segunda bateria, o que aumentaria a autonomia do drone de tele-entrega. Também pensa em uma forma de otimizar custos, eliminado o peso literal e financeiro do gelo em gel no voo de retorno, quando ele não tem finalidade e apenas consome bateria. “Nós não tínhamos pensado nisso até que um dos professores nos alertou para o problema do retorno. Por isso é bom participar da Febrace, entramos em contato com professores experientes que nos ajudam”, avalia Ana Julia. Ela lembra que, quando o drone for usado em larga escala, o gelo seco voltará para o rol das boas opções. “Ele pesa menos, poderia economizar bateria”, diz, mostrando que a equipe está pronta para fazer o seu projeto chegar ainda mais longe.
Sobre o Centro Paula Souza – Autarquia do Governo do Estado de São Paulo vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, o Centro Paula Souza (CPS) administra as Faculdades de Tecnologia (Fatecs) e as Escolas Técnicas (Etecs) estaduais, além das classes descentralizadas – unidades que funcionam com um ou mais cursos, sob a supervisão de uma Etec –, em cerca de 360 municípios paulistas. As Etecs atendem mais de 228 mil estudantes nos Ensinos Técnico, Integrado e Médio. Nas Fatecs, o número de matriculados nos cursos de graduação tecnológica supera 94 mil alunos.
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