Volta às aulas presenciais e o ‘novo normal’
Por Marcos Paim (*)
A expectativa é grande. Talvez maior do que todos os inícios de anos letivos que cada um dos alunos e professores tenha sentido em suas vidas. De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), mais de 1,3 bilhão de estudantes tiveram suas aulas interrompidas em razão da pandemia da Covid-19. No Brasil, a estimativa é de cerca de 47 milhões de alunos sem poder frequentar as escolas.
As previsões mais pessimistas logo no início da pandemia estimavam um retorno às aulas no início deste segundo semestre de 2020. Agora, o assunto sumiu das notícias e, de forma muito velada, fala-se em setembro, talvez outubro. De qualquer forma, quando for seguro retomar as atividades - seja qual for a definição de “seguro” – haverá, ainda, naturalmente, uma volta das atividades presenciais.
Uma vez que esse regresso também é muito recente nos países que tiveram que lidar com a pandemia antes do Brasil (já que a retomada é realizada aos poucos), o “novo normal” das escolas têm envolvido distanciamento, hábitos de higiene mais rígidos e a falta de abraços, Até aqui, todos nós, por algum tempo, estaremos operando desta forma, seja escola ou em qualquer local.
Uma das soluções encontradas por países como Espanha, Itália e alguns grandes centros do EUA, como Nova York foi, de modo geral, evitar a repetência dos alunos. Outras nações, por sua vez, estão adotando estratégias de recuperação antecipada para reduzir os danos à aprendizagem. No Brasil, talvez em virtude do nosso calendário escolar com uma diferença de seis meses da Europa e da América do Norte, ainda não há sinalização oficial dos governos sobre como lidaremos com essas questões.
Ao falarmos de defasagens de aprendizagem, ampliação de desigualdades por falta de educação - ou do seu resultado - e até mesmo de repetência, entra o contato com a realidade no retorno às aulas. Teremos que lidar com essas situações. Pensar, por exemplo: qual seria a melhor estratégia, uma vez que existem conteúdos a cumprir dentro das 800 horas obrigatórias por lei, para o Ensino Básico? E os conteúdos necessários para o Enem, como preparar os estudantes? Diante de tudo isso, como lidar com a ansiedade de alunos, pais e professores? Afinal, todos já estamos tentando aprender a lidar com o cotidiano, enfrentando crises de todos os tipos.
Urge pensar em algumas estratégias que, desde já, podem ajudar em uma transição mais suave e em uma redução de danos, em especial para a saúde mental de todos os envolvidos. Todos os índices educacionais e a aprendizagem sofrerão reduções e não será possível trabalhar a quantidade de conteúdos prevista. Essa deve ser a realidade. Colocar pressão sobre alunos e professores para que se dê conta deste ano letivo, como se fosse normal, seria como tentar correr uma maratona usando uma estratégia de 100 metros rasos, cujo resultado seria não apenas não cumprir a prova, mas sair dela com lesões difíceis de serem tratadas.
No retorno às escolas será preciso receber alunos, professores e pais como heróis que sobreviveram bravamente a dificuldades inimagináveis. Eles precisarão do apoio de todos para retomarem a vida, imbuídos de uma vontade enorme de fazer um mundo melhor. E, estou certo, muitos dos alunos buscarão aprender mais sobre a ciência e nela farão carreiras se tiverem oportunidade, para que nunca mais tenhamos que enfrentar uma pandemia.
(*) Marcos Paim, professor e diretor do programa STEM Brasil da ONG Educando.
Sobre a Educando
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Fundada em Nova York em 2002 como World Development and Education Fund (Worldfund), a organização não-governamental passou a se chamar Educando em junho de 2018. Desde o início, trabalha em parceria com governos locais para trazer investimentos de empresas privadas para projetos educacionais na América Latina. Em 16 anos, a instituição já capacitou mais de 13,2 mil educadores no Brasil e no México, com impacto em mais de 5,5 milhões de estudantes.
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