Ensino online na pandemia e além
Vivaldo J. Breternitz
Elisabete P. Breternitz
Por estes dias, cerca de 1,2 bilhões de estudantes estão fora das salas de aula em função da Covid-19. Muitos deles estão desenvolvendo atividades escolares usando ferramentas online.
A pandemia espalhou-se de maneira muito rápida, o que não permitiu que tecnologias radicalmente novas viessem a ser empregadas intensivamente na área educacional; o que se nota é que tecnologias que já estavam disponíveis tiveram seu uso intensificado. Em 2019, o investimento em ferramentas para educação online já havia sido de quase US$ 19 bilhões, e no final daquele ano previa-se que, em 2025, o mercado global nessa área estaria em US$ 350 bilhões - em função do que se viu até aqui durante a pandemia, esses números poderão ser maiores.
A pandemia, que exigiu a passagem apressada e não planejada para o ensino online, sem treinamento de professores e estudantes, sem preparação adequada de material didático específico para essa situação e quase sempre, insuficiente capacidade de banda na internet, tem gerado imensas dificuldades e levado muitos a acreditar que essa modalidade é aplicável apenas a situações muito específicas, como aquelas em que o estudante não consegue frequentar cursos presenciais.
Entre os profissionais do ensino, no entanto, generaliza-se a percepção de que um novo modelo está emergindo, um modelo híbrido, em que atividades online terão uma participação mais intensa e permanente nos cursos presenciais.
Mas há inúmeros obstáculos a serem superados, um dos principais sendo a falta de acesso adequado dos estudantes à internet. Por exemplo, enquanto 95% dos estudantes de países como Suíça, Áustria e Noruega tem um computador para uso em atividades escolares, em países como o nosso, esse número é ínfimo, com estudantes utilizando celulares para acesso muitas vezes compartilhando o aparelho com outras pessoas.
Além disso, celulares não são instrumentos adequados para educação online, em função de características como tamanho de tela, por exemplo. Custos de acesso à internet também são extremamente altos para boa parte da população em países como o Brasil.
Nos casos em que estudantes tem equipamento e acesso à internet adequados, há a percepção de que o ensino online é muito interessante, e ela é justificada pelo fato de que os alunos podem aprender mais, melhor e mais rapidamente pelas características desse tipo de ensino, entre as quais, a possibilidade de o estudante poder aprender em seu próprio ritmo, relendo, refazendo atividades, acelerando ou deixando de trabalhar conceitos que já conhece.
Os educadores devem preocupar-se em não apenas recriar online uma versão das salas, métodos e materiais tradicionais, mas irem além, criando ferramentas colaborativas e estratégias de engajamento, especialmente nos casos em que se trabalha com crianças. Gamificação pode ser uma ferramenta muito útil em situações como essa.
Em seu livro, 21 lições para o século XXI, o escritor e professor Yuval Harari, já alertava, antes da pandemia, que os estudantes não devem preocupar-se apenas com o que se aprende usualmente em sala de aula, mas sim focar-se com desenvolvimento do pensamento crítico, comunicação, trabalho colaborativo e criatividade; o uso de técnicas adequadas de ensino online pode ajudar muito nessas áreas.
Eventos do porte como a da atual pandemia, frequentemente, podem ser pontos de inflexão, trazendo profundas alterações para determinadas áreas e isso talvez seja verdade para o ensino online, onde essas alterações certamente serão benéficas.
Vivaldo J. Breternitz é Doutor em Ciências pela USP, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Elisabete P. Breternitz é Especialista em Língua Inglesa pela UNESP, é Professora Coordenadora do Núcleo Pedagógico da Diretoria de Ensino da Região de Jundiaí.
Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
<::::::::::::::::::::>