As aulas de Língua Portuguesa ganharam novos elementos em uma escola da rede pública de Praia Grande (SP): as chamadas "fanfics", narrativas construídas pelos fãs de séries, personagens e outras atrações de interesse do público jovem, passaram a compartilhar o conteúdo das aulas da Professora Raquel Zandonadi com o Projeto "Fanfiqueiros de Papel", finalista do Prêmio Professor Transformador na categoria Ensino Fundamental II.

A educadora compartilha um pouco de sua experiência na entrevista a seguir. O vídeo completo sobre o projeto pode ser conferido no site da Base2Edu, organizadora do Prêmio Professor Transformador, ou em seu canal no Youtube:

Como surgiu a ideia de desenvolver este projeto?

A história desse projeto começa quando eu conheci o gênero "fanfiction narrativo transmidiático", ou simplesmente "fanfic", feito a partir de elementos culturais existentes, como séries, filmes, livros e histórias em quadrinhos (HQs); e feitos também dentro de um ambiente virtual. Nesses espaços, nesses sites que abrigam esse gênero, os jovens leem e escrevem de maneira bem autônoma.

Então, a ideia desse projeto surge a partir de duas questões que eu considero importantes. Primeiro: a de que a escola não pode ficar alheia à diversidade textual e cultural que a internet oferece. E as aulas de Língua Portuguesa devem pensar os gêneros como práticas também dentro desse ambiente. E segundo: que nós, professores, precisamos saber olhar para o nosso grupo de alunos, saber identificar suas preferências, as suas identidades, elementos aos quais sempre prestei atenção. Quando o aluno sente que faz parte do processo da construção das aulas, eles participam mais e melhor.

E quais foram as principais atividades realizadas no decorrer do projeto?

Primeiro, os alunos das turmas do 9o ano escolheram uma série de preferência em comum. A eleita foi a série "La Casa de Papel", que estava em alta no momento. Nós trabalhamos a interpretação desse enunciado de uma forma bem profunda.

Depois, os alunos se inscreveram em uma plataforma de fanfic já existente, a Spirit Fanfiction, e nela eles produziram seus textos, suas narrativas, e eu pude fazer interferências como usuária da plataforma. Os alunos também interagiram entre eles, comentando os textos uns dos outros.

Por fim, depois que as fanfics já estavam construídas, os alunos criaram uma "fanzine", que é uma revista feita por e para fãs. E nessa publicação eles colocaram todas as produções feitas no projeto, desde a análise da série, reportagens até as fanfics que se destacaram.

Quais foram os resultados de destaque obtidos com a realização do projeto?

O principal mérito do projeto foi ter trazido, para as aulas de Português, uma atividade que priorizou o gosto dos alunos e suas preferências, uma forma de comunicar e interagir que é própria do universo deles, nesse caso, as fanfics, gênero feito por e para fãs. Dessa forma, as aulas passaram a fazer muito mais sentido para os estudantes e eles se engajaram mais, já que fizeram parte de todo o processo de desenvolvimento do conteúdo.

Considerando a BNCC, o projeto trabalhou quais habilidades e competências?

Trabalhamos com as seguintes competências gerais da BNCC: Conhecimento; Pensamento científico, crítico e criativo; Repertório cultural; Comunicação; Cultura digital. Já as principais habilidades trabalhadas foram: Inserir a presença de valores sociais, culturais, humanos e de diferentes visões de mundo em textos literários; Posicionar-se criticamente em relação a textos pertencentes a gêneros diversos; Participar de práticas de compartilhamento de leitura/recepção de obras literárias/ manifestações artísticas, como rodas de leitura, clubes de leitura, eventos de contação de histórias; Analisar, em textos narrativos ficcionais, as diferentes formas de composição próprias de cada gênero; Engajar-se ativamente nos processos de planejamento, textualização, revisão/ edição e reescrita; entre outras.

Sobre o Prêmio Professor Transformador

O Prêmio Professor Transformador foi lançado com o objetivo de destacar projetos inovadores desenvolvidos por professores da Educação Básica de todo o País, alinhados com as diretrizes da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). Os 12 projetos finalistas estão distribuídos em quatro categorias, que correspondem às etapas do Ciclo Básico da Educação no Brasil: Educação Infantil, Ensino Fundamental I, Ensino Fundamental II e Ensino Médio.

A classificação final dos projetos em cada categoria será anunciada durante a Bett Educar, considerada a maior feira de Educação e Tecnologia da América Latina. O evento está com a sua realização adiada em 2020, por conta do avanço da pandemia da Covid-19. Tão logo seja possível, a organização anunciará uma nova data.

Os segundos e terceiros colocados em cada categoria do Prêmio Professor Transformador irão receber R﹩ 2.5 mil e a oportunidade para apresentar suas iniciativas na edição 2020 da Bett Educar. Já os primeiros colocados de cada categoria receberão prêmios de R﹩ 7 mil, além de uma viagem para participar da Bett Educar 2021 em Londres, Inglaterra.

O Prêmio Professor Transformador é organizado em conjunto pela Base2Edu, rede que conecta e fortalece profissionais e iniciativas voltadas à transformação da Educação; e pela organização da Bett Educar, maior evento de educação e tecnologia da América Latina.