Estudo revela o perfil dos negócios de impacto socioambiental positivo da Mata Atlântica
1º Mapa de Empreendedorismo Sustentável na Grande Reserva Mata Atlântica, realizado pela Fundação Grupo Boticário, mostra que as iniciativas locais são ainda jovens e em busca de apoio, como aceleração
Foram identificados 177 negócios de impacto na região;
39% estão localizados em SP, 32% no PR e 10% em SC;
53% têm menos de cinco anos de existência;
71% deles encontram-se no chamado “vale da morte”, entre as fases de ideação e organização do negócio;
48% adotaram um modelo de venda direta ao consumidor (B2C);
37% dos empreendimentos tiveram um faturamento de até R$ 100 mil em 2019;
A maioria dos negócios de impacto socioambiental positivo – aqueles que, além de gerar receita, também proporcionam impacto positivo para a sociedade e para a conservação da natureza – que existe na região da Grande Reserva Mata Atlântica (o maior remanescente do bioma nos estados de São Paulo, Paraná e Santa Catarina) é baseada em um modelo de venda direta ao consumidor (B2C) e possui menos de cinco anos de existência. Esses são alguns dos resultados do 1º Mapa de Empreendedorismo Sustentável na Grande Reserva Mata Atlântica, iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza para diagnosticar o cenário de empreendedorismo sustentável e alavancar negócios que beneficiem a biodiversidade local.
“O raio-x da Grande Reserva mostrou que há um ambiente rico e plural de negócios de impacto na região. A proximidade com um dos biomas mais biodiversos do planeta despertou uma criatividade empreendedora que tem grande capacidade de transformação social, ambiental e econômica e, inclusive, pode ser replicada em outras partes do país. O Mapa de Empreendedorismo Sustentável será uma importante ferramenta para desenvolver ainda mais esses negócios e atrair investidores para a região”, explica a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes.
Durante os meses de junho e julho de 2020, em parceria com a Pipe.Social, que possui uma plataforma que conecta negócios com quem investe e fomenta o ecossistema de impacto no Brasil, foram mapeados 177 startups, empreendimentos, organizações da sociedade civil e protótipos com modelos de negócio sustentáveis, que geram impacto ou com potencial de gerar impacto em um dos 46 municípios da Grande Reserva Mata Atlântica.
Foram identificados negócios com cadeias de valor nas seguintes áreas: turismo sustentável; cadeias produtivas da biodiversidade; fortalecimento de áreas protegidas; conservação de ecossistemas e da biodiversidade; sustentabilidade marinha; agropecuária sustentável; produtos e serviços sustentáveis; tecnologias para a conservação da natureza; e educação/comunicação para a conservação.
A Grande Reserva Mata Atlântica abrange área terrestre de 1,8 milhão de hectares, onde a Fundação Grupo Boticário atua há cerca de 30 anos, desde que adquiriu a Reserva Natural Salto Morato, em Guaraqueçaba (PR). Trata-se de uma unidade de conservação particular que contribui com a proteção da biodiversidade e com o fortalecimento da economia local, especialmente por meio do turismo.
A Fundação tem multiplicado suas ações na Grande Reserva, lançando iniciativas que buscam desenvolver negócios de impacto socioambiental positivo na região. Entre elas, estão o Natureza Empreendedora, um programa de aceleração de negócios atuantes nos municípios da Grande Reserva, e o Conservathon, maratona de ideação para o desenvolvimento de ideias que solucionem desafios específicos do contínuo de Mata Atlântica. Ambas as ações estão em andamento.
“Por estar localizada a poucos quilômetros de dois dos maiores centros urbanos do país, São Paulo e Curitiba, a Grande Reserva tem importante potencial socioeconômico, sendo o berço ideal para o nascimento de uma nova economia impulsionada pela conservação da natureza. Com o Mapa de Empreendedorismo Sustentável, os potenciais protagonistas dessa nova economia são revelados, uma vez que ele identifica os principais atores de impacto e de inovação na região”, explica o coordenador de Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário, Guilherme Karam.
Cases
Dos 177 negócios analisados pelo Mapa de Empreendedorismo Sustentável, três receberam mentoria da Fundação Grupo Boticário por apresentarem maior potencial de impacto na região da Grande Reserva. Um deles foi o Monkey Safari, que desde 2017 realiza visitas guiadas para observação de muriquis (maior espécie de primata das Américas e endêmica da Mata Atlântica) dentro do Parque Estadual Carlos Botelho, no estado de São Paulo.
Todo o processo é conduzido pelo biólogo Edipo Fernandes Vieira da Silva, que há mais de dez anos trabalha com observação e pesquisas científicas com primatas. Ele inclusive mora numa comunidade próxima ao parque. Seus principais clientes são pesquisadores e turistas estrangeiros.
“O produto que vendo é a observação de muriquis. Garanto 100% de aproveitamento, pois acompanhamos os macacos três dias antes para podermos encontrá-los. O passeio começa às 5 horas da manhã, nós vemos o sol nascer na mata e encontramos os animais. No máximo, sete pessoas podem ir em cada visita. Eles podem permanecer, após o contato, no máximo três horas, desde que mantenham silêncio”, diz Silva.
Outro empreendimento que recebeu mentoria foi a Sapiência Ambiental, um escritório cooperativo de projetos socioambientais localizado no bairro de Parelheiros, na periferia de São Paulo. A empresa foi fundada por Rafael Martese Privato, André Kenez, Ligia Monteiro e Vitor Tonzar Chaves. Seu principal produto é a implementação de sistemas de saneamento ecológicos, aplicável a comunidades isoladas, a partir de um modelo desenvolvido por um dos fundadores. O sistema é construído com insumos de baixo custo, como brita, bambu e cascas e utiliza plantas para o tratamento dos resíduos. Os membros realizam também cursos e oficinas de permacultura.
O modelo de negócio é voltado ao poder público, em busca de baratear a solução para um dos principais problemas históricos do país: o saneamento básico. A construção de sistemas de tratamento de esgotos tem efeitos relevantes na melhora de indicadores de saúde, sobretudo na redução de mortalidade infantil. Há ainda o efeito ambiental de prevenção à contaminação de lençóis freáticos e também o envolvimento da comunidade nas obras, com a tentativa de criar replicadores do projeto.
O terceiro negócio a receber mentoria foi a Terra Nativa, uma das empresas mais consolidadas identificadas pelo Mapa, existente desde 1997. Voltada para o turismo pedagógico e com uma carteira de clientes extensa, a Terra Nativa desenvolve roteiros diferenciados para adultos, famílias e, principalmente, escolas.
A empresa aplica conteúdos de sala de aula ao ar livre e customiza novas experiências sob demanda. Geralmente, os roteiros são realizados em unidades de conservação, como o Parque Estadual da Ilha do Cardoso e o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (Petar), ambos no estado de São Paulo.
Fundado pela bióloga Paulin Antar Talaska, o negócio tem claro impacto positivo na conservação do território da Grande Reserva. No entanto, em razão da pandemia, as atividades foram suspensas. Para contornar a situação, a empresa lançou um novo produto: a Expedição Virtual. Nele, são oferecidos conteúdo ambiental, histórico e cultural, com filmagens das áreas naturais, dos empreendimentos e de pessoas dos locais visitados. A solução envolve toda a comunidade. A coconstrução também abrange a remuneração e valorização do trabalho de todos, garantindo, mesmo durante a pandemia, a renda das comunidades nas áreas protegidas.
Perfil financeiro dos empreendimentos mapeados
Entre os negócios mapeados, 39% estão localizados em São Paulo, 32% no Paraná e 10% em Santa Catarina. O restante tem sede em outras localidades, mas com atuação na Grande Reserva.
Em relação à idade dos negócios, 53% têm menos de cinco anos e ainda estão na fase inicial de desenvolvimento. De acordo com o levantamento, 71% deles encontram-se no chamado “vale da morte”, entre as fases de ideação e organização do negócio. “Empreendimentos neste estágio ainda estão muito frágeis e suscetíveis ao fracasso. É neste momento que eles precisam de foco, planejamento, orientação e até investimento externo para que se estabeleçam e avancem. Quanto mais negócios maduros e com modelo que contribui para a proteção do meio ambiente existirem, mais chances temos de gerar desenvolvimento, lucro e empregos a partir da conservação da natureza”, pondera Karam.
Pelo fato de a maioria dos negócios ser early stage (em fase inicial de desenvolvimento), 59% nunca foram acelerados ou incubados, mas buscam essa oportunidade. Embora a maioria dos empreendedores busque formas de alavancar seus negócios, 47% ainda não têm a intenção de captar dinheiro externo. Apenas 38% estão atualmente participando de rodadas de captação.
Entre os negócios que já captaram recursos, as doações são o principal meio (30%), seguida pelos empréstimos (13%), equity (9%) e dívida conversível (2%). Outros 9% não responderam e 43% afirmaram nunca ter recebido qualquer tipo de financiamento, seja de pessoas, empresas, organizações ou dos próprios sócios.
Ainda sem avaliar os impactos da crise da Covid-19 na saúde financeira dos negócios mapeados, a análise de faturamento acumulado revela uma curva de crescimento nos últimos três anos. Enquanto, em 2017, 48% deles não tinham faturamento, esse percentual caiu para 35% em 2019. Ao mesmo tempo, a quantidade de empreendimentos que faturaram até R$ 100 mil saltou de 25% para 37% no mesmo período. Em outro patamar, 6% faturam de R$ 100 mil a R$ 500 mil e 3%, mais de R$ 1 milhão.
Monitoramento de impacto
Dos negócios mapeados, somente 15% mantêm algum processo formal de monitoramento do seu impacto. Esses empreendimentos encontram-se em fase mais madura na jornada, já faturando, não foram acelerados, mas receberam ao menos um prêmio. Por se tratar de uma região na qual a conservação da natureza deve ser vista como um ativo para os negócios, há bastante oportunidade para que sejam desenvolvidas estratégias aplicáveis para que o impacto dos negócios seja monitorado e, cada vez mais, direcionado à geração de ainda mais benefícios à sociedade e ao meio ambiente.
Raça, gênero e escolaridade
O 1º Mapa de Empreendedorismo Sustentável na Grande Reserva Mata Atlântica também analisou o perfil dos empreendedores à frente dos negócios. Os quadros mistos são a maioria (46%), enquanto os comandados exclusivamente por homens representam 19% e aqueles liderados apenas por mulheres, 16%.
Negócios fundados só por mulheres tendem a se concentrar nos eixos temáticos Educação Ambiental; Turismo Sustentável; Produtos e Serviços Sustentáveis; e Cadeias Produtivas da Biodiversidade. A maioria é microempreendedor individual (MEI) ou ainda não formalizou uma empresa, registrando nenhum faturamento em 2019 ou até R$ 50 mil.
Já entre as empresas fundadas só por homens estão presentes em todos os eixos temáticos; tendem a ser também não formalizados e MEIs (mas são maioria entre as sociedades Ltda) e a apresentar faturamento no último ano, ainda que baixo (maioria até R$ 50 mil).
Quando analisada a idade média do principal fundador, 33% têm de 30 a 39 anos, seguidos pela faixa etária 40-49 anos (27%) e 50-59 anos (15%).
No recorte racial, a participação de outras raças que não a branca na liderança dos negócios é um desafio do setor empreendedor que também se vê presente no mapeamento da Grande Reserva. A grande maioria das iniciativas analisadas são comandados pessoas que se autodenominam brancos (68%), enquanto 13% por pardos e 5% por negros.
No grau de escolaridade, a base mapeada apresenta perfil bastante técnico, apontando alto índice de pesquisadores empreendendo na região, com 50% deles com pós-graduação (mestrado, doutorado ou pós dourados) e 27% com o superior completo. Foram 16% que responderam não ter concluído a graduação e apenas 1% não completou o ensino médio.
Sobre a Fundação Grupo Boticário
Com 30 anos de história, a Fundação Grupo Boticário é uma das principais fundações empresariais do Brasil que atuam para proteger a natureza brasileira. A instituição atua para que a conservação da biodiversidade seja priorizada nos negócios e em políticas públicas e apoia ações que aproximem diferentes atores e mecanismos em busca de soluções para os principais desafios ambientais, sociais e econômicos. Já apoiou cerca de 1.600 iniciativas em todos os biomas no país. Protege duas áreas de Mata Atlântica e Cerrado – os biomas mais ameaçados do Brasil –, somando 11 mil hectares, o equivalente a 70 Parques do Ibirapuera. Com mais de 1,2 milhão de seguidores nas redes sociais, busca também aproximar a natureza do cotidiano das pessoas. A Fundação é fruto da inspiração de Miguel Krigsner, fundador de O Boticário e atual presidente do Conselho de Administração do Grupo Boticário. A instituição foi criada em 1990, dois anos antes da Rio-92 ou Cúpula da Terra, evento que foi um marco para a conservação ambiental mundial.
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