Gestão financeira de empresas deve ter ao menos três cenários na crise, destaca especialista
Mestre em administração e professor da Fundação Fritz Müller fala sobre a importância do planejamento financeiro no cenário de pouca previsibilidade pelo qual estamos atravessando e traz dicas de como estruturar o fluxo de caixa para um pós-crise com mais liquidez
Austeridade com a gestão do caixa. Essa é uma das principais observações que o mestre em administração Henrique Rocha, professor da Fundação Fritz Müller, aponta ao falar sobre planejamento financeiro num momento de tantas incertezas. “A gestão de custos precisa ter relevância, mas é preciso ser rígido com a gestão do caixa. Em fases assim, o foco deve ser no curto prazo sem perder o propósito da empresa, e isso requer seguir uma série de premissas a serem definidas em cada caso”, explica.
Para o professor, traçar uma estratégia econômica requer analisar vários pontos que influenciam na estrutura do caixa da empresa, tais como negociação com fornecedores, captação de recursos com bancos, gastos e investimentos adiáveis, além da forma como está sendo feita a gestão do estoque. Neste último item, destaque para a oportunidade de aprimorar a administração do estoque, estabelecendo critérios claros de reposição conforme giro e necessidade, de forma que a empresa não fique sem produtos – e sem perder oportunidade de vendas -, mas que esse excedente não signifique pressão sobre o caixa, com giro de capital.
“O principal foco é manter um ciclo financeiro saudável, para que a empresa consiga cumprir seus compromissos, que tenha o mínimo de liquidez e também mantenha a operação como um todo saudável. Assim, procurar diminuir esse ciclo financeiro, que são os prazos relacionados ao giro de estoque, de recebimento dos clientes e de pagamento dos fornecedores pode ajudar a estruturar melhor o caixa”, comenta Henrique. Nesse ponto, um bom relacionamento com os fornecedores, mantendo-os também com capacidade produtiva, é fundamental, evitando assim a ruptura com a entrega dos insumos.
Lidar com três diferentes percepções é essencial para as finanças
Henrique indica traçar pelo menos três cenários ao desenvolver o planejamento financeiro: um realista, com uma tendência conservadora, um otimista e um pessimista. O objetivo é monitorar as tendências e comportamento desses caixas para que se tenha uma melhor previsibilidade. “O planejamento financeiro, via fluxo de caixa, não elimina o risco da decisão. Ele minimiza o risco e subsidia melhor, gera mais assertividade em relação às decisões financeiras”, comenta. Outro ponto positivo desse planejamento de fluxo de caixa a curto e médio prazos é que é possível enxergar quais os saldos mensais no período de julho a dezembro, por exemplo, quando se pensa no segundo semestre de 2020. E assim, definir ações concretas e efetivas que gerem menos impacto na saúde financeira do negócio.
Quando o assunto é captação de recursos com terceiros, o mestre em administração oferece algumas dicas: analisar muito bem a necessidade de empréstimos, definir critérios para ter prazos de negociação e fazer com que a instituição bancária perceba para onde a empresa está caminhando, quais as estratégias e perspectivas de resultado do empreendimento.
E por fim, é importante aproveitar a oportunidade que todas as crises proporcionam. “Ao passar por um cenário recessivo, a pressão é grande para a gestão de custos e ganhos de produtividade. O que indico é que esse aprendizado permaneça na empresa, que ela consiga mudar o patamar, o padrão de produtividade, para que num momento seguinte, ou seja, após a crise, que ela esteja mais estruturada, se tornando mais competitiva, implantando novos processos, se necessário, e mantendo uma referência padrão. O foco, neste momento, é planejar para sair mais forte e com uma boa liquidez dessa crise”, completa.
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