O que brindes de fim de ano dizem sobre relação entre empresas e pessoas
Faz poucos dias, chamei um carro por aplicativo na viagem que fiz a uma grande capital do Nordeste. O motorista, que era do interior do estado, escolheu uma voz automática para indicar as rotas do Waze, de sotaque muito diferente do que estou acostumado a ouvir. Francês com o coração brasileiro e vivendo há mais de 10 anos em São Paulo, ainda me impressiono com a diversidade de culturas do país. Nesse cenário, como as empresas fazem para se comunicar com clientes tão diversos?
Enquanto na Europa o espanhol, o italiano, o alemão e dezenas de nacionalidades in’tegram países distintos, com seus próprios governos, economias, negócios e lideranças, o Brasil concentra o diverso em um único território. Uma nação que, apesar de unificada pelo mesmo idioma, oferece infinita riqueza de hábitos de consumo, comportamentos e realidades que, se não forem compreendidas, dificultam o diálogo entre as empresas e as pessoas.
Estamos a poucas semanas do fim de 2024 e as organizações já se movimentam para entregar os brindes de Ano Novo. Nada contra as habituais canetas, blocos, bolsas e squeezes. O que devemos pensar é o quanto os brindes agregam utilidade a quem foi presenteado, ou valor à marca que os distribui. Se, de fato, conversam com a cultura da empresa, acrescentam mensagens, crenças ou emoções.
Ações transformadas em gestos mecânicos podem representar algo pior: da mesma forma que brindes aleatórios e sem significado, será que ao longo desses 12 meses deixamos de enxergar as pessoas nos processos – e através de nossas soluções passamos a entregar em produtos e serviços mais do mesmo?
Para evitar esse risco, é urgente confirmar se estamos entendendo as diferentes culturas do país (ou da empresa) e humanizando a relação, antes de entregar o que nossos stakeholders demandam. Se estamos criando pontes para que as pessoas se identifiquem e se aproximem.
A variedade de culturas, que a princípio é um desafio gigantesco no Brasil, também é uma oportunidade para negócios aprenderem a ser mais flexíveis e adaptáveis a perfis diversos. Vale, então, refletir sobre como as empresas têm se preparado para isso: em uma organização com centenas de profissionais, que atende a diferentes áreas do país, quantas dessas pessoas já saíram de sua cidade, do seu estado, ou da sua região para conhecer outras culturas?
Quantas pegaram um avião, saíram do perímetro das grandes capitais? Não precisa nem ir tão longe. Quantas têm conversado com os colegas, olhado o mundo através dos olhos do outro, feito perguntas aos clientes, vizinhos, ou mesmo ido até a sala ao lado na empresa, para conhecer perspectivas distintas?
A cultura se constrói e se conhece no diálogo e no contato. Se há brindes de fim de ano que acabam entregues por força da tradição e encostados no fundo da gaveta, o mesmo não pode acontecer com as soluções que oferecemos. Culturas e necessidades são dinâmicas. Soluções, portanto, precisam evoluir com sensibilidade e novas percepções, para ajudar quem está ao nosso redor a acreditar, evoluir e transformar seu dia a dia.
Seja na implantação de produtos, tecnologias e processos novos ou no seu próximo passo no mercado, o melhor brinde que podemos dar às nossas empresas é entender as culturas associadas ao negócio antes de tomar decisões. Valorizar a proximidade para ser mais assertivo, construindo relações destinadas a durar o ano inteiro e a vida toda. Para a transformação que as organizações buscam ter maiores chances de se concretizar, antes de tudo ela precisa fazer sentido, tanto para as pessoas quanto para as culturas a que as pessoas pertencem.
**Thomas Gautier tem duas décadas de experiência em grupos internacionais e assumiu como CEO do Freto em 2021. O executivo iniciou sua carreira na França e tornou-se CFO da Repom, no Brasil, em 2013. Em 2017, virou diretor-geral da Repom e, em 2018, passou a ser Head de Logística do Grupo Edenred, quando, em sua gestão, o Freto nasceu.
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