Santa Catarina: marcha de crescimento do mercado segurador prossegue em 2024
A expectativa é que a receita neste ano alcance a casa de dois dígitos (mais de 11%), ao se apropriar de um ambiente mais favorável ao consumo de seguros.
“Olhando para 2024 estamos otimistas, temos um cenário econômico que sinaliza um ambiente favorável para o consumo de seguros, já que a expectativa da redução da taxa de juros (Selic) terá como consequência o crédito mais barato, incentivando assim o consumo e a produção. São situações que estimularão a atividade econômica, algo tão importante para nosso mercado”
O prognóstico é do presidente do Sindicato das Seguradoras de Santa Catarina (SindsegSC), João Amato (profissional da Zurich), 28 anos de atuação no mercado segurador, em entrevista exclusiva ao Notícias de Seguro.
Em tempo: a percepção de riscos está mais aguçada entre os consumidores catarinenses e tem a ver com as ações educativas para aumentar a cultura de seguros no estado. Extremos climáticos e seus efeitos incertos e pesados, inclusivo o risco de morte, levam consumidores à compra de Previdência Aberta, Seguro Automóvel e coberturas de Pessoas, os três ramos mais relevantes no market share das seguradoras locais
Leia, a seguir, a entrevista de João Amato:
1) O que dizem os números sobre o comportamento do mercado local, olhando os dados acumulados no ano? Em SC, estamos falando de uma receita de R$ 14 bilhões no ano até outubro, alta de 8,6% (sem Saúde e sem DPVAT). Qual sua previsão de fechamento do ano?
O Estado de Santa Catarina, com seus 295 municípios e uma população de pouco mais de sete milhões e seiscentas mil pessoas, vem em um ritmo de crescimento em receitas de seguros na ordem de 8,6% no acumulado até outubro/2023. São R$ 14 bilhões de prêmios de seguro (excluindo Saúde e DPVAT) distribuídos nos seguros de Danos e Responsabilidades e seguros de Pessoas. O destaque fica para Automóvel, com 18% de participação nos prêmios totais e crescimento de 10,8%, dos seguros Patrimoniais, com 8% de participação nos prêmios totais e crescimento de 47,2%, bem como, dos seguros de Pessoas e Previdência Aberta, com 15% e 42% de participação nos prêmios totais, e, 4,4% e 5,8% de crescimento, respectivamente. Com os dados do fechamento do ano, esperamos um crescimento na ordem de dois dígitos e assim seguir a disseminação da cultura do seguro, protegendo o maior número de empresas e pessoas.
2) Os dados de média móvel de 12 meses ratificam uma desaceleração no ritmo de crescimento da receita- caiu de 12,2% (jun23/jun22) para 8,9% (out 23/out 22). Isso é uma sinalização de que a taxa projetada para 2024 tende a se acomodar na casa de um dígito ou não?
Olhando para 2024 estamos otimistas, temos um cenário econômico que sinaliza um ambiente favorável para o consumo de seguros, temos a expectativa da redução da taxa de juros (SELIC), que terá como consequência o crédito mais barato, o que incentivará o consumo e a produção. São situações que estimularão a atividade econômica, tão importante para nosso mercado. Os contextos anuais são muito específicos e a desaceleração comparando dois períodos não pode ser expandida. Por isto, em linha com as estimativas da CNseg, também, projetamos em 2024 um crescimento do setor segurador em Santa Catarina acima de 11%.
3) Quais são as carteiras de maior market share no seu estado e como o senhor avalia o comportamento das vendas nessas modalidades no ano?
No Estado de Santa Catarina as maiores participações de market share são a Previdência Aberta, com 42% de participação, seguido por Automóvel com 18% e Seguro de Pessoas com 15%. O comportamento das vendas nestas modalidades no ano apresenta crescimento, algo impulsionado pela percepção dos consumidores de dispor de maior proteção por meio de apólices de seguros, seja motivado pelos prejuízos ocasionados a cada ocorrência climática, como os ciclones que atingiram recentemente o Sul do Brasil, seja pela maior preocupação com o planejamento financeiro, por conta do aumento na expectativa de vida, e, ainda, garantir para suas famílias segurança financeira, caso venha a faltar, como por exemplo, por conta de morte. Certamente, ainda há grandes oportunidades de aumentarmos a penetração de seguros e previdência e desenvolver nosso mercado de seguros. Somente para exemplificar, temos apenas 30% da frota nacional com seguro de Automóvel; em Vida, este percentual é ainda menor, em torno de 17%. Com esta simples análise, concluímos que podemos fazer muito mais do que estamos fazendo.
4) Seu estado está entre os que mais sofrem os efeitos dos extremos, incluindo uma sequência de tornados no ano, além de tempestades convectivas etc. Quais as carteiras que mais de perto traduzem essas perdas seguradas?
Santa Catarina vem sofrendo o impacto das mudanças climáticas neste ano, mas temos um povo resiliente, com muita garra e força de vontade. As calamidades em diversas regiões do estado têm tirado vidas, soterrado e destruído moradias, além de danificar rodovias essenciais para a economia catarinense. Em 2023, lembramos os 15 anos do maior desastre climático de Blumenau e do Vale do Itajaí, que ocasionou em 2008 quase três mil deslizamentos, com quase dez mil desabrigados. Sobre as carteiras com mais perdas, temos os seguros patrimoniais. De acordo com a FenSeg (dados 04/2023) apenas 17% das residências no Brasil atualmente estão protegidas por uma apólice, seguros patrimoniais para pequenos negócios também tem aderência baixa. Precisamos disseminar ainda mais a cultura de seguros, pois essa lacuna de proteção ainda é um dos obstáculos para garantir proteção da população e seu patrimônio o máximo possível.
5) Essa é também a razão para que tenha havido expansão acelerada da arrecadação dos prêmios? Em Auto, a receita alcançou R$ 2,5 bilhões até outubro, alta de 10,8%; no residencial, R$ 299 milhões, evolução de extraordinários 25,1%. A alta de prêmios das demais modalidades do ramo Patrimonial (na maioria, de dois dígitos entre os massificados) tem a ver com a prevenção aos fatores climáticos ou podem ser explicados por outros fatores, incluindo-se avanço da cultura de seguros, novos canais de distribuição, aversão a riscos, um legado da pandemia... etc.
Exatamente isto. Uma combinação de fatores resulta no crescimento da arrecadação e mais apólices de seguro. Temos a convicção de que a percepção do risco fica mais latente quando ocorrências climáticas se apresentam, mas, além deste fator, precisamos destacar o trabalho diário dos profissionais corretores de seguros em alcançar a população, ofertando uma gama de produtos e serviços, utilizando, sim, das ferramentas tecnológicas e de uma maior conscientização da população, que começa a compreender o quão importante é estar segurado.
A cultura do seguro em Santa Catarina é bem difundida, e já podemos perceber que há compreensão da sociedade sobre a importância de preservação das conquistas, e, nesse sentido, o mercado de seguros é peça-chave. Somos conscientes quanto ao trabalho que ainda precisamos realizar, porque há ainda uma baixa penetração de seguros na população brasileira. Estamos num processo de evolução.
6) Olhando a previsão do Inmet para o verão em seu estado, o que se pode antever para os seguros que mais sofrem com os efeitos das mudanças climáticas.
Os impactos climáticos estão cada vez mais frequentes no Brasil, o que não é diferente em Santa Catarina. De acordo com o Ministério da Integração Regional, os eventos climáticos geraram prejuízos a iniciativa privada na ordem de R$ 320,1 bilhões entre os anos de 2013 e 2022 (nacionalmente).
A Região Sul lidera esse ranking infelizmente, com o maior percentual de casas afetadas. O cenário atual reforça cada vez mais a necessidade de levar a cultura do seguro para todos os setores. A agricultura, a pecuária, a indústria, o comércio e os serviços são afetados. O SindsegSC já vem há anos com essa pauta em suas ações. Painéis com especialistas das áreas, os geólogos, os meteorologistas, defesa civil, entre outros, trouxeram debates para superar os desafios relacionados aos eventos climáticos no estado.
7) Para finalizar, qual sua projeção de crescimento de prêmios e de indenizações do mercado local para 2024?
Seguiremos nossa atuação com foco no PDMS (Plano de Desenvolvimento do Mercado de Seguros) onde precisamos ampliar a proteção das famílias, dos negócios e da sociedade em geral. O PDMS possui como principais objetivos: aumentar a parcela da população atendida em 20% pelos diversos produtos do mercado de Seguros, Previdência Aberta, Saúde Suplementar e Capitalização; elevar o pagamento de indenizações, benefícios, sorteios, resgates e despesas médicas e odontológicas dos atuais 4,6% do PIB para 6,5% do PIB; e fazer com que o mercado segurador atinja uma participação equivalente a 10% do PIB. Objetivos estes a serem alcançados até 2030. Estamos alinhados com a CNseg e projetamos o crescimento de prêmios do mercado para 2024 acima de 11%, seguindo o crescimento no ritmo de dois dígitos, mas principalmente, levando proteção ao maior número possível de catarinenses.
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