A conexão do masculino e feminino nas práticas de ESG
Especialista em desenvolvimento humano explica a importância do autoconhecimento para o bom desempenho profissional
A professora, administradora de empresas e escritora Marcela Argollo trilhou um caminho profissional que a levou da especialização em Planejamento Estratégico à capacitação em ESG (Environmental, Social and Governance), mas com o diferencial de ter atravessado uma jornada pessoal e transformadora de autoconhecimento, resultando em um trabalho que parte do desenvolvimento humano não apenas para alcançar resultados corporativos positivos, mas capaz de modificar o mindset dos profissionais envolvidos, consequentemente imprimindo uma identidade às organizações empresariais de real engajamento e prática de valores e princípios alinhados com os conceitos de gestão englobados pelo ESG.
“Os modelos de negócios precisam passar por uma grande regeneração, que vai além de uma simples mudança nos sistemas de gestão. Para que isso aconteça, é preciso que as pessoas mudem internamente, porque são elas que desenvolvem liderança. E o caminho que eu tenho proposto é por meio do equilíbrio entre as energias do feminino, que é magnética, e masculino, que é elétrica”, diz Marcela.
Ela conta que uma de suas primeiras percepções sobre si foi a de que ela era uma pessoa energeticamente masculina, e que precisava mergulhar em seus medos e traumas para fazer as pazes com sua essência feminina, encontrando esse equilíbrio para conhecer a si mesma verdadeiramente e, assim, estar pronta para relacionar-se com a vida em sua plenitude.
Dessa profunda experiência, ela tirou lições que a levaram a estabelecer uma metodologia de desenvolvimento humano, levando essas percepções para o mundo corporativo e acadêmico, de forma a despertar nas pessoas o entendimento de que só através do autoconhecimento é possível promover mudanças externas, que impactem o ambiente ao redor e até o mundo.
“A energia feminina, que pode ser de muita vulnerabilidade e incerteza, é também resiliente como o bambu, que balança, enverga, mas não quebra. Quando acessamos isso, não há nada que nos abale. Quando eu sei quem eu sou, de onde vim, o que eu vim fazer aqui e como eu opero, pode vir a tempestade que for, que vai levar minhas folhas, mas minha raiz estará bem fincada no chão. Para que isso aconteça, temos que mergulhar numa jornada muito intensa”, expõe Marcela.
Ela aponta que as energias masculina e feminina são complementares. “Hoje vivemos o oposto da polaridade. Há mulheres com energia masculina e homens com energia feminina. O equilíbrio regenerativo só acontece por meio da interconexão das duas energias. Energeticamente, o feminino é uma energia magnética, e o masculino é elétrico. Hoje, as mulheres estão numa polaridade muito elétrica, mas para que essa eletricidade funcione bem, precisamos do magnetismo do feminino”, opina.
Seu trabalho tem sido levar o conceito do equilíbrio regenerativo para dentro das empresas, aplicado às estratégias de ESG que, segundo ela, tem sido cada vez mais incorporado à gestão corporativa, uma vez que tem passado cada vez mais a ser uma exigência de fundos de investimento como uma garantia de uma política sólida de governança empresarial.
A especialista aponta que está acontecendo uma mudança importante no mindset das Organizações no sentido de aderir e aplicar o conceito de Governança Colaborativa, com o objetivo de cooperar com a regeneração da sociedade e do meio ambiente. “Isso é possível por meio de uma rede de ecossistemas e de uma economia circular inteligente. A visão sistêmica de ESG reconhece a interconexão entre as questões ambientais, sociais e de governança, e como elas podem afetar uns aos outros”, completa.
“Por isso, nesse processo de expansão da consciência para uma melhor absorção do conceito de ESG, entrei com a teoria do equilíbrio entre a energia feminina e masculina, porque somos os dois. Somos metade nossa mãe e metade nosso pai. Para isso funcionar, é preciso operar nas duas energias e saber quais são os pilares que regem cada uma.
Em seu trabalho, Marcela estabeleceu 26 pilares que estão ancorados pelo pilar sistêmico para que o indivíduo possa desabrochar e estar em sua real essência. “Quando a pessoa está alinhada consigo, consegue estar alinhada com o divino e com a Terra, e assim é possível se alinhar com o outro e com a natureza. Isso é tão simples que chega a assustar”, declara, concluindo que sua mentoria inclui um mergulho profundo em cada um desses pilares do autoconhecimento para que no decorrer das ações e da vida corporativa sejam feitos os ajustes finos e sutis que sejam necessários.
O caminho de Marcela Argollo
Professora de ESG e liderança inovadora nos cursos de MBA e Pós-Graduação da FGV e ESPM, Marcela é autora do livro “A arte do equilíbrio - alinhar-se é o melhor caminho para a liderança regenerativa”, em que descreve como a experiência e desafios que teve que enfrentar em sua vida pessoal e profissional a levaram à busca do autoconhecimento, onde encontrou respostas assertivas e uma metodologia de vida que a capacitou a uma mudança completa em sua forma de ser, levando-a a desenvolver uma metodologia de aplicação deste conceito no mundo corporativo.
Marcela Argollo foi tenista de alto rendimento e atribui ao esporte sua característica de foco e determinação. Na carreira profissional, começou atuando na área de auditoria em uma grande corporação, onde lidou com princípios rígidos de organização e métodos. Migrou para a área de planejamento estratégico em outra empresa, onde se opôs a comportamentos éticos dos quais discordava. Teve dois filhos, passou por um divórcio conturbado e quando retornou ao mercado de trabalho deparou-se com o conceito de compliance, que começava a ser incorporado ao mundo corporativo.
Encontrando identificação com a área, mergulhou em um processo de capacitação, ao mesmo tempo em que entendia que sua vida pessoal e maneira de enfrentar as adversidades precisava de uma mudança de dentro para fora. “Eu não sabia ainda exatamente o que eu queria, mas tinha bem claro o que não queria, e foi então que iniciei minha imersão no autoconhecimento”.
Essa busca incluiu desde diversas terapias alternativas e exercícios para a mente, o corpo e a alma, que iniciou em período sabático que a levou a trilhar o caminho Português até Santiago de Compostela.
“O caminho chega quando o Caminho termina. Muitas pessoas fazem essas jornadas de autoconhecimento, mas se esquecem que o caminho começa quando voltamos para casa e tomamos ações. É preciso fazer mudanças, trocar hábitos, traçar estratégias e se modificar”, afirma.
Ela começou a ver o compliance como ferramenta de um sistema de governança corporativa, que está dentro de um sistema maior, o ESG, e entendê-lo como um estilo de vida. “Ser ético é tomar a ação para si. Se eu tinha que liderar pelo exemplo, então, precisava fazer essa mudança de estilo de vida”, finaliza.
Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
<::::::::::::::::::::>