Como sustentar uma cultura corporativa baseada nos pilares ESG?
Por Fabiana Rosa, Gerente de Comunicação e Sustentabilidade da Indra e Minsait no Brasil
Não é de hoje que os temas ligados à sustentabilidade têm se mostrado cada vez mais centrais para o debate público, marcando presença tanto no cotidiano das pessoas quanto nas estratégias e práticas administrativas de organizações públicas e privadas. Uma pesquisa realizada em 2021 pela Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN) indicava que, à época, a maioria dos brasileiros já estava familiarizada com o conceito de sustentabilidade, embora seu entendimento do assunto ainda fosse disperso e fragmentado.
Prova disso é que, ao mesmo tempo em que 63% dos entrevistados se diziam bem informados ou informados sobre questões ambientais, praticamente o mesmo percentual (62%) dos respondentes se considerava pouco ou nada informado a respeito de temas ligados à governança corporativa. Com isso, fica evidente o descompasso entre o nível de instrução acerca das diferentes dimensões da chamada pauta ESG, que se estende para além da agenda ambiental e abarca, ainda, tópicos de ordem social e ética, que envolvem responsabilidades de governos e empresas, além do próprio cidadão comum.
No entanto, a despeito dessa assimetria no conhecimento sobre ESG, o mesmo levantamento da FEBRABAN também destaca que, acompanhando uma tendência global, o consumidor brasileiro se mostrou bastante atento aos comportamentos das marcas na hora de tomar decisões sobre a aquisição de produtos e serviços. Afinal, mais de 90% dos entrevistados indicaram que ações de responsabilidade social e ambiental influenciam não só suas opiniões a respeito de uma empresa, mas também sua forma de se relacionar com ela.
Atualmente, sabemos que esse comportamento não se restringe à esfera do consumo, haja vista que cada vez mais funcionários e investidores, por exemplo, têm exigido transparência com relação aos compromissos ESG assumidos por seus empregadores e pelas instituições nas quais aplicam seu dinheiro, respectivamente. Com isso, a adoção de uma agenda sustentável deixou de ser um mero requisito exigido em controles internos e relatórios de verificação e passou a figurar tanto como um diferencial competitivo quanto como um indicador de reputação frente ao mercado.
Contar com um plano de negócios transparente, voltado para a preservação do meio ambiente, engajado no fomento à diversidade e à igualdade de oportunidades e comprometido com práticas de gestão corporativa responsáveis tornou-se um passo decisivo na hora de projetar o crescimento de uma organização, além de um componente importante na comunicação com o público externo e no próprio relacionamento da empresa com o mercado de trabalho. Afinal, o alinhamento aos princípios ambientais, sociais e de governança modificou não só a maneira como as corporações recrutam seus profissionais, mas também o modo como os candidatos escolhem seus empregadores.
Em suma, não restam dúvidas acerca da relevância da pauta ESG para os negócios, bem como de sua influência nos processos de tomada de decisão das lideranças corporativas. No entanto, a pergunta que fica é: como sustentar uma cultura baseada nos pilares ambiental, social e de governança e, ao mesmo tempo, alinhada aos interesses operacionais e financeiros da empresa?
Apesar de não haver uma resposta única para essa questão, acredito que um dos possíveis caminhos está na definição e implementação de uma agenda sustentável capaz de permear todos os estratos e níveis hierárquicos da corporação, por meio de follow-ups constantes, ações mensuráveis, relações transparentes com os colaboradores, estratégias de contratação inteligentes e parcerias comerciais responsáveis.
Embora já estejamos cientes do quão prioritária a pauta ESG tem se tornado para os executivos do alto escalão, ainda é preciso compreender que a aceleração das práticas de sustentabilidade depende de uma mentalidade comum, articulada também pelos mais jovens, que compõem a base da pirâmide hierárquica, mas que já adentram o mercado atentos à importância dessa temática. Ao mesmo tempo, é preciso engajar os profissionais sêniores, apresentando-lhes as credenciais ESG como um diferencial mercadológico, capaz de aportar valor tanto para a corporação quanto para a sua própria trajetória profissional.
Enfim, é preciso que as organizações se apropriem da agenda sustentável, utilizando-a como uma alavanca de transformação cultural, capaz de atrair profissionais qualificados e parcerias positivas, convertendo-se, assim, em um ativo de peso para a reputação da empresa. Porém, a construção de uma cultura ESG sólida só será possível a partir de uma estratégia que ultrapasse os limites das salas dos comitês de direção e envolva todos os colaboradores, sem distinção de cargo ou de função.
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