Mundo Sem Escrúpulo
O título acima epigrafado denota, em um primeiro momento, provavelmente, um certo grau de amargura deste cronista. Porém, não se trata somente deste enfoque enviesado no olhar descrente do que acontece nos dias que se sucedem.
Cuida-se, sim, também de indignação e de se quedar até desorientado, magoado e perplexo frente a avalanche de fatos disseminados através do mundo afora.
Estamos vivenciando inúmeras contrariedades existenciais no ser humano. Elejo, apenas, de início, uma delas, o homem que na sua essência deve optar, dentre outras qualidades, em ser escrupuloso.
O escrúpulo significa, em uma breve síntese, uma consciência dotada de sentido moral, em que se encontra forjado um caráter íntegro personificado na imagem do homem, em sentido lato.
A guerra que se trava, atualmente, entre a poderosa Rússia e a pequena Ucrânia é uma prova insofismável e irrefutável, entre inúmeras outras mazelas sociais, que grassa, de forma inclemente e abjeta no mundo da atualidade. Destarte, dentre variegadas motivações se pode afirmar, sem medo de errar, que ela é objeto de ambições, independentemente de muitos outros interesses que subjaz neste tipo fraticida.
De outro giro, desnudando a realidade do que se passa entre os poderosos o alto índice de má-fé permeia a mente de quem tenta obter sucesso, de qualquer modo, por meio de arrojadas e funestas atitudes, salvantes raríssimas exceções.
Atentando, por exemplo, sob à ótica do contrato de seguros já que se trata aqui de um sítio voltado ao mundo securitário, todos nós somos sabedores de que o princípio da boa-fé é um dos preceitos basilares para que se desenvolva este tipo contratual, proveniente de obrigações relacionais. Este tipo obrigacional é oriundo de relações duradouras que se desenvolve através de contratos sucessivos como é o caso do contrato de seguro e da própria previdência privada.
A situação, verbi et gratia, se destorce quando as partes deixam de proceder com lisura no trato comum de qualquer atividade, seja ela política, profissional ou até intelectual.
A guerra, voltando ao que acima alinhavei, é uma distorção do ser ontológico que busca desde priscas eras o que preconizava o filósofo grego Aristóteles ao constatar que o homem é um ser gregário, necessitando de bens da vida em comunidade sendo, por isso, um ser carente e imperfeito, que procura buscar seus iguais para alcançar a completude. E a partir disso, parte o sobredito filósofo, da afirmação de que o homem é naturalmente político. Além disso, para Aristóteles, quem vive fora da comunidade organizada - Cidade ou Pólis – se torna um ser degradado ou um ser sobre-humano (divino).
Quando se trata da má-fé essa também, sobretudo nos tempos de pandemia parece se sobrepor às inteiras ao seu sentido antônimo.
Querem um exemplo eloquente e atual em tema correlato ao seguro, como acima destaquei?
A falta de transparência, sob os mais diversos pretextos por ocasião do informe de rendimentos para efeitos de imposto de renda está campeando a solta e as escancaras, quando determinadas Administradoras de Planos de Saúde, se recusam e não ouvem postulações de seus associados no sentido de obter tais formulários no tempo e na forma determinada por nossa legislação.
Não estamos, então, vivendo um mundo sem escrúpulo?
Neste pensar, valho-me da nota de rodapé de Olavo de Carvalho saudado pela crítica como um dos mais originais e audaciosos pensadores brasileiros, respeitando opiniões divergentes, é claro.
“Não há neste país um só jornal, estação de rádio ou canal de TV que se exima da obrigação de informar, que procure mesmo discretamente abafar denúncias, proteger reputações, acobertar suspeitos. E, em seguida, sentencia: “Nem países em guerra, movidos pela necessidade de unir-se em defesa de bens mais palpáveis contra perigos mais imediatos e letais, lograram homogeneizar a tal ponto o discurso de seus jornalistas”. (O Jardim das Aflições, 3ª Edição. Vide Editorial, páginas 33/34).
Timbro nesta crônica, outrossim, uma das frases consagradas por Hegel (filósofo alemão) para reflexão de todos nós, estimados leitores e dedicadas leitoras: “ o drama não é escolher entre o bem e o mal, mas entre o bem e o bem”.
E assim deve ser a nossa bússola que norteia a vida e a atuação terrena.
Chega de um mundo sem escrúpulo. Temos de colocar um ponto final.
Um basta de tanta ignomínia!
Nenhuma pessoa suporta tanta malquerença, quando se busca a tranquilidade e a harmonia objetivando um equilíbrio perfeito diante do que nos foi traçado e enfatizado pelo nosso Criador, que idealizou um mundo bem melhor para todos os nossos semelhantes.
Porto Alegre, 14/03/2022
Voltaire Marensi - Advogado e Professor
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