O que você tem feito para reduzir a chance de sua empresa acabar amanhã?
Em vez de se distanciar dos outros players, a solução pode estar em abraçar a concorrência. Em um cenário de crescimento recorde do valor investido em Venture Capital, um exercício sobre como as startups podem levar as grandes corporações brasileiras a uma transformação jamais vista na história do país.
*Felipe Novaes
No momento em que você lê este artigo, com certeza, alguém em algum lugar do mundo está desenvolvendo uma solução, tecnologia ou serviço que vai acabar com o seu negócio da forma como ele é conhecido hoje, ou abocanhar uma fatia considerável do seu mercado, num futuro breve. Quando você se der conta do que está acontecendo, não vai conseguir agir a tempo de se prevenir, porque, atualmente, concorrentes nascem em silêncio e crescem cada vez mais rápido. Em muitos casos, só deixam de ser subestimados quando recebem o primeiro cheque multimilionário – o que tem acontecido cada vez mais cedo na vida de uma startup.
Hoje, esses tipos de negócio, muitas vezes, nem ocupam espaço físico e já nascem totalmente digitais. Seus modelos se materializam de forma ágil, disruptiva e ganham share via redes sociais. Sem fábricas, terceirizam processos na velocidade da luz, contratam parceiros, escutam o consumidor e ajustam produtos, serviços e seus modelos de negócio em um piscar de olhos – quando piscam. Conseguem vender sem sequer ter estoque. Testam demanda, otimizam logística, produzem rapidamente e se articulam com influenciadores. Nascem aos olhos de poucos e, quando você vê, já pertencem aos corações de muitos.
Passamos da Era da Informação à Era da Substituição. Se as áreas de produto costumam falar em obsolescência programada, pode ser estranho que, com tantos dados disponíveis, algumas empresas não consigam reconhecer a sua própria obsolescência. Mas o que fazer para mudar esse cenário, antes que seu negócio desapareça?
Um dos principais caminhos tem sido dar as mãos para aquela que poderia justamente matar o modelo de negócio da sua empresa: a concorrência. Em boa parte dos casos, startups que descobrem maneiras mais eficientes de fazer as coisas.
Em diversos países, as corporações têm buscado superar as diferenças culturais em relação a startups e se aproximar delas para garantir a sobrevivência. Na intenção de vencer a lentidão da máquina corporativa e certas burocracias das empresas gigantes, criam estruturas apartadas para adquirir startups ou investir em novos negócios – o famoso Corporte Venture Capital. Somente este ano, a Microsoft comprou oito empresas, praticamente uma por mês.
O Softbank, um dos maiores investidores em tecnologia do planeta, tinha destinado US$ 5 bilhões a um fundo dedicado à América Latina em 2017 e anunciou há 3 meses outros US$ 3 bilhões, em um novo fundo. O grupo já investiu em Quinto Andar, Madeira Madeira, VTEX, entre outras. O valor das empresas investidas mais do que dobrou em dólares desde os aportes.
A Aliansce Sonae, um dos principais grupos de shopping centers do país, constituiu um braço independente para mergulhar no universo das startups. A partir dessa estrutura, investe em empresas que vão de logística à conexão das lojas com e-commerce. No Magazine Luiza, as fintechs do portfólio de mais de 20 startups adquiridas vão ter destaque ainda maior nos próximos anos. Você tem acompanhado esses movimentos?
Outra estratégia é quando a própria empresa se aventura a criar uma startup do zero, com uma estrutura em separado, para garantir agilidade aos processos e menos amarras. O chamado Corporate Venture Building.
Nessas situações, geralmente contam com a ajuda de Venture Builders, consultorias especializadas em identificar oportunidades de negócio, contratar empreendedores, técnicos, testar soluções e entregar a startup rodando – em certos casos, assumindo até parte do risco do negócio. Uma estratégia que, por contar com times e gestores acostumados à inovação e ao dia a dia de cada setor, aumenta as taxas de sucesso da startup.
No Corporate Venture Building, as soluções nascem e crescem alinhadas à estratégia da empresa. E costumam ser mais acessíveis que as operações de M&A, quando as startups já criadas apresentam maior robustez e valuation. A Nestlé lançou, por exemplo, o Vem de Bolo, plataforma que conecta confeiteiros que fazem seus bolos em casa ao mercado consumidor.
A Ambev criou, antes mesmo da pandemia, o Zé Delivery, aplicativo de entrega de bebidas, baixado 3 milhões de vezes em 2020, mais do que o dobro do ano anterior. Se tivesse feito uma simples parceria com um aplicativo de entregas, talvez não encontrasse condições de saber dados interessantes sobre onde a concorrência tem vendido mais e seus volumes de vendas. No fim das contas, são grandes marcas que encontraram novas possibilidades e souberam inovar com rapidez.
E você? Está tentando fazer tudo sozinho dentro da sua empresa, ou já tem atuado com startups para ajudar a construir seu futuro?
*Felipe Novaes é sócio e cofundador da The Bakery, empresa global de inovação corporativa, e advisor de empreendedores de tecnologia. Atuou com gerenciamento de projetos e novas tecnologias em grandes corporações, como Avon, Syngenta e Vale, e foi cofundador de uma startup de educação em Nova York investida pelo inventor do Cloud Computing.
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