A Oportunidade dos Espertos
Nestes tempos de pandemia, estou aproveitando como todos nós, creio eu, para meditar um pouco. Até porque como dizia um pensador de outrora, o que o arar o semear e o cultivar são para a terra, o pensar, o refletir e o meditar representam para o espírito.
Imbuído deste propósito, em um primeiro momento, acreditei que a pandemia deixaria os homens mais fraternos e solidários como um todo.
Ledo engano!
A pandemia proporcionou que os espertos ficassem mais ligeiros em sua fabulosa e mirabolante tese paranoica de que quanto pior melhor seria para que seus desejos incontidos fossem realizados.
Destarte, a propalação e a disseminação de “golpes na praça” acontecem a todo o momento e a cada movimento que se leia ou, simplesmente, se presencie na imprensa.
O lema dos Três Mosquiteiros, “um por todos, todos por um” – Alexandre Dumas – é uma encenação onírica e irrealizável nos dias atuais.
Cada um tem sua justificativa pronta como um jovem leva seu “tema de casa na ponta da língua”.
É verdade que a pandemia gerou enormes estragos para multifacetários segmentos, embora outros tantos tenham se beneficiado, como por exemplo, comércio de materiais de construção, que quase duplicaram as vendas, como assinalou um estimado colega que lida diretamente com esse setor.
Em razão dos problemas causados, muitos se aproveitaram do momento. Outros, realmente sofreram perdas em suas atividades. E a reparação das perdas, quando não causadas direta e objetivamente por qualquer das partes, é questão delicada e até complexa a ser enfrentada em negociações entre os envolvidos e o judiciário.
O negacionismo, palavra atualmente muito utilizada e difundida – os cognominados neologismos – aproveita para fazer parte do nosso cotidiano.
Todos negam sua parcela de culpa e de participação em um esquema que se tornou avassalador em nossa convivência.
O lucro desenfreado em alguns setores é escandalizante.
Já a miséria que perpassa em alguns segmentos do mercado é estarrecedor.
A vida parece que vive o tempo das Sandálias Negras, às avessas do sentimento expressado no belo poema de Gabriel García Márquez que malgrado outra conotação adotada pelo escritor quando de sua confecção nestes tempos de pandemia, se aplica ás inteiras quando preconiza que o AMANHÃ não existe.... é só uma esperança, uma ideia que talvez não chega, só nos restaria o HOJE.
Será que só nos resta o HOJE em sede de relacionamento comportamental?
Creio, com sinceridade, que é esse o sentimento que assola todos nós quando nos deparamos com determinados segmentos que banalizam seus semelhantes e buscam o lucro HOJE.
Para que esperar o amanhã, se tudo posso agora!
Será este o sentimento e o que pensa a nossa coletividade?
Tenho absoluta certeza que não.
Aqueles que me leem sabe a alusão e também quem me acompanha neste prestigiado meio midiático ao que estou me referindo e a quem pretendo alcançar.
Nestes tempos temos de viver de muita poesia para não perdermos a serenidade que cada um de nós deve rever em seu íntimo.
Para isto, agora, invoco o canto de brado de Camões quando ao se referir nos Lusíadas ao “velho do Restelo”, diz:
Já que nesta gostosa vaidade
Tanto enlevas a leve fantasia,
Já que à bruta crueza e feridade
Puseste nome esforço e valentia,
Já que prezas em tanta quantidade
O desprezo da vida, que devia
De ser sempre estimada, pois que já
Temeu tanto perde-la quem a dá” (Canto IV).
Proponho que todos devemos temer que a crueza e o desprezo pela vida sejam combatidos pelos homens que procuram no AMANHÃ a força de sobreviver num mundo melhor e mais igualitário.
Porto Alegre, 08/02/2021
Voltaire Marensi - Advogado e Professor
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