Lição Pós Pandemia
Início dizendo que não extrairemos, infelizmente, nenhuma lição pós pandemia. Muitos não tergiversarão de me acusar de pessimista ou até de descrente. Talvez em ambos os qualificativos possa ser, eu, enquadrado.
Acontece que os fatos me ajudam a fazer tais constatações. Veja-se o caso do superfaturamento de respiradores artificiais e o desvio de verbas públicas na construção de hospitais de campanha para ficarmos em, apenas, dois exemplos básicos noticiados pela imprensa.
Lupus est homo homini lupus, em vernáculo, “o homem é o lobo do próprio homem”. Esta expressão latina criada por Plauto em sua obra Asinaria, se popularizou mais tarde por Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, no seu livro Do Cidadão. Vide Google. Wikipédia.
Há vários filósofos, economistas, intelectuais, pensadores que procuram antever esta situação. Alguns com extremado otimismo, outros não tanto.
A verdade sobrepaira sobre qualquer projeção futurista diante dos fatos que são relatados no dia a dia, salvante algumas fake news, aliás, também uma expressão que foi utilizada desde o final do século XIX.
Quando há desvio de verbas, sejam públicas ou privadas, aonde a solidariedade deve prevalecer acima de qualquer interesse, ou objetivo egoísta de caráter pessoal, não se pode pensar em querer modificar aquela expressão supra cunhada ao longo dos séculos.
Não afirmo que não existem pessoas corretas e de alto espírito público, mas raro, isto é!
O fato de pessoas ávidas em possuir e que receberam abonos emergenciais sem necessitá-los e não ter o mínimo escrúpulo em afirmar, peremptoriamente, perante veículos de comunicação que não hesitarão em não efetivar sua devolução é suficiente para enfatizar o que aqui quero expressar neste ligeiro ensaio.
Moralidade, ética, bom comportamento é dever, obrigação de todo e qualquer indivíduo colocar em prática perante seus semelhantes, mormente em períodos de extremada desgraça que mutila o mundo inteiro.
E não é só o fato da pandemia que me leva a pensar deste modo. Quando há ódio vincado em “racismo” que são apregoados aos quatro cantos do mundo, é o lugar no qual certas pessoas se prevalecem desta situação para promover saques e tumultos, sem que a causa subjacente seja o real motivo de seu inconformismo. Via de regra, - vejam que já existem algumas seguradoras que dão cobertura contra tumultos, a latere do seguro de property, cujas apólices geralmente cobrem apenas riscos como explosões de gás e quedas de raio - não têm, absolutamente, como finalidade dar proteção à ganância disfarçada em revolta ao pseudo bem-querer de seus semelhantes, mas, apenas, garantir, de modo efetivo, danos ao patrimônio dos segurados que sofrem contra atos totalmente insanos de uma horda arruaceira.
Tais situações me levam a lembrar das Várias Histórias, entre elas, a Causa Secreta de nosso maior escritor, Machado de Assis, ao descrever a figura de um personagem, de nome Fortunato, que em seu egoísmo aspérrimo –, na adjetivação do fundador da Academia Brasileira de Letras -, teria saboreado tranquilo a dor moral longa, muito longa, deliciosamente longa, do amigo Garcia ao beijar o cadáver de Maria Luiza, casada com aquele que, longe de vaidade, ou inveja, apenas se comprazia em ver e se degustar com o sofrimento dos outros.
Infelizmente, é por aí que este mundo vai arrastando suas “lágrimas de crocodilo”.
Porto Alegre, 04/06/20
Voltaire Marensi - Advogado e Professor
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