A retração do comércio exterior brasileiro
Aparecido Rocha
O ano de 2019 ficará marcado pela grande expectativa criada com a chegada do presidente Jair Bolsonaro e sua equipe de ministros. Uma combinação de crise política e econômica desestabilizou a economia do país, impediu crescimento, assustou investidores e atingiu diretamente o comércio exterior brasileiro.
O programa de governo “Caminho da Prosperidade”, apresentado em 2018 pelo então candidato e agora presidente da república, trazia promessas de desenvolvimento do comércio internacional, maior abertura comercial e redução de muitas alíquotas de importação e das barreiras não tarifárias, em paralelo com a constituição de novos acordos bilaterais. Excetuando-se o acordo do Mercosul com a União Europeia, cujos benefícios provavelmente só começarão a aparecer em 2022, o governo, nesse primeiro ano, não conseguiu implementar seus projetos para o comércio exterior. Somado a outros problemas, como a desvalorização cambial, o comex amargou uma redução de 4,6% na corrente comercial (soma das exportações com importações) em comparação ao ano anterior, e levou o país a perder espaço no comércio internacional.
Os números oficiais divulgados pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia mostram que a corrente de comércio brasileira alcançou US$ 401,362 bilhões em 2019, sendo US$ 224,018 bi em exportações e US$ 177,344 bi em importações. Em relação a 2018, houve queda de 7,5% nas exportações e 3,3% nas importações. Esses números contrariaram a projeção do Banco Central, que apontava um crescimento de 10%, atingindo US$ 462 bilhões no ano.
O Brasil é a oitava maior economia do mundo, mas participa com apenas 1,2% do comércio global. Pelos padrões internacionais, é um país protecionista, com uma indústria voltada para o mercado interno e com uma economia relativamente fechada ao comércio internacional. A alta carga tributária, acrescida à instabilidade jurídica e corrupção, encarece demasiadamente os negócios e deixa o país pouco favorável ao comércio. O relatório anual Doing Business para 2020, publicado pelo World Bank Group, que indica a facilidade de se fazer negócios em diferentes economias, coloca o Brasil na 124ª posição do ranking dentre 190 países analisados. O país caiu 15 posições em relação a projeção para 2019. O Chile é o pais da América do Sul melhor classificado (59), seguido por Colômbia (67), Peru (76) e Uruguay (101).
A Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) estima que a balança comercial de 2020 terá uma queda de 3,2% nas exportações e aumento de 6,6% nas importações em relação a 2019. O cenário global não ajuda a melhorar a situação da economia brasileira, visto que o comércio mundial está desacelerando, a disputa de tarifas nos EUA e na China reduz o comércio internacional e os efeitos do Brexit no comércio europeu, que também afeta o Brasil.
Para a sustentação de uma economia globalizada, o Brasil precisa atuar com o maior número de países possíveis e acelerar os acordos comerciais em curso, como o acordo de livre comércio com o Canadá, Coreia do Sul e Singapura e retomar o acordo automotivo com o México, Paraguai e Argentina.
Mesmo com todas as dificuldades, há um grande espaço para o Brasil melhorar sua participação no comércio mundial. Para isso, o governo federal precisa implementar os aludidos projetos do programa “Caminho da Prosperidade” e focar em 2020 como o ano da preparação para a recuperação do comércio exterior brasileiro em 2021.
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