Quanto mais proteína, melhor? Médico expõe mitos e fatos sobre consumo ideal
Produtos fortificados com tal substância têm ganhado cada vez mais espaço
O consumo de proteína com foco na hipertrofia muscular tornou-se uma tendência crescente, amplamente disseminada nas redes sociais e refletida no aumento da oferta de produtos industrializados nos pontos de venda. De barras energéticas a bebidas esportivas, há uma proliferação de alimentos fortificados com proteína. Paralelamente, influenciadores digitais — inclusive alguns com formação médica — têm contribuído para a propagação da ideia de uma suposta deficiência proteica generalizada na população. A análise é do médico nutrólogo e intensivista Dr. José Israel Sanchez Robles.
Segundo o especialista, as diretrizes dietéticas dos Estados Unidos recomendam que adultos saudáveis consumam, em média, 0,8 a 1 grama de proteína por quilograma de peso corporal por dia — o que representa, aproximadamente, 60 a 70 gramas diárias para um adulto com peso corporal médio. Esse valor equivale à quantidade de proteína encontrada em cerca de 240 gramas de peito de frango cozido. No entanto, o especialista ressalta que há um movimento crescente na comunidade científica internacional que defende a elevação dessa recomendação, sobretudo em contextos de envelhecimento, sarcopenia, doenças crônicas e prática regular de atividade física, onde a ingestão proteica ideal pode ser significativamente superior aos valores atualmente estabelecidos pelas diretrizes oficiais.
"As recomendações atuais são fundamentadas em décadas de pesquisa científica e visam atender às necessidades nutricionais básicas da maioria da população. Portanto, mais do que focar exclusivamente na quantidade ingerida, é essencial considerar a qualidade das fontes proteicas e o momento da ingestão ao longo do dia (protein timing), aspectos que impactam diretamente na eficácia metabólica da utilização proteica."
Por outro lado, dados também mostram que o americano médio já consome 35% a 55% a mais do que o recomendado. "Se houvesse uma deficiência protéica generalizada na população, observariamos manifestações clínicas compatíveis com desnutrição proteico-energética, o que não é uma realidade epidemiológica atual”, afirma o Dr. José Israel. No entanto, o médico faz um alerta para populações vulneráveis: “Idosos, mulheres em regimes de restrição calórica e adolescentes constituem grupos que demandam atenção especial, pois apresentam maior risco de ingestão proteica abaixo do recomendado para manutenção da saúde metabólica e funcional."
Os estudos ainda confirmam que praticantes de musculação se beneficiam com 1,5 a 2 vezes a dose diária recomendada. "O aumento exagerado da ingestão proteica — como triplicar as recomendações padrão — tende a oferecer apenas benefícios marginais em contextos muito específicos, como o de atletas de elite. Para indivíduos fisicamente ativos, mas não atletas, que realizam treinamento de força de forma recreacional cerca de três vezes por semana, uma ingestão em torno de 1,2 g de proteína por quilograma de peso corporal ao dia é, em geral, suficiente para atender às demandas de manutenção e síntese muscular", ressalta o nutrólogo.
Dr. José Israel ressalta, contudo, que o entusiasmo excessivo em relação ao consumo de proteínas pode ocultar potenciais riscos e equívocos nutricionais. “Esse comportamento pode resultar em consumo excessivo de carne vermelha, cuja ingestão elevada tem sido associada a um maior risco de doenças cardiovasculares. Além disso, pode haver sobrecarga renal em indivíduos com doença renal crônica não diagnosticada, uma vez que a alta ingestão proteica aumenta a carga de trabalho dos rins. Outro ponto de atenção é a substituição inadvertida de alimentos in natura, como frutas e vegetais, por suplementos proteicos, o que pode levar à redução da ingestão de fibras, vitaminas e fitonutrientes essenciais à saúde metabólica”, como adverte o especialista.
Enquanto a indústria alimentícia se beneficia economicamente da atual “proteína mania”, o Dr. José Israel, assim como outros especialistas da área, recomenda que se priorizem fontes alimentares naturais de proteína, como ovos, peixes e leguminosas. Destaca-se ainda a importância da distribuição equilibrada da ingestão proteica ao longo do dia e a compreensão de que não existe nutriente isolado com efeito milagroso — a saúde é resultado de um padrão alimentar equilibrado e sustentável. “O fator determinante para a saúde metabólica e funcional é o padrão alimentar global, quando associado à prática regular de atividade física”, conclui o nutrólogo.
Compartilhe:: Participe do GRUPO SEGS - PORTAL NACIONAL no FACEBOOK...:
<::::::::::::::::::::>