Vacinação contra a Covid-19 nas crianças: quais são as dúvidas?
Por Patrícia Consorte
Dois anos após o início do isolamento social, a vacinação contra a Covid-19 já está em passos acelerados em quase todo o mundo. Iniciada com foco nos profissionais de saúde e idosos, a proteção foi finalmente liberada para crianças acima dos cinco anos de idade. Mesmo já avançada, muitos pais ainda se encontram confusos e angustiados frente à tanta desinformação sobre o imunizante – gerando uma grande quantidade de dúvidas que necessitam ser sanadas imediatamente, a fim de proteger os pequenos frente aos severos sintomas que o vírus pode causar.
A impressão e preconcepções do SARS-Cov 2 nas crianças mudou drasticamente no último ano. A sensação de que seria um vírus que pouparia os mais jovens, ocasionando quadros leves, que levariam a poucas internações, logo trouxe a verdade sobre seu impacto. De fato, o vírus é mais gentil com as crianças em relação à gravidade dos sintomas – porém, o risco de contaminação é semelhante aos adultos, assim como os riscos de agravamento frente a fatores de riscos, como doenças neurológicas, obesidade, diabetes, asma, e outras doenças que levam a alterações do sistema imunológico.
Mais de 1.400 crianças entre 5-11 anos já faleceram devido à doença no Brasil desde o início da pandemia, segundo dados divulgados pelo Instituto Butantan. Como fator agravante, o isolamento social – mesmo extremamente necessário para conter a propagação do vírus – elevou os índices de problemas de saúde como os citados, assim como outros, como atraso de fala, atraso vacinal e aumento dos acidentes domésticos.
Quando contaminadas, os sintomas mais comuns são febre, tosse, vômitos, diarreia, dor de garganta e de cabeça nos mais velhos. Porém, muitas crianças acabaram evoluindo com a chama síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P), na qual o vírus gera uma inflamação intensa no organismo. A maioria dessas crianças havia tido casos leves da doença, ou mesmo assintomáticas. Os sintomas da SIM-P normalmente aparecem entre 2-4 semanas do grado aguda, gerando febre persistente, rash pelo corpo, conjuntivite e disfunção no coração – fazendo com que muitas crianças precisassem de suporte de terapia intensiva.
Não há dúvidas que a Covid-19 pode gerar óbitos e sequelas em todas as idades. Felizmente, os pequenos hoje possuem imunizantes altamente eficazes para, enfim, controlar a disseminação da doença. Em termos técnicos, nenhuma das vacinas disponíveis para as crianças apresenta qualquer tipo de vírus vivo em sua composição – apenas estimulam indiretamente a produção da imunidade no paciente, sem que gerem, de fato, a doença.
Dentre os efeitos adversos registrados, foram notados sintomas leves, como febre, dor no local da aplicação e dor de cabeça. Vale ressaltar, contudo, que todos esses são comuns de ocorrerem com todas as vacinas e medicações que fazem parte da nossa vida. O benefício é, sem dúvida, bem maior do que o malefício.
Pesquisas internacionais mostram que, com o início da vacinação nas crianças ao redor do mundo, os riscos de internação são reduzidos significativamente. Aquelas que acabam recorrendo aos hospitais são, em sua grande maioria, as que receberam nenhuma dose do imunizante – o que torna inegável o valor e eficácia da vacinação.
No momento atual, em que muitas crianças já não se encontram completamente isoladas e, iniciando a volta às aulas, a preocupação em se atentar ao calendário de vacinação deve ser redobrada. Principalmente, com o avanço extremamente veloz da variante Ômicron, que fez os números de internações dispararem no país. Estamos enfrentando uma enorme sobrecarga dos serviços de saúde infantis, com a necessidade de abrir UTIs específicas para os pequenos contaminados.
Mesmo com uma menor mortalidade se comparado às outras variantes, a situação é drástica. Na gigante escalada de casos, é impossível não aumentar o número de internação e a necessidade de terapia intensiva, com quadros de bronquiolites e laringites. Garantir a vacinação dos pequenos é urgente – não apenas para a própria saúde das crianças, mas para toda a nossa sociedade. Somente assim, poderemos voltar a termos vidas tranquilas, sem a necessidade de serem privadas da convivência com seus familiares ou colegas das escolas.
Dra. Patrícia Consorte é pediatra e especialista em nutrição materno-infantil.
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