COVID-19 causa complicações no coração e pode deixar sequelas
Pacientes que contraíram o coronavírus, mesmo os que tiveram a forma leve da doença, precisam ter monitoramento sistemático
Pessoas infectadas pelo SARS Cov-2 podem ter complicações graves no coração, tanto na fase aguda da doença durante a internação, como também nos primeiros meses da recuperação, após a alta hospitalar. Em pacientes internados, a frequência de acometimento cardíaco na COVID-19 varia entre 7 e 28% (Lancet 2020) sendo esses casos os de pior evolução, com maior necessidade de leitos de terapia intensiva e maior incidência de óbitos. O envolvimento do coração pode ser identificado pela elevação da troponina que é uma enzima liberada na circulação quando há lesão do músculo cardíaco, alterações no eletrocardiograma ou ecocardiograma. As complicações mais comuns da COVID-19 sobre o coração são as miocardites, o infarto do miocárdio, as arritmias cardíacas com predomínio da fibrilação atrial e a insuficiência cardíaca, podendo ser observados fenômenos tromboembólicos como a trombose venosa e o tromboembolismo pulmonar. Em relação ao acometimento cardiovascular, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma análise realizada em 2020 na cidade de Wuhan, na China, revela que cerca de 33% apresentaram comprometimento concomitante do coração, e em 7%, esse acometimento era exclusivo ou predominantemente cardiológico.
Segundo o cardiologista Eneas Rocco, médico do Centro de Reabilitação do Hospital Samaritano Paulista, da Rede Americas, referência no pós-covid, os impactos da doença no funcionamento do coração podem ser acarretados diretamente pela ação do vírus ou de forma indireta pela atuação de substâncias tóxicas chamadas citocinas, que promovem um processo inflamatório, resultando em diversas manifestações nos diferentes órgãos e tecidos. Os pacientes poderão apresentar sintomas variados como a dor torácica, tonturas, cansaço e falta de ar. Tem sido observada frequentemente a presença de taquicardia, ou seja, o aumento da frequência dos batimentos cardíacos, de forma persistente, após a alta, podendo estar associada à queda da pressão arterial sistêmica.
O Dr. Felipe Malafaia, cardiologista e coordenador do programa de reabilitação, explica que nos casos de miocardite existe uma perspectiva de remissão da enfermidade, ou seja, de um controle dos sintomas. Poderá também haver persistência das lesões, e nesses casos é necessária a manutenção do uso de medicamentos e controle por meio de exames específicos. Os pacientes que tiveram COVID-19 precisam de monitoramento sistemático para evitar a reinternação, mesmo os que tiveram quadros leves da doença. Segundo dados preliminares do estudo Coalisão VII realizado no Brasil, cerca de 40% que ficaram na UTI foram reinternados. Além disso, 1 em cada 4 pacientes que foram intubados morrem nos primeiros seis meses da doença. Por esta razão o monitoramento dos pacientes que tiveram quadros mais graves é essencial. Há relatos de que mesmo em casos leves da doença pode haver complicações cardíacas e de outros órgãos nos primeiros meses, após a fase aguda da doença.
Tem-se mostrado de grande importância na recuperação desses pacientes que permaneceram internados com quadros de COVID-19, em especial nos casos mais graves e com maior permanência hospitalar, a complementação do tratamento farmacológico através da reabilitação. Seu propósito nesses pacientes é a ativação da resposta sistêmica ao processo inflamatório decorrente da doença e a reversão da disfunção endotelial causada pela mesma. No Samaritano Paulista os pacientes são submetidos a uma avaliação inicial com o cardiologista do programa de reabilitação e a diversos testes funcionais como o de caminhada de seis minutos, da cadeira de 30 segundos, além de outros de mensuração da força muscular, a fim de verificar o estado funcional de ingresso no programa.
Durante as sessões de treinamento físico aplicado a esses pacientes são observados diversos sinais vitais como a frequência cardíaca, a pressão arterial, a saturação periférica de oxigênio, além da verificação do grau de cansaço determinado pelos exercícios e a eventual presença de outros sintomas limitantes como a dor torácica, tonturas, turvação visual, perda do equilíbrio, entre outros. A prescrição do treinamento físico deve ser implementada de forma gradual com exercícios de leve intensidade no início e uma gradual progressão de intensidade com o passar dos treinos afirma a Dra. Amanda Teixeira, médica que integra a equipe do programa de reabilitação. O serviço também dispõe do recurso da telemedicina, através do qual é possível o monitoramento do paciente à distância. Essa prática é particularmente útil nos casos em que o paciente não tem condições de vir presencialmente à unidade e mostra-se bastante promissora, sendo utilizada em diversos países com comprovada segurança e custo-efetividade conforme atesta revisão sistemática de Clark e colaboradores (Alternative Models of Cardiac Rehabilitation - Eur.J.Prev.Cardiol 2015,22,35-74)
Sobre o Americas:
O Americas é um grupo médico-hospitalar composto por hospitais-referência e clínicas especializadas. Está presente em cinco estados brasileiros – Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte – e no Distrito Federal, totalizando mais de 2,6 mil leitos. O Americas Serviços Médicos faz parte do UnitedHealth Group Brasil.
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