SBU-SP alerta para o diagnóstico precoce do câncer de bexiga no mês de combate ao tabagismo
Cerca de 50% dos tumores vesicais são causados pelo hábito de fumar. O fumante tem um risco de 4 a 7 vezes maior de desenvolver a doença. Além disso, segundo a (OMS), o tabagismo pode aumentar o risco de desenvolvimento da forma grave da Covid-19
Com o objetivo de alertar a população sobre os riscos do tabaco e a importância do diagnóstico precoce no tratamento do câncer de bexiga, acontece em todo Estado de São Paulo, a terceira edição da Campanha Maio Vermelho, no mês de combate ao tabagismo. Esta é uma idealização da Sociedade Brasileira de Urologia (secção SP). Além disso, o World Bladder Cancer Month, organizado pela World Bladder Cancer Patient Coalition, também esse mês, esclarece a influência do tabagismo e os efeitos do cigarro para a saúde urológica.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o tabaco afeta os pulmões de forma a aumentar o risco de desenvolvimento da forma grave da Covid-19. De acordo com pesquisa publicada no Chinese Medical Journal, fumantes têm 14% mais chances de desenvolver pneumonia por coronavírus.
Já o câncer de bexiga – também associado ao tabagismo, está em 7º lugar no Brasil dentre os tipos de tumores mais comuns na população. Dados publicados pelo INCA – Instituto Nacional do Câncer, mostram que, em 2020, foram cerca de 10.640 mil casos, com 4.517 óbitos. Só em SP, a taxa é de 13,09 casos para cada 100 mil homens. A estimativa de novos casos para 2022 é de 7.590 casos em homens e de 3.050 em mulheres.
Paralelamente, levantamento estatístico realizado pela Sociedade Brasileira de Urologia de São Paulo, em parceria com instituições de saúde responsáveis pelo atendimento de pacientes do SUS, revela que a pandemia acabou provocando, indiretamente, uma redução média, e grave, de 26% no diagnóstico de novos casos de tumores de rim, próstata e bexiga. Os dados compararam a identificação de novos casos de câncer gênito-urinário nos anos de 2019 e 2020. Mais especificamente em relação ao tumor de bexiga, o Hospital das Clínicas da UNICAMP, por exemplo, observou uma queda de 52% no diagnóstico de novos casos e no Hospital AC Camargo Câncer Center, a redução foi de 24%, o que é preocupante e serve de alerta para a busca de orientação e acompanhamento médico.
“No caso de suspeita do câncer de bexiga e sobretudo quem já está em tratamento da doença ou a descobriu recentemente, ainda que estejamos vivendo um momento crítico, a recomendação é que a investigação diagnóstica e o tratamento não sejam interrompidos”, diz o vice-presidente da SBU-SP, o urologista Dr. Marcelo Wroclawski.
Abaixo, o especialista esclarece dúvidas a respeito dos fatores de risco, se está relacionado ou não à hereditariedade, sintomas e tratamentos, entre outros pontos.
Podemos afirmar que o cigarro, entre outros fatores, está intrinsecamente ligado ao possível aparecimento da doença?
O tabagismo é o fator de risco mais importante para o câncer de bexiga. Estima-se que o hábito de fumar seja responsável por cerca de 50% dos tumores vesicais e fumantes tem de 4 a 7 vezes mais chance de desenvolver esta neoplasia. Isto ocorre porque, tanto no cigarro quanto em sua fumaça, há mais de 7 mil substâncias químicas e sabemos que, pelo menos 70 delas, são carcinogênicas, favorecendo o aparecimento de tumores por meio de danos às células e seus genes. No caso da bexiga, o risco é aumentado pois estes compostos químicos, ao serem inalados, são absorvidos pelo pulmão, caem na corrente sanguínea e serão filtrados pelo rim, que produzirá uma urina “contaminada”. Como a bexiga é um reservatório de urina, estas substâncias passarão horas em contato com a superfície vesical, propiciando o ambiente adequado para causar os danos celulares e o consequente aparecimento de tumores.
Quais os principais fatores de risco?
Além do cigarro, a idade é um fator significativo. Mais de 70% dos tumores são diagnosticados após os 65 anos e a idade mediana ao diagnóstico é de 73 anos. Em homens a incidência do câncer de bexiga é de três a quatro vezes maior do que em mulheres. Outro ponto é a raça: brancos tem aproximadamente duas vezes mais risco de desenvolverem o problema do que negros.
Além disso, há fatores ocupacionais relacionados ao câncer de bexiga: compostos químicos chamados aminas aromáticas, dentre outros, favorecem o aparecimento do câncer de bexiga. Então, trabalhadores de alguns setores da indústria estariam em maior risco, como os da tinta, de corantes e da borracha.
Algumas medicações também podem estar envolvidas no surgimento do câncer de bexiga. Dentre eles, o mais comumente relacionado é um quimioterápico chamado ciclofosfamida, que também aumenta o aparecimento da doença.
Problemas crônicos da bexiga, ou seja, situações que causam inflamação no órgão, estão correlacionadas com risco. Dentre elas, infecções urinárias constantes e, principalmente, a presença de pedras na bexiga.
O câncer de bexiga é mais comum em homens? Por quê?
Sim. A chance de um homem desenvolver câncer de bexiga ao longo da vida é de aproximadamente 1 em 25-30 e da mulher é de 1 em praticamente 90. Isso provavelmente ocorre porque indivíduos do sexo masculino estão, ou estiveram, mais expostos a fatores de risco, como o próprio tabagismo e a exposição aos compostos químicos no ambiente de trabalho.
O câncer de bexiga pode estar associado à hereditariedade?
Este tipo de tumor não tem muita correlação com hereditariedade. Entretanto, existem algumas síndromes genéticas raras que tem por característica aumentar a predisposição ao aparecimento de tumores. Uma destas, a mais comumente associada ao tumor de bexiga, se chama Síndrome de Lynch. Indivíduos acometidos tem maior risco de desenvolverem tumores intestinais, de útero, estômago, ovário e pâncreas, dentre outros.
Além do sangue na urina, quais outros sintomas as pessoas devem observar?
O principal sinal relacionado aos tumores de bexiga é a presença de sangue visível na urina. Entretanto, a doença também pode causar alteração do padrão urinário, provocando sintomas chamados de armazenamento, ou irritativos, que são o aumento da frequência com que o indivíduo urina, tanto de dia quanto de noite, a necessidade de urinar com urgência, além de dor/ queimação ao urinar. Num cenário de doença mais avançada, o paciente pode apresentar dor nas costas e emagrecimento.
Quais os tratamentos iniciais?
Uma vez suspeitado, o paciente deverá ser submetido a um procedimento chamado Cistoscopia, que é uma endoscopia das vias urinárias. Ou seja, por meio da uretra (canal da urina), introduz-se uma câmera que identificará uma eventual lesão no interior da bexiga. Na maioria das vezes, neste mesmo ato, poderá se realizar a ressecção do tumor, que vai para análise do patologista. Com isso saberemos se é ou não maligno, o tipo histológico (qual tumor maligno) e o estadiamento local, ou seja, até qual camada da bexiga o câncer acomete.
Se a lesão não invadir o músculo da bexiga, o que antigamente era chamado de tumor superficial, muitas vezes esse procedimento já é curativo e, em alguns casos, só é necessário complementar a terapêutica com instilações de algumas substâncias na bexiga durante o seguimento pós-operatório. Felizmente, pouco mais de metade dos casos são diagnosticados neste estágio e a sobrevida neste cenário é superior a 95% em 5 anos.
Já quando o tumor invade a musculatura da bexiga, o câncer é mais avançado e o tratamento precisa ser mais agressivo, envolvendo muitas vezes a associação de quimioterapia e a necessidade de remoção da bexiga. Aproximadamente 1/3 dos casos são diagnosticados nesta fase. Como a doença ainda está restrita à bexiga, o câncer ainda é curável na maioria das vezes, com uma sobrevida de 70% em cinco anos.
Além de evitar e parar de fumar, qual outra prevenção é possível tomar?
Após cessar o tabagismo por dez anos, o risco de câncer de bexiga cai pela metade. Essa seria a principal prevenção. Além disso, outras medidas são: proteção adequada no ambiente de trabalho em que há exposição às aminas aromáticas, beber muito líquido e uma dieta rica em frutas e vegetais. Apesar da evidência não ser robusta, é útil para saúde cardiovascular e ajuda na prevenção de outros tumores.
Dicas para parar de fumar:
- Evite lugares com muitos fumantes;
- Quebre a rotina (se você fuma ao tomar café após o almoço, tente evitar, varie a bebida, altere os horários e locais das refeições);
- Concentre-se em outras atividades;
Busque apoio da família e amigos;
- Comece a guardar todo o dinheiro que você gastaria com o cigarro e use-o como motivação;
- Se tiver uma recaída? Não desanime, o importante é nunca desistir.
Para mais informações, acesse o novo portal, acesse: sbu-sp.org.br
A SBU-SP
A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) é uma entidade médica, com 90 anos de fundação, que congrega mais de 4.500 mil médicos associados em todo o País, sendo 30% relativos ao Estado de São Paulo. Sem fins lucrativos, representa os profissionais da especialidade de Urologia clínica e cirúrgica, responsável pelo diagnóstico e pelo tratamento das enfermidades do sistema urinário, de ambos os sexos, e do sistema genital masculino. Realiza desde 2004 campanhas anuais de conscientização do câncer de próstata para aumentar a sobrevida de pacientes acometidos pela doença.
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