Probióticos podem ajudar nos possíveis efeitos colaterais do tratamento precoce para CoVID19
Alguns medicamentos e a própria doença causam problemas gastrointestinais
Após mais de um ano vivendo em meio à pandemia de Covid-19, os médicos e cientistas ainda trabalham na busca por uma cura contra esse vírus tão infeccioso. Em meio a essa espera, muitas pessoas passaram a optar pelo tratamento precoce para a Covid19, feito à base de medicamentos sem comprovação científica que justifique o uso, quer seja na prevenção ou no tratamento da doença.
Como exemplo dos medicamentos que fazem parte desse chamado “kit Covid”, é possível citar a ivermectina e a hidroxicloroquina. O problema, porém, é que eles também podem causar efeitos colaterais durante e após o seu uso. Dentre essas consequências, é possível citar náuseas, dores abdominais, anorexia, astenia e, principalmente, a diarreia.
Apesar do início da vacinação, não existe uma medicação efetiva para o tratamento do novo coronavírus.
Disbiose e o SARS-CoV-2
Não são apenas os pacientes que aderem ao uso do “kit Covid-19” que podem ter de enfrentar problemas gastrointestinais. Aqueles que acabam tendo a doença também relatam sintomas similares.
Isso pode acontecer devido às alterações que o vírus SARS-CoV-2 pode causar na microbiota intestinal (chamada também de flora intestinal). Um estudo recente feito com mais de 200 pessoas com Covid-19 apontou que quase metade dos pacientes apresentou, pelo menos, uma queixa gastrointestinal. Já sete deles manifestaram a doença somente com sintomas digestivos (3%). Entre as manifestações gastrointestinais, diarreia chegou em 29,3% dos casos.
Ainda de acordo com o estudo, o SARS-CoV-2 provoca diarreia por afetar indiretamente ou diretamente o sistema digestivo por meio de uma resposta inflamatória. E também pode causar distúrbios diretamente na microbiota.
O papel dos probióticos
De acordo com o médico Bruno Paes Barreto, coordenador da região norte da Sociedade Brasileira de Pediatria, é preciso ficar atento aos fatores que podem comprometer o sistema imunológico, e entre eles, está o risco de doenças infecciosas como a Covid-19.
“Vários fatores podem influenciar na imunidade, mesmo em adultos previamente saudáveis. Por exemplo, podemos citar as doenças virais, como o HIV ou a Covid-19. Elas provocam uma diminuição das células de defesa, como os linfócitos, causando impacto na resposta imunológica celular diretamente e, indiretamente na produção de anticorpos. Por isso, além dos problemas respiratórios, o novo coronavírus pode causar uma imunidade diminuída e, com isso, infecções oportunistas podem surgir, como uma pneumonia bacteriana ou fúngica”, exemplifica.
Mas o que é possível fazer pra prevenir essas complicações de saúde? Paes Barreto explica que aderir a hábitos saudáveis como uma dieta balanceada e rica em macro e micro nutrientes é o primeiro passo. Além disso, vale tentar obter um equilíbrio emocional e seguir estratégias específicas para imunomodulação, como suplementar algumas vitaminas e aderir ao uso de probióticos, que são microrganismos vivos que quando ingeridos em quantidade adequada trazem benefício a saúde do indivíduo.
Em relação aos probióticos, é importante começar o uso desde a infância, pois o sistema imunológico das crianças vai amadurecendo gradativamente. “Ao longo da nossa vida temos variações no sistema imunológico que são chamados de variações fisiológicas. Elas começam na infância e todas as crianças possuem um grau de imunodeficiência, pois o sistema imunológico está em formação. Por isso a infância é o principal alvo de campanhas de vacinação”, salienta Paes Barreto.
Como exemplo de probióticos aliados da saúde intestinal, pode-se citar as cepas dos gêneros lactobacilos e bifidobactérias. Elas são capazes de reverter o processo de disbiose induzido pela infecção do novo coronavírus no intestino, agindo em sintomas como diarreia e a colite.
Dentre as cepas probióticas mais bem estudadas em todo o mundo, sobretudo relacionado a imunomodulação, é possível destacar o Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®). Segundo estudos científicos, essa cepa é comprovadamente eficaz e segura para todas as faixas etárias (incluindo crianças e idosos) e gestantes.
Dr. Bruno Paes Barreto – Pediatra e Imunologista – Doutor em Ciências pela Universidade Federal de São Paulo e Membro do Comitê de Alergias na Infância da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia.
Referências bibliográficas:
Lei P. et al. Clinical Characteristics of COVID-19 Patients With Digestive Symptoms in Hubei, China: A Descriptive, Cross-Sectional, Multicenter Study. The American Journal of Gastroenterology, 2020.
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32287140/
Ahmad U. et al. SARS-CoV-2 microbiome dysbiosis linked disorders and possible probiotics role. Biomedicine & Pharmacotherapy, 2020.
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0753332220311392?dgcid=rss_sd_all
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