Pediatras recebem informações atualizadas sobre o coronavírus
O Departamento Científico de Infectologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) o documento científico “Novo coronavírus (COVID 2019)” para compartilhar com a comunidade de pediatras brasileiros as informações mais atuais já disponíveis na literatura médica e oferecer uma visão crítica dos dados disponíveis sobrea epidemia.
Segundo os autores, é preciso reconhecer que as informações disponíveis até este momento são preliminares e ainda há muito que aprender sobre o comportamento deste novo coronavírus, particularmente no que diz respeito à sua transmissibilidade, potencial virulência, e espectro de manifestações clínicas.
A exemplo dos surtos causados por dois outros coronavírus respiratórios humanos que surgiram nas últimas duas décadas (SARS-CoV, MERS-CoV), o novo coronavirus COVID2019 causa doença respiratória potencialmente grave em alguns indivíduos.
Após o relato pelas autoridades sanitárias da China de milhares de casos confirmados e centenas de mortes atribuídas ao novo coronavírus COVID2019, assim como detecção de casos em diversos países, acometendo principalmente adultos acima de 60 anos e portadores de comorbidades, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou, em 30 de janeiro de 2020, o surto como sendo uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII).
O genoma viral foi rapidamente sequenciado, mostrando que ele é 75% a 80% idêntico ao SARS-CoV e ainda mais intimamente relacionado a coronavírus de morcegos. O conhecimento detalhado das características antigênicas deste novo coronavirus é de crucial importância, pois viabiliza o desenvolvimento de testes diagnósticos que permitam a rápida identificação do vírus, assim como o desenvolvimento de ensaios sorológicos para mapear a prevalência da infecção em uma determinada comunidade, além de constituir etapa fundamental para o desenvolvimento de antivirais específicos e vacinas em um futuro próximo.
“Após a publicação de estudo descrevendo a ocorrência de transmissão do novo coronavírus COVID2019 por indivíduos infectados assintomáticos, evidências recentes questionaram a qualidade dos achados do referido estudo, sugerindo que a transmissão só ocorra a partir de casos com sinais e sintomas de doença do trato respiratório e não em situações em que a infecção é assintomática”, diz trecho do documento.
TRANSMISSÃO – As evidências em relação ao padrão de transmissão deste novo coronavírus ainda não são claras. A transmissão dos outros coronavírus humanos de uma pessoa para outra ocorre principalmente por via aérea, por gotículas ao falar, tossir e espirrar; por contato próximo como ao tocar ou apertar as mãos ou ao tocar um objeto contaminado e em seguida levar a mão à boca, nariz, olhos. A transmissão oro-fecal foi raramente reportada.
“Já a transmissão deste novo coronavírus COVID2019 parece ocorrer principalmente pelo contato com uma pessoa infectada, através de gotículas respiratórias geradas quando a pessoa tosse, espirra, ou por gotículas de saliva ou secreção nasal. Ainda não se determinou o tempo de sobrevida deste novo coronavírus em ambientes e objetos e se existe transmissão por fômites”, explicam os especialistas.
O período de incubação estimado do novo coronavírus 2019-nCoV é de aproximadamente cinco dias, apesar de existirem descrições de casos com até duas semanas desde a infecção até o início dos sintomas.
“Ainda não está totalmente claro quando se inicia o período de transmissibilidade, sendo que a maioria dos casos secundários ocorrem a partir de indivíduos sintomáticos. Relatos preliminares sugerindo a possibilidade de transmissão a partir de indivíduos assintomáticos foram recentemente questionados em relação à metodologia utilizada, não sendo claro neste momento se existe esta forma de transmissão associada ao novo coronavírus 2019-nCoV”, destaca o documento da SBP.
CASOS – Até o dia 12 de fevereiro de 2020, foram contabilizados 45.213 casos e 1.118 mortes em todo o planeta, o que resultaria em uma taxa de letalidade de aproximadamente 2,2%16. Entretanto, na avaliação da entidade, uma tendência de subnotificação dos casos leves, além da presença de infecções assintomáticos, pode levar a um provável viés de superestimação destas taxas.
Todas as mortes, exceto duas (uma nas Filipinas e a outra em Hong Kong), ocorreram na China, sendo que 80% delas ocorreram em indivíduos com mais de 60 anos e 75% em pacientes com relatos de comorbidades. Dos 45.213 casos reportados até o dia 12 de fevereiro, 44.690 (99% do total de casos) ocorreram no território continental da China e os outros 523 ( de 1%) distribuídos em 28 países.
“Não há até o momento da edição desse texto nenhum caso confirmado no Brasil ou em qualquer outro país da América do Sul e Central, tampouco no continente Africano. Deve-se lembrar que as características climáticas no hemisfério sul neste momento do ano (elevadas temperaturas e umidade) não constituem condições que facilitam a transmissão e o “fitness” dos vírus respiratórios de uma maneira geral, antecipando comportamento semelhante para este novo coronavírus COVID2019”, frisa o documento.
MANIFESTAÇÕES – De acordo com os especialistas, ainda não existe um conhecimento suficiente do comportamento dos pacientes infectados com o novo coronavirus COVID2019 que descreva toda a gama de manifestações clínicas associadas a ele.
Neste período de pouco mais de um mês de circulação, já houve a descrição desde infecções assintomáticas, quadros leves de infecção de vias aéreas superiores até casos graves, fatais, com insuficiência respiratória e pneumonia. A maior parte dos relatos da apresentação clínica de pacientes com infecção confirmada pelo COVID2019 está limitada a casos de indivíduos hospitalizados com pneumonia.
Os sinais e sintomas frequentemente relatados incluem febre (83% a 98%), tosse (76% a 82%) e mialgia ou fadiga (11% a 44%) no início da doença. Dor de garganta também foi relatada em alguns pacientes no início do curso clínico. Sintomas menos comumente relatados incluem manifestações gastrointestinais, cefaleia e hemoptise.
“Chama a atenção nas descrições de casos iniciais a quase ausência de casos sintomáticos em lactentes, crianças e adolescentes, grupos em que habitualmente se concentra grande parte dos casos de infecções respiratórias virais. A idade média dos pacientes acometidos é de 49 a 56 anos”, observam os especialistas.
De acordo com o último boletim divulgado pelo Ministério da Saúde, no caso de pacientes que atendam à definição de caso suspeito de infecção pelo COVID2019, deve-se proceder à coleta de amostras do trato respiratório. A confirmação diagnóstica é feita por técnicas de reação de cadeia de polimerase em tempo real (RT-PCR) e sequenciamento genômico.
TRATAMENTO – Segundo o documento, ainda não existem medicamentos específicos para o tratamento da infecção pelo COVID2019. Entretanto, medidas de suporte devem ser sempre implementadas. Os pacientes com quadros leves devem ser orientados a permanecer em isolamento domiciliar, acompanhados e monitorados de forma rigorosa, pelo risco de piora e deterioração clínica principalmente na segunda semana da doença.
“Estes pacientes deverão receber orientações de controle de infecção, prevenção de transmissão para contatos e sinais de alerta para possíveis complicações e um acesso por meio de comunicação rápida deve ser providenciado para eventuais dúvidas ou comunicados”, reforçam os especialistas.
O uso de antirretrovirais (lopinavir/ritonavir), previamente testados em pacientes com SARS-CoV e MERS-CoV, assim como o uso do Interferon-α2b inalatório, estão em investigação. O remdesevir também foi usado em um paciente nos Estados Unidos.
“Importante enfatizar que não temos ainda nenhum resultado concreto de segurança e/ou de eficácia destas iniciativas terapêuticas que estão sendo implementadas, a maioria delas em protocolos em investigação”, ressaltam os especialistas.
MEDIDAS DE PREVENÇÃO – O documento da SBP salienta que as medidas de prevenção e controle de infecção do Ministério da Saúde devem ser seguidas a fim de prevenir a propagação dos vírus respiratórios em geral.
Sempre que possível, os pacientes suspeitos ou confirmados devem ser colocados em quartos privativos com ventilação adequada. Na impossibilidade devem estar em área isolada junto com outros casos suspeitos ou confirmados de infecção humana pelo COVID2019.
No caso de separar em uma mesma enfermaria ou em outra área, grupos de pacientes, é fundamental que seja mantida uma distância mínima de um metro entre os leitos dos pacientes. O quarto ou área previamente estabelecida para isolamento deve ter a entrada sinalizada com um alerta referindo para doença respiratória, a fim de limitar a entrada de pacientes, visitantes e profissionais que estejam trabalhando em outros locais do hospital.
“O acesso deve ser restrito aos trabalhadores da saúde (profissionais da assistência e de apoio) envolvidos no atendimento e serviços de apoio e deve-se ter uma relação de todos os trabalhadores e outras pessoas que entrarem no isolamento”, finaliza o documento.
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