Instrumento vital de conhecimento, viajar é preciso
Edson Lopes*
As viagens impactam diretamente na construção do saber humano. Por mais que a frase anterior pareça clichê, quando falamos em viagem, na maioria das vezes logo pensamos nos efeitos que causam nos negócios, turismo e no lazer. Sim, são áreas ligadas e muito importantes para a economia dos países e até para os próprios viajantes. Porém, mesmo sabendo da relevância de todas elas, talvez nos esqueçamos de falar de uma das principais funções de viajar: a de garantir e ampliar o acesso ao conhecimento da história, cultura e culinária de uma nova região.
E este processo de conhecimento não começa apenas durante a viagem. Ele, geralmente, se inicia com uma simples busca sobre o destino nos livros, guias, revistas e até na internet. Enquanto montam o planejamento, os viajantes costumam sair em busca dos melhores roteiros a seguir, dos pontos turísticos do local e até das curiosidades que a região apresenta. Sem contar nas exposições, galerias e até construções que os turistas podem se deparar durante a viagem e com a possibilidade de encontrar muitos destes locais com o acesso gratuito.
O que pode parecer óbvio e simples, ainda segue como importante barreira à cultura e a informação e não pertence à realidade da maioria da população brasileira. Cerca de 90% dos brasileiros têm renda inferior a R$ 3,5 mil por mês e 70% ganham até dois salários. Com uma inflação acumulada de 11,73% nos últimos doze meses, turismo é um luxo acessível para menos de 10% da população. Tendo ônibus/carro e avião como principais modais de transporte de passageiros, viajar também está ainda mais inacessível. Em 2021, o óleo diesel S10 teve uma alta de 64,7%; a gasolina subiu 68,6%; o querosene de aviação teve um aumento de 77% no preço do metro cúbico. Segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC), os preços das passagens aéreas tiveram um aumento de 19,28% no ano passado. Viajar ficou ainda mais caro para uma população cada vez mais empobrecida, com o seu poder aquisitivo sendo corroído pela inflação. Na prática, podemos ter toda uma geração de brasileiros que ficará sem acesso à mobilidade, a viajar e ao conhecimento que o turismo proporciona.
Contudo, mesmo com todas as dificuldades, o setor de turismo tem se recuperado do encolhimento dos anos de pandemia, onde teve um recuo de 59% no faturamento. De acordo com dados disponibilizados pela FecomercioSP — Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo —, o turismo nacional cresceu 22,9% em janeiro deste ano em comparação com o mesmo mês de 2021. O acumulado dos últimos 12 meses é de 18,8%. Muito longe ainda da movimentação de passageiros em 2019, mas com uma perspectiva positiva – que poderia ser ainda melhor não fosse o cenário econômico degradado por conta da pressão inflacionária.
Considerando os desafios, precisamos buscar alternativas rápidas para estimular o turismo nacional e dar acesso para os 180 milhões de brasileiros que hoje estão excluídos do mercado de turismo. E uma maneira acessível está na abertura do mercado de transporte regular rodoviário intermunicipal e estadual. Desde que a ANTT – Agência Nacional de Transporte Terrestres passou a conceder autorizações para que novos players operassem no mercado, vimos uma diminuição no preço médio pago por km rodado nos trechos com mais competição. O argumento de que transporte é um serviço público não pode ser utilizado para garantir monopólios ou oligopólios – exatamente por ser um serviço que interessa diretamente à massa de brasileiros, é fundamental que haja mais competidores, porque é a concorrência que irá massificar a prestação de serviço e baratear custos. Ou seja, dar mais acesso para que brasileiros possam se deslocar entre nossas cidades, com preços acessíveis, estimulando o turismo e dando acesso à informação. Turismo é cultura e cultura é educação. Precisamos incluir mais e mais pessoas nesse mercado, para que possamos ter um país melhor.
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